O chutney, aqui apresentado com pernil assado e farofa... |
Estou nesses dias no meio de um tratamento longo para sair de uma crise de dores nos ombros, cotovelos, joelhos e calcanhares. Sei, sei, cheguei aos cinquenta, mas como já disse antes, não é por isso. É que tenho há muitos anos aquela velha doença que aflige muitos bancários, Ler/Dort. Junto com isso, para não me sentir solitária, início de artrose nos joelhos e estouro de esporão de calcâneo nos dois pés.
Vocês devem estar imaginando, cutucando aí os seus botões e os seus próprios problemas de saúde, o que tem a ver comida com as dores alheias? Mas eu explico. Estou melhorando, claro, mas não posso cozinhar muito, nada de esforço. Também não dá para caminhar ainda nem fazer exercício físico, pelo menos por enquanto. (E por um tempinho, tenho uma boa desculpa, o que me alivia). Digitar, então, só o básico e olhe lá.
Então, estou às voltas com fisioterapia, remédios, massagens, peteca nos pés, bolsa de água quente, sebo de carneiro, injeção de corticóide e o principal: limite! Nada de exageros! O que convenhamos, para alguém muito ativa como eu, é mesmo que amarrar numa cadeira. Mas, sou otimista por convicção e já saí de outras crises, então, estou no processo. Enquanto isso, para minha alegria, este blog tem sido convidado para entrevistas e conversas sobre comida, afetividade, receitas e todo o universo bom que ronda os que amam a gastronomia.
Como não posso dar conta de tudo, tenho contado com a ajuda inestimável da minha funcionária Ivone, que está pegando no pesado, como misturar a massa ou mexer alguns ingredientes. Levantar panela, passar o rolo, picar verduras, dona Ivone. E eu, com esses olhos grandes bem abertos, fico ao lado, colada e de olho, provando e finalizando o que for preciso. Ainda bem que ela é muito paciente comigo, pois senão...
Por esse motivo, ando atrasada com as receitas que vira e mexe, consigo testar aqui em casa. E ontem recebi a visita de dois profissionais da TV Acre, o Josué (mago das câmeras) e a jornalista Lyslane, muito competente e simpática. Não tenho a menor afinidade com as câmeras. Confesso meu total pavor e inibição, embora, para minha sorte, ninguém perceba.
No movimento estudantil e nas greves de bancários, em que tantas e tantas vezes peguei o microfone para fazer alguma intervenção, só faltava morrer. A boca secava, o ar faltava e me enchia de marcas vermelhas no peito, pelo menos até a primeira fala. Aí, depois disso, seria capaz de pegar em armas. Minha grande vantagem é que nunca ninguém percebia nada, a não ser as pessoas mais íntimas que sabiam e sabem até hoje desta minha característica, que estou aqui a anunciar. Portanto, imaginem meu começo de agonia.
Mas, aos poucos, fui me soltando e passei um tempo bem agradável com eles, que muito pacientes, iam perguntando, ajeitando o microfone, mostrando a mesa e os quitutes preparados para a matéria. Costumo dizer que a comida caseira tem a marca do acolhimento e da afetividade. Fico feliz quando faço algum regalo para um amigo ou mesmo quando passo na portaria do meu condomínio ( como ontem) e aviso que tem bolo. E quando o vigia veio pegar uma porção de pão de mel fresquinho e um sanduíche de pão integral caseiro com pernil e chutney de cupuaçu, penso que dividi um pouco o prazer que tenho em cozinhar.
E quando sentamos à mesa, eu, Lyslane, o Josué e a Ivone, para experimentar os sabores ali sugeridos, fiquei feliz em ouvir os hummm!! Hummm! tão esperados. Portanto, mãos à obra: é rápido, é fácil e em caso de dúvida, é só pedir socorro. Servi pão de mel (cuja receita você acessa aqui:http://mesanafloresta.blogspot.com.br/2013/08/pagando-uma-divida.html), pão integral (cuja receita está aqui:http://mesanafloresta.blogspot.com.br/2012/08/o-primeiro-pao-gente-nao-esquece.html), pernil assado desfiado, chutney de cupuaçu, pasteizinhos integrais recheados de pupunha e de banana comprida (usei a massa da Bela Gil, veja box abaixo) e para beber, chocolate quente (que nessa hora já estava morno) com claras batidas com açúcar e suco de limão, uma receita que faço desde criança.
O pão de mel e também alguns dos pratos servidos, como os pasteizinhos integrais recheados de pupunha e banana comprida... |
Nas receitas de pão de mel e pão integral, você pode se quiser, fazer pequenos acréscimos ou substituições, como por exemplo, usar apenas cacau em pó no pão de mel (eu não tinha chocolate em pó no dia) e deixá-lo mais escurinho. O pão integral pode ser moldado inteiro ou em pequenos pãezinhos, como aqui e pode ou não levar algumas sementes, como chia e linhaça ou pedaços de castanhas e nozes, ou aveia e passas. Fica a seu critério e gosto.
O chutney é um molho agridoce de origem indiana, fresco ou em forma de conserva, não muito utilizado aqui por nós, mas verdadeiramente uma delícia. No seu preparo, são utilizadas frutas ácidas e temperos como gengibre, canela e pimentas são muito comuns na sua preparação. Há também os de coco, tamarindo, manga, enfim, o céu é o limite para experimentar seu sabor entre picante, doce e levemente salgado. Resolvi fazer uma versão usando nosso cupuaçu fresco, in natura, cuja textura final lembrou um pouco manga cozida. Ficou muito bom!
O chutney de cupuaçu, pronto para rechear os sanduíches de pernil no pão integral... |
e também para acompanhar os espetinhos de banana comprida grelhada polvilhada com açúcar de confeiteiro, para dar uma graça... |
Não fiz o teste com a polpa do cupuaçu processada. Caso não consiga a fruta fresca, sugiro usar apenas metade do açúcar e demais itens da receita e ir ajustando. Deverá ficar mais parecido com uma geleia fina, mas nada que atrapalhe o sabor. Aproveite!
Chutney de cupuaçu
Ingredientes
1 1/4 de polpa de cupuaçu fresca, in natura (polpa retirada do fruto com tesoura, manualmente, fica com textura mais grosseira. Não é processada com água)
1 1/4 xícara de vinagre de maçã
2/3 xícara de água
01 xícara de açúcar mascavo
2/3 xícara de açúcar demerara
02 colheres de sopa de açúcar branco
01 pedaço de gengibre, de 4 a 6 cm, descascado e bem picadinho
01 pimenta dedo de moça grande, sem as sementes, picada
02 paus de canela não muito grossos
01 anis estrelado inteiro
01 dente de alho médio, picado
01 a 02 pitadas de sal, ou um pouquinho mais, se precisar
1/4 xícara de passas brancas
1/2 maçã sem casca nem caroços, picada
Modo de fazer
Numa panela de fundo grosso, coloque a polpa de cupuaçu, o vinagre, os açúcares, metade do gengibre picado, a pimenta, a canela, o anis, o alho, o sal e as passas. Deixe cozinhar em fogo baixo e assim que necessário, acrescente a água, aos poucos. O cupuaçu vai ficar com textura parecida à de manga madura bem cozida. Nesse momento, acrescente a maçã picada, para que ela cozinhe sem desmanchar e a outra metade do gengibre picado . Prove e ajuste o açúcar e o sal, veja se precisa de mais um tico de água ou vinagre. Essa conserva tem um sabor agridoce muito agradável, mas você pode adaptá-la ao seu paladar. Se usar a polpa processada, sugiro acrescentar apenas metade dos demais ingredientes e aos poucos, ir acrescentando os demais, de maneira que o sabor fique a seu gosto. A textura, nesse caso, se assemelhará mais a uma geleia mais fina. Retire os pedaços de canela e o anis e sirva como acompanhamento para carnes, pernis ou sanduíches. Eu também o servi acompanhando espetinhos de banana comprida que depois de grelhados com um pouco de manteiga, sal e pimenta, foram polvilhados com açúcar de confeiteiro.
Os pasteizinhos sendo recheados, aqui com pupunha e depois de assados |
Pasteizinhos integrais de forno com recheio de pupunha e banana comprida
Para os pastéis de forno
Usei a receita da massa da nutricionista Bela Gil, em seu recente livro. Fiz algumas adaptações, pois não tinha o ghee (manteiga sem a lactose) e precisei adaptar medidas. O sabor ficou muito bom, mas a massa logo ficou um pouco quebradiça, portanto vou refazê-la. Quem quiser, pode utilizar qualquer receitinha para pastel de forno. Reproduzo aqui, a receita que usei, com minhas adaptações.
Pasteizinhos de forno
Ingredientes
Massa
01 copo de farinha integral (usei 01 xícara, que é maior)
1/2 copo de farinha branca (usei 1/2 xícara)
01 colher de chá de sal marinho
01 colher de sopa de sementes de chia
1/3 copo de ghee (usei um pouquinho mais de 1/3 xícara)
04 colheres de sopa de água
gergelim preto para enfeitar (não usei)
Modo de fazer
Misture os ingredientes e acrescente a água. Amasse bem e abra, cortando pequenos círculos. Recheie, coloque em assadeira untada e enfarinhada e leve ao forno por uns vinte minutos ou até assar.
Recheios
Ingredientes
Para o de pupunha
(não o palmito, mas o fruto)
01 xícara de pupunha cozida em água e sal, descascada e picada em pedacinhos
03 colheres de sopa de cebola branca bem picada
01 colher de sopa de manteiga
01 colher de sopa de azeite
01 colher de sopa de rum ou outra bebida de sua preferência
01 colher de sopa de mel
Modo de fazer
Numa frigideira de fundo grosso, coloque a manteiga, o azeite e a cebola bem picada. Deixe refogar até que frite, mas sem dourar. Acrescente a pupunha já cozida e picada, misture bem. Coloque o rum, mexa e acrescente o mel. Misture e desligue o fogo. Use para rechear pastéis de forno, sanduíches ou para colocar por cima de saladas.
Para o de banana comprida
Ingredientes
02 bananas compridas descascadas, cortadas cada uma em três pedaços e cada pedaço cortado em quartos, sem sementes (não use bananas muito maduras)
1/2 xícara de açúcar, aproximadamente
70 a 100 g de manteiga sem sal, aproximadamente
01 pitada muito pequena de sal, para as bananas
Pitadas de cumaru ralado (semente amazônica) ou se não tiver, baunilha ou canela
01 colher de sopa de rum
Modo de fazer
Numa frigideira larga, de fundo grosso, coloque a manteiga e o açúcar. Junte as bananas e deixe-as fritar sem mexer muito, para que não se desfaçam. Se precisar, acrescente um pouquinho mais de manteiga e açúcar, pitadas de cumaru e o rum, ao final. Retire do fogo, escorra um pouco e corte em pedacinhos pequenos para rechear os pastéis.
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Para saber mais:
Bela Gil - Bela Cozinha - As Receitas, GNT, Globo Estilo, 2014
http://pt.wikipedia.org/wiki/Chutney
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