domingo, 21 de maio de 2017

CUPUAÇU, AMOR TOTAL

O rolinho depois de pronto e cortado, para dar uma graça

O rolinho inteiro, antes de ser cortado e servido


Durante os anos em que morei no Ceará, era bem difícil consumir uma das frutas que mais adoro, o cupuaçu. Aquela polpa cortadinha com tesoura, fresca, para encher jarras e mais jarras de suco cremoso e forte, só mesmo quando alguém da família ou algum amigo levava de contrabando, bem congelada. Aí era uma festa! O doce eu fazia pouco, porque a saudade do suco era tão grande que não sobrava fruta para outros preparos, nem mesmo para o creme, outra estrela. Na casa de meus pais existe até hoje um pé de cupuaçu maravilhoso, que não fica no nosso quintal e sim no da vizinha, dona Julieta.

Mas, desde que éramos crianças, ficou acertado que as frutas que caíssem para nosso lado nos pertencia de direito, sem arengas. E por este motivo tivemos a vida inteira os mais lindos cupuaçus, que além do sabor intenso, é tinhoso como poucos: precisa cair quando maduro, não adianta derrubar de vez, pois ele não amadurece. Pelo menos até hoje nunca ouvi falar em tirar cupuaçu antes da hora. Uma vez no chão, não se pode passar muito tempo para tratar a polpa, pois ela estraga. Com esses cuidados e tratado logo que cai, o perfume do cupuaçu é embriagador e na minha opinião, muito pouca coisa se compara ao seu sabor maravilhoso, que se presta para inúmeras preparações.

Para o suco de antigamente, na era pré-liquidificador, os caroços e polpa eram amassados com bastante açúcar e depois, juntava-se água gelada. O divertimento era chupar os caroços na boca, com bastante cuidado para não passar direto pela garganta, principalmente  quem já não tinha mais amígdalas para segurá-los. Pedacinhos de polpa meio azeda se misturavam na boca e o sabor era incrível. No doce, a mesma coisa. Até hoje, embora em muito menor proporção, há quem prefira o suco e o doce com caroço, puro saudosismo.

Do caroço do cupuaçu também se pode fazer chocolate, o cupulate. Desenvolvido por pesquisadores da Embrapa na década de 80, o chocolate obtido a partir das sementes do cupuaçu é mais saudável e foi alvo de uma grande polêmica, quando uma empresa do Japão chamada Asahi Foods patenteou o nome da fruta, bem como o chocolate obtido a partir de suas sementes, num caso gravíssimo de biopirataria, fato este descoberto pela Ong acreana Amazonlink. Felizmente neste caso e com as intervenções devidas e a polêmica gerada, o Escritório de Patentes do Japão derrubou o registro da empresa japonesa (veja mais em alguns links logo abaixo).

Polêmicas à parte, uma das coisas que mais gosto de fazer é passear por feiras, mercados e supermercados. O que para alguns é uma perca de tempo completa, para mim é motivo de puro divertimento, principalmente quando vou às feiras e mercados. Encontrar amigos e feirantes já conhecidos, trocar receitas, saber sobre um novo uso para algum produto, tudo isso me deixa fascinada. No supermercado, encontrar alguma coisa diferente me deixa de ótimo humor. E, em uma dessas visitas, me deparei com massa filo congelada. 

Para quem não conhece, é uma massa finíssima, com quase nada de gordura e seu manuseio deve ser feito com o maior cuidado, pois quebra com muita facilidade. Para utilizar, deve-se pincelar manteiga derretida (ou azeite, se desejar) entre as folhas, depois rechear, enrolar ou não (a depender da receita) e assar.  É muito utilizada em doces árabes, mas também pode ser usada nos salgados. 

É trabalhosa para fazer em casa por ser muito delicada. Por isso nem titubeei e comprei dois pacotes, imaginando o que fazer com eles. E resolvi experimentar com um doce de cupuaçu caseiro ao qual juntei lascas de castanha e no recheio, acrescentei pedaços de queijo Minas. Enfeitei com sementinhas de papoula (opcionais) os rolinhos, assei e depois polvilhei com açúcar de confeiteiro. Se ficou bom? Experimenta pra ver!

Rolinhos de massa filo (Phyllo) com doce de cupuaçu, castanha e queijo Minas

Ingredientes      

Para o doce (que deve ser preparado antes, pois precisa esfriar antes de ser utilizado)

1/2 xícara bem cheia de polpa de cupuaçu fresca (cortada na tesoura)
Aproximadamente 1 xícara de açúcar refinado (iniciei com 1/2 xícara, mas foi necessário ir acrescentando mais)
1/4 de xícara de água, colocada aos poucos, de acordo com a necessidade, para não deixar queimar o doce
5 a 6 castanhas cruas (mas não frescas), cortadas em pedacinhos
01 pitada de sal

Para o recheio

Doce de cupuaçu e castanha, já frio
lâminas de queijo Minas (opcional e a gosto)

Para a massa filo

01 pacote de massa filo congelada, manuseada de acordo com as instruções do fabricante
1/2 xícara de manteiga derretida ou um pouco mais, se precisar
Sementes de papoula (opcional), para enfeitar. Na falta use chia, se quiser
Açúcar de confeiteiro, para polvilhar (não use impalpável) 

Modo de fazer

Para o doce

Bata a polpa de cupuaçu e metade do açúcar no liquidificador, para que fique bem homogêneo. Numa panela, coloque a polpa batida, a pitada de sal, a castanha e vá acrescentando aos poucos o restante do açúcar e a água, até que o doce vá pegando cor. Ajuste, se necessário, ao seu paladar. Tenha cuidado para não queimar, é preciso estar atento e mexer sempre. Quando ficar dourado, desligue o fogo e coloque em um prato para esfriar. O ponto deve ser pastoso, não deve ficar muito consistente.

Para montar os rolinhos

Descongele a massa na geladeira, de acordo com as instruções do fabricante. Com muito cuidado, desenrole em uma superfície plana e tenha ao lado a manteiga derretida e um pincel. Corte uma folha de massa, passe bastante manteiga derretida e cubra com outra folha de massa. Passe manteiga novamente e arrume o recheio (o doce com alguns pedaços de queijo), como se estivesse fazendo um charutinho. Enrole formando um rolinho e dobre as duas extremidades para cima, para fechar. Passe um pouco de manteiga derretida em cima e salpique sementes de papoula ou chia, se desejar. Leve ao forno pré-aquecido (moderado) e deixe até dourar. Não é necessário untar a forma. tenha cuidado no manuseio, para que o recheio fique bem vedado e não vaze. Solte com cuidado os rolinhos da forma ao retirar do forno, espere esfriar um pouco e arrume no prato de servir. Quando esfriar, polvilhe açúcar de confeiteiro e sirva. Maravilhoso!


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Saiba mais:

http://caraterfeminino.blogspot.com.br/2011/11/cupulate-chocolate-de-cupuacu.html

http://imirante.com/mobile/mundo/noticias/2004/03/02/japao-derruba-registro-de-patente-da-marca-cupuacu.shtml

http://www.almanaqueculinario.com.br/noticia/cupuacu-sera-que-e-nosso-96

http://www.amazonlink.org/

domingo, 14 de maio de 2017

DIA DE AFETOS E SAUDADES

Caldinho bem cremoso de feijão branco e cupuaçu, servido com conserva agridoce de pimenta de cheiro e pão caseiro com levain (fermentação natural)

O creme de feijão branco e cupuaçu...

A conserva agridoce de pimentinha de cheiro aqui do meu quintal...

Uma pequena entrada: pão com levain, creme de feijão branco e cupuaçu, conserva agridoce de pimenta de cheiro, parmesão ralado na hora


O pão...

O feijão...


O pão, ainda na panela de ferro em que foi assado...




Hoje é Dia das Mães. Assim mesmo, com maiúscula! Ainda tenho uma sorte danada de contar com a minha "velha", como a chamo, mais ativa do que eu, mesmo aos oitenta e dois anos de idade...ainda hoje ela pega seu carrinho, coloca seus óculos de sol e a bermuda (não anda de vestido quase nunca), instala meu pai ao lado de co-piloto (como ele tem sequelas de um AVC, não pode dirigir. Mas era um excelente motorista, então imaginem aí a confusão) e parte. Ele não dirige, mas fica no controle, a dizer onde ela deve ou não deve estacionar ou por qual trajeto deve seguir, motivo de invariáveis pequenas briguinhas.

Ainda hoje, o senso de proteção para com os filhos e netos é bem maior do que os seus 1,52 m. Se eu quiser, como hoje, uma fruta do quintal, ela mesmo gripada já sai na frente e por pouco não pegou uma escada (segundo ela, bem levinha), pra subir e sacar abaixo umas carambolas douradas e suculentas. Às vezes, tenho que mandar parar: "Mãe, a senhora lembra que é uma "velhinha"? Mas não, ela nem lembra da idade, graças a Deus. E segue, fazendo troça com o próprio esquecimento de coisas banais e rindo quando ao não entender o que escutou, transforma as frases em absurdos completos.

A perda auditiva ela não aceita muito mas quando se achou magra e segundo ela mesma, cheia de "pelancas" aceitou que eu a levasse à nossa querida amiga Kátia, nutricionista das boas. E apesar de furar um pouco a dieta (será que herdei esse legado?) está feliz pois engordou um quilo e meio. E mesmo conformada em ser  uma formiga assumida, o diabetes e nós não a deixamos solta para se regalar, do contrário o estoque de bolos e doces na casa dela ia atropelar os armários.

Minha querida mãe não gosta muito de cozinhar. Mas tudo que faz é bom e suas panquecas, o nhoque de batatas, o arroz de forno e o lombo recheado são de lamber os beiços. mas a briga familiar é mesmo pela torta de café (uma espécie de tiramisu um pouco mais docinho) e o Gato de Botas, fatias de banana comprida madura (ou da terra) fritas, intercaladas com uma mistura de açúcar, canela, creme de leite, queijo ralado e gema de ovo bem batido. Por cima o Gato de Botas leva um merengue bem consistente. Vai ao forno e depois à geladeira. (http://mesanafloresta.blogspot.com.br/2013/05/o-gato-de-botas-da-minha-mae.html). Ah, quando ela faz essa sobremesa, tem gente que esconde pedaços para os outros não verem, é um escândalo!


Minha mãe foi uma das primeiras farmacêuticas aqui do Estado, mas não quis ir para o laboratório. Trabalhou sempre com responsabilidades técnicas e eu cresci acompanhando-a às farmácias para controlar as listas de medicamentos a serem monitorados, entre outras coisas. Além disso, foi uma das primeiras funcionárias do Incra e por muito tempo, da Fassincra. Nunca tive uma gripe que fosse, nem meus irmãos, para sermos vistos por um único médico. Se ela nos levasse ao hospital ou à clínica, com certeza todos os profissionais de plantão (invariavelmente amigos dela) sempre iam nos dar uma olhadinha.

E eu queria ter dedicado aos meus filhos pelo menos metade da atenção que ela sempre nos dispensou, mesmo trabalhando dois turnos. Nos levava ao médico, ao cinema, à piscina do clube, datilografava meus trabalhos pra ficarem mais bonitos (mas era eu quem fazia rsrsrs) e dava conta não sei como, de quatro meninos criados quase soltos, como era no meu tempo de única irmã de três garotos. Meu pai ajudava a dar uns trancos, mas foi com ela que sempre nos viramos.

E hoje me pego aqui com saudades dos meus pequenos grandes, tão longe nesse dia poderoso, a lembrar das queridas que já partiram, como minha sogra dona Neuza, a lembrar que amor independe de tempo, de estar vivo, de estar perto, de ter sido parido ou não...amor de mãe é para sempre! Por isso quando meu filho mais velho me disse que eu os inspirava a ser melhores e o mais novo me agradeceu por apoiar as escolhas dele, ainda que às vezes me fizessem sofrer (como morar longe de mim), me derreti toda mas pensei: esse é o sentido! Pela primeira vez pensei com tranquilidade que eles já podem sim, seguir com as próprias pernas. E me alegrei!

Dedico este post a todas as mulheres que sentem esse amor incondicional por seus queridos, sejam eles filhos, sobrinhos, enteados ou agregados. Um dia de amor e bençãos!

E para experimentar, vá de creme de feijão branco e cupuaçu, conserva de pimenta agridoce e um pão fresquinho!  

CREME DE FEIJÃO BRANCO COM CUPUAÇU, CONSERVA AGRIDOCE DE PIMENTA DE CHEIRO, SERVIDO COM PÃO FEITO COM FERMENTAÇÃO NATURAL (LEVAIN)

Ingredientes

Para o pão

Uso a receita de levain do livro Pão Nosso, do Luiz Américo Camargo, bem como suas receitas de pão.
Também uso a receita do pão de campagne do livro Mari Hirata Sensei, por Haydèe Belda, nesta receita.

Obs.: As adaptações com chia, pinoles, sementes de girassol e tâmara são minhas, bem como a substituição da farinha de centeio original por farinha de espelta. Optei por não incluir aqui a receita, pois é um processo demorado. Recomendo a leitura desses e de outros livros que falam de fermentação natural ou na falta, compre um pão italiano e o corte em fatias grossas.
A técnica para assar o pão vem desde vídeos disponíveis na internet, dos vídeos e dicas disponíveis no Pão Rústico (grupo no facebook do qual faço parte), leituras de blogs como o da Neide Rigo, querida amiga e livros diversos, sempre um aprendizado.

Fazer pão é um prazer e uma terapia. Utilizar o levain é prazer em dobro e uma verdadeira paixão. 

Para o creme de feijão e cupuaçu


1/2 xícara de feijão branco (ou de praia) cozido em água e sal
01 polpa de 100 ml de cupuaçu
1/4 xícara de água
03 colheres de sopa de azeite
01 colher de chá da conserva de pimenta preparada (só o caldo)
03 colheres de sopa do caldo da conserva, preparado sem a pimenta 
Sal a gosto
Queijo parmesão ralado na hora, a gosto
Pimentinhas em conserva, para enfeitar, a gosto

Para a conserva agridoce de pimentas de cheiro amarelas (aqui são chamadas assim, embora sejam ardosas)

01 xícara de pimenta de cheiro amarela, ardosa, com cabos e sementes, cruas
1/4 xícara de açúcar
1/4 xícara de vinagre de maçã
01 xícara de água
01 pitada de sal
1/8 de xícara de vinagre de maçã após o cozimento (ou metade da medida de 1/4 de xícara)

Caldo para conserva

1/2 xícara de água
1/8 xícara de açúcar (ou metade da medida de 1/4 xícara)
1/8 xícara de vinagre de maçã (ou metade da medida de 1/4 xícara)
01 pitada de sal

Modo de fazer

Para o creme de feijão e cupuaçu

No liquidificador junte o feijão cozido, a polpa de cupuaçu, a água, o azeite, o caldo de conserva de pimenta e o caldo de conserva sem a pimenta (que você vai fazer em separado. Retire as três colheres necessárias e o restante pode ser juntado à conserva de pimenta). Processe até ficar bem homogêneo. Retire do liquidificador, ajuste o sal se desejar e leve ao fogo apenas até levantar fervura. Reserve. Na hora de servir, esquente ligeiramente o pão e o creme, coloque a gosto nas fatias de pão, por cima o queijo parmesão ralado na hora e um pouquinho da conserva de pimenta, caldo e pimentas para enfeitar, se desejar. Sirva logo para que não encharque o pão.

Obs.: se desejar, sirva em copinhos, com o pão ao lado. Esta receita é pequena, rende uns três copinhos no máximo, então se quiser mais basta aumentar proporcionalmente os ingredientes. A conserva agridoce reduz a acidez do cupuaçu mas caso não queira colocar em cima, acrescente pitadas de açúcar ao creme, provando de acordo com seu paladar.

Para a conserva agridoce de pimentas

Coloque todos os ingredientes (menos a última medida de vinagre de maçã) para ferver em uma panelinha pequena, até que as pimentas cozinhem e a calda reduza um pouco. Desligue o fogo e acrescente 1/8 de xícara de vinagre de maçã. Despeje em pote com tampa ou garrafinha com tampa e use como desejar.

Para o caldo da conserva

Numa panelinha, ferva todos os ingredientes até reduzir um pouco. Retire as três colheres de sopa para o creme de feijão e o restante junte à conserva de pimentas, caso deseje.

Bom apetite!!



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Para saber mais:

Mari Hirata Sensei, por Haydèe Belda - http://www.saraiva.com.br/mari-hirata-9416749.html?sku=9416749&force_redirect=1&pac_id=123134&gclid=Cj0KEQjwgODIBRCEqfv60eq65ogBEiQA0ZC5-Y-dpPaXkP6e9UsbhkYBkVhLHCb9xGAwm2vqg0ySPXkaAtY88P8HAQ

Pão Nosso - Luiz Américo Camargo - https://www.amazon.com.br/Nosso-Receitas-Caseiras-Fermento-Natural/dp/8539611090/ref=sr_1_1/137-6678894-9840329?ie=UTF8&qid=1494800737&sr=8-1&keywords=pao+nosso

Grupo Pão Rústico - administrador Miguel Wg - https://www.facebook.com/search/top/?q=pao%20rustico

 Neide Rigo - blog Come-se - www.come-se.blogspot.com






segunda-feira, 1 de maio de 2017

MOMENTO MÁGICO

Cupuaçu curd com compota de tangerina e tomilho, sabores fortes e deliciosos 


Parecia ser uma manhã como outra qualquer. Mas o exame detalhado da meteorologia antecipava emoções que nós, com o coração aos pulos, ainda não acreditávamos muito. O ano passou rápido e entre todos os preparativos de bagagens, vistos, roteiro mínimo para não perder tempo, lugares bacanas a visitar, eis que estávamos passando uma curta temporada em Nova York, hospedados bem próximos à muvuca típica da Times Square.

Chegamos na cidade em uma manhã friorenta, com muito vento. Malas no hotel e algum stress, como deve ser de praxe, saímos eu, meus dois filhos e marido para um pequeno passeio. Era a minha primeira vez e a dos meninos na cidade que quase nunca dorme e meio que nos sentindo em alguma produção americana, começamos a reconhecer lugares, neons, estilos de vida. Só voltamos ao hotel já muito mais tarde, início de noite, fascinados com aquele movimento. 

O Homem-Aranha, de verdade, só poderia ter nascido aqui. Suas enormes teias pareciam nos acompanhar de perto ao caminharmos por entre aqueles prédios muito altos. Na famosa Times Square, os luminosos eram tão intensos que em alguns momentos tive dúvidas se de fato era noite ao nosso redor. Moramos no Acre, em pleno e úmido calor de quase 40 graus, sem ventos. Meu filho mais novo nos acompanha na quentura de Sobral, Ceará. O único mais confortável era o filho mais velho, que vive no litoral e portanto, tem uma brisa a mais no seu dia a dia.

Parecíamos pacotinhos cheios de roupas por todos os lados, que começavam nas calças e camisas térmicas e pediam ainda algumas blusas e casacos, gorros, luvas e cachecóis. Mas, apenas frio, muito frio, com um vento de arrepiar e um pouco de chuva. Nossas áreas de interesse já estavam traçadas, sem muita preocupação: Museus, Central Park, toda a gastronomia possível, Strawberry Fields (homenagem ao Lennon, próximo ao prédio onde ele morava, na frente do Central Park), cinco minutos de Wall Street, um pouco de Brooklyn...

Outlets e afins, até mesmo os shows da Broadway, ficarão para uma segunda vez. E no Brooklyn, conseguimos chegar quase de noite, para olhar apressadamente Manhattan e suas luzes deslumbrantes pelo outro lado do rio Hudson. Não deu tempo de conhecer sua ponte mais famosa, vista apenas de longe, mas foi possível tomar sorvete de baunilha e morango na Brooklyn Ice Cream Factory, deliciosos mesmo em um frio de rachar.

É claro, tínhamos que ir ao Hard Rock Café. Dois filhos e um marido roqueiro não podiam fazer menos e de forma solidária, me emocionei junto com eles ao ver guitarras e outros objetos dos Beatles e alguns dos ícones mais representativos do rock mundial. Mesmo que não seja a sua praia, não deixe de ir, é um mergulho na história, pois os objetos são originais.

Já havíamos caminhado muito pelas principais Avenidas que fazem a fama da cidade. Estivemos no Columbus Circle, uma das rotatórias mais famosas de Nova York e é claro, visitamos o Whole Foods, apesar de lotado. Fomos ao Eataly (que já tem filial no Brasil, em São Paulo) com seus vinhos, azeites, pães e delícias italianas, tudo maravilhoso.

Visitamos   a loja de instrumentos musicais mais sortida e antiga da cidade, para deleite dos filhos, que usaram suas economias para comprar instrumentos, fomos ao Chelsea Market, um super espaço para gourmet nenhum botar defeito, com suas lojas, confeitarias, padaria, lanchonete e um misto de rotisserie e casa de sanduíches cujos produtos vem de fazendeiros próximos e sustentáveis, Rockfeller Center, Saint Patrick’s Cathedral...

Devo confessar um pecado: não sou fã de nada muito doce (abro uma exceção para doce de leite escuro e uma colher de quindim), mas ao me deparar casualmente com a filial da Magnólia Bakery não pude deixar de entrar, é claro. A loja é muito acolhedora e dá para assistir à finalização dos cupcakes ali mesmo, bem como comprar produtos de confeitaria, se quiser. As cores são lindas, em tons pastel, fiquei encantada. Pedi um Banana's Pudding, muito curiosa, pois já conhecia a fama. Mas, sinto muito, só aguentei a primeira garfada. Dá para sentir a qualidade do produto mas é tão doce que não fui em frente. Meus formigas familiares se revezaram e concluíram o serviço. Ainda fiz uma segunda tentativa com um bolo amanteigado com blueberry's, cuja massa estava ótima, mas de novo a quantidade de açúcar não me deixou seguir em frente. 

Nos encantamos com o Museu de História Natural. Ver aqueles enormes dinossauros nos remontou imediatamente ao filme Uma Noite No Museu  e quase dava para ver o saudoso Robin Williams montado no seu cavalo. Meus filhos ficaram tão impactados que só saíram após o Museu fechar, dispostos a ver tudo que podiam. Nós, os mais experientes, havíamos voltado para o hotel um pouco antes, sonhando em colocar as pernas para cima.   
Todas as manhãs descíamos para tomar café perto do hotel. Os bagels, pãezinhos onipresentes nos cafés de Nova York, eram o prato preferido do mais novo, junto com um enorme copo de café. Sim, porque acho que ninguém em Nova York sabe o que são dois dedos de café. Ainda que fraco, as quantidades são absurdas. Então, entre as inúmeras cafeterias e lanchonetes disponíveis, íamos de Pret a Manger, uma rede inglesa que prima pelos orgânicos, iogurtes, saladas e sucos, bem como sanduíches deliciosos. Um copão de café amargo e um belo croissant, seguidos de um iogurte ou mingau de aveia com mel eram quase sempre minhas opções.

E foi lá, numa manhã que começou muito fria, ao olhar casualmente para a enorme janela de vidro, que reconheci a competência americana para a previsão do tempo: o anúncio era de que exatamente naquele dia, penúltimo de nossa estadia, havia uma grande possibilidade de cair neve. Quase não acreditei ao ver tímidos flocos descendo num frenesi pela rua. Saímos todos apressados e deliciados. Mas era muito pouca neve para comemorar e resolvemos cumprir a agenda: visitar o Metropolitan Museum, dentro do Central Park.

Entramos e começamos a passear por toda aquela imensidão de salas e objetos mais do que especiais, quando deixei-os um pouco e fui para uma sala envidraçada, de frente para o parque. Não acreditei quando vi aqueles flocos de neve cobrindo tudo como um tapete branco e fugaz. Nem tivemos dúvida. Interrompemos um pouco a visita ao Museu e corremos para lá, igual crianças com um brinquedo novo. Não tem como não se emocionar com a neve. Ela é lúdica, é linda e nos deu o melhor presente de final de férias. Passar esses momentos com minha família foi muito, muito especial.

Então, para relembrar momentos felizes, nada como cozinhar. Crie novos momentos com sua família com esse peixe muito simples e saboroso e com uma espécie de curd (um creme que leva gemas de ovo, uma fruta cítrica, açúcar e um pouco de manteiga) feito com cupuaçu e uma compota de tangerina para a sobremesa. Bom apetite!

Obs: é claro que seriam precisos mais alguns posts e várias visitas a Nova York para conseguir conhecer um pouco mais, mas é absolutamente imperdível. E apesar da caixinha (gorjeta) onipresente, em nenhum lugar deixamos de receber trocos de centavos, o nos chamou muito a atenção.


O peixe com a farofa e a banana crua, além dos temperos. Um pouco de azeite e basta fechar com cuidado o pacote, deixando espaço para que ele cozinhe. Delícia!
O pacote fechado deve ficar assim. Vai ao forno numa assadeira e depois pode ser aberto direto no prato de servir, se desejar


Surubim no cartoccio
(para 06 porções)

Ingredientes

Para a farofa crua

01 xícara de farinha de mandioca crua
01 molho de chicória bem picada (na falta use um pouco de salsa, a gosto)
03 a 04 colheres de sopa de cebolinha picada
02 colheres de sopa de pimentinha verde de cheiro, bem picada
02 colheres de sopa de cebola picada
1/2 colher de sopa de alho picado
01 colher de sopa de manteiga
Sal e pimenta do reino, a gosto

Para o peixe

12 pedaços de peixe, cortados como para moqueca, em pedaços mais grossos
01 cebola grande, cortada em rodelas mais grossas
01 banana comprida (ou da terra), crua, sem as sementes, cortada em três partes ao comprido e cada parte cortada em quatro
06 pimentinhas doces (não ardosa, de cheiro) do tipo que você tiver disponível em casa ou no mercado
06 raminhos de coentro
cebolinha picada, a gosto
páprica doce, a gosto
azeite, sal e pimenta do reino moída na hora
Papel alumínio para montar

Modo de fazer

Para a farofa crua

Numa tigela, misture todos os ingredientes, inclusive a manteiga e amasse bem, para que ela se distribua na farinha. Tempere com sal e pimenta e reserve.

Para o peixe

Lave os pedaços de peixe com água e limão e deixe de molho por alguns minutos. Escorra, lave com mais água para tirar o limão (eu prefiro, mas se não quiser, enxugue e reserve).
Com o papel alumínio faça 06 (seis) retângulos grandes e separe os demais ingredientes em tigelinhas, para a montagem. Distribua um dos pedaços de papel numa assadeira, com o lado brilhante para cima. Coloque uma ou duas rodelas de cebola em cima e regue com um pouco de azeite. Acrescente 1/6 da mistura temperada da farinha e por cima, coloque dois pedaços de peixe. Salpique sal (na parte de cima do peixe, a gosto) e pimenta do reino. Coloque dois pedaços da banana comprida crua por cima, uma pitada de páprica doce, um ramos de coentro e cebolinha picada. Ao lado, arrume uma das pimentas, coloque mais um pouquinho de azeite e feche delicadamente, formando um pacote, virando um pedaço do papel por cima do peixe e prendendo as extremidades. Reserve em uma bandeja ou assadeira e deixe na geladeira até a hora de ir para o forno. Esse prato pode ser servido sozinho mas se quiser, pode acompanhar com um pouco de arroz branco.


Cupuaçu curd com compota de tangerina
(para 04 a 05 porções)

Para o cupuaçu curd
obs: não segui uma receita clássica, combinei os ingredientes de acordo com meu paladar, portanto case deseje, pode fazer pequenos ajustes, como acrescentar um pouquinho mais de açúcar, por exemplo.

Ingredientes

02 polpas de cupuaçu de 100 ml cada (se for usar cupuaçu in natura, uma sugestão é bater metade de polpa e metade de água. Pode ser necessário acrescentar um pouco mais de água)
04 gemas de ovo caipira, de preferência, passados em peneira
01 pitada de sal
10 a 12 colheres de sopa rasas de açúcar
1/4 xícara de água
1 colher de café de amido de milho dissolvido em 01 colher de sopa de água (caso deseje um pouquinho mais consistente e só se realmente desejar)
01 colher de chá de manteiga sem sal

Para a compota de tangerina

02 tangerinas maduras e firmes, descascadas e limpas, em bagos (na verdade, o ideal e desejável é utilizar a murkote, sem sementes)
Zestes das cascas das tangerinas (Há um cortador próprio para zestes, tirinhas bem finas da casca, mas se não tiver, corte a casca em tiras, retire bem toda a parte branca e corte o mais fino que puder)
1/2 xícara de água
01 pitada de sal
1/3 xícara de açúcar refinado
03 a 04 ramos de tomilho fresco

Mix de castanhas

03 a 04 castanhas de caju quebradas
02 nozes quebradas
01 castanha do Brasil, quebrada
(você também pode fazer o mix a seu gosto, com outras castanhas)

Modo de fazer

Para o cupuaçu curd

Numa panela de fundo grosso, coloque as polpas de cupuaçu, as gemas de ovo, o sal e o açúcar. Deixe a água e o amido dissolvido a postos, caso queira utilizar. Com um fouet misture bem e leve ao fogo bem baixo, mexendo sempre, até que ferva e engrosse. Prove e se quiser, acrescente até 1/4 da xícara de água. Deixe ferver novamente, sempre misturando e se necessário, coloque o amido dissolvido. Deixe ferver mais um pouco. Ainda quente, acrescente a colher de chá de manteiga e misture bem. Despeje em quatro a cinco tigelinhas de serviço. Acrescente a compota, com cuidado, enfeite com o galho de tomilho e o mix de castanhas. Sirva morno ou frio.

Obs.: Os curds são cremes feitos a base de gemas, açúcar e frutas cítricas, como limão ou laranja. Acompanham bem os scones (tipo de pãezinhos) ingleses mas podem servir também para recheio de tortas ou bolos. Não segui receita padrão e resolvi testar com cupuaçu e gemas. Se desejar menos firme não coloque a água. O amido utilizado é quase nada e também é opcional, se desejar um pouco mais encorpado.

Para a compota de tangerina

Numa panela pequena de fundo grosso, coloque a água, o açúcar, a pitada de sal, as zestes, o tomilho e os bagos de tangerina. Misture levemente e deixe ferver em fogo baixo até que fique cozido e a calda dê uma leve engrossada. Arrume delicadamente em cada tigelinha, por cima do curd e acrescente um pouco da calda e um raminho de tomilho. Disponha um pouco do mix de castanhas e sirva, morno ou frio. 

(Obs: se quiser, pode preparar as tigelinhas e deixar na geladeira até a hora de servir. Se os bagos de tangerina contiverem caroços é melhor retirá-los com cuidado, pois podem amargar levemente após o preparo, mas não atrapalham o sabor do doce).

Meu filho mais novo brincando com a bola de neve, à esquerda. Ao lado, o mais velho e ao fundo, um pedacinho do meu marido, curtindo a neve no Central Park, inesquecível!
No Central Park, mais que felizes. A neve ainda aumentou bastante e valeu cada segundo...
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Para saber mais:

Times Square - https://pt.wikipedia.org/wiki/Times_Square

Central Park - https://pt.wikipedia.org/wiki/Central_Park

Brooklyn Ice Cream Factory - http://www.dicasnewyork.com.br/2015/02/sorveteria-brooklyn-ice-cream-factory-nova-york.html#

Columbus Circle - https://pt.wikipedia.org/wiki/Columbus_Circle

Rockfeller Center - https://pt.wikipedia.org/wiki/Rockefeller_Center

Hard Rock Café - https://pt.wikipedia.org/wiki/Hard_Rock_Cafe

Eataly e Whole foods - http://www.blogvambora.com.br/supermercados-em-nova-york-whole-foods-zabars-eataly-trader-joes/

Saint Patrick's Cathedral - https://saintpatrickscathedral.org/

Magnólia Bakery - www.magnoliabakery.com/https://www.magnoliabakery.com/locations/rockefeller-center/(onde estive)

Pret a Manger - https://www.pret.com/en-us

Strawberry Fields - http://dicasnovayork.com.br/central-park-strawberry-fields/

Fouet - https://www.google.com.br/search?q=fouet&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&sqi=2&ved=0ahUKEwjGuJOh7c7TAhVKFpAKHZu3CQEQsAQIJQ&biw=1280&bih=694

Zestes -  tirinhas finas feitas com as cascas dos cítricos que perfumam caldas, bolos e recheios

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IN MEMORIAN

Esse post vai dedicado aos meus queridos seu Leão e Antonio Namen, meu tio Said, que agora estão passeando pelas estrelas, como diz meu marido. Que nós possamos seguir em frente e guardar as boas lembranças que temos deles.