domingo, 27 de dezembro de 2015

PARA O ANO NOVO TAMBÉM SERVE...

Um bolinho especial, com uma calda simples e frutas maceradas em rum, um presente perfeito...

A alegria da querida Lidianne, recebendo um panetone e geleia de laranja baía feitos em casa... 


Se você quer deixar o Natal de alguém mais especial e dar a essa pessoa a certeza de ser querida e respeitada, coloque as mãos na massa e pense seriamente na possibilidade de produzir algum regalo. No meu caso, me sirvo de bolinhos, conservas, granolas para os mais naturais, geleias e doces. Mas nada impede de arrumar vidros de conserva vazios, colocar uma fita, pintar a tampa com alguma tinta bonita e enchê-lo de gostosuras para dar a seus queridos.

Latas de leite em pó vazias e enfeitadas com um belo laço também podem guardar balinhas e biscoitos. Nesse nosso mundo cada vez mais globalizado, sair das clássicas  e despersonalizadas "lembrancinhas" enche os presenteados de orgulho e atenção. Pegue aquela sua antiga receita de bolo, aquela que faz a delícia dos seus filhos e coloque em pequenas embalagens descartáveis. Na massa, se quiser, coloque porções de passas e frutas cristalizadas deixadas de molho no rum ou outra bebida que você preferir.

Polvilhe açúcar de confeiteiro quando esfriar, coloque em sacos de papel celofane, um laço de fita e prepare-se para os sorrisos de felicidade. Outra opção é preparar uma calda simples de açúcar de confeiteiro (não o impalpável) com suco de limão, que pode ser o siciliano ou o Tahiti. Coloque uma xícara de açúcar de confeiteiro numa tigela e vá acrescentando suco de limão até ficar uma calda grossa. Quanto mais suco, mais fina e transparente a cobertura ficará quando secar. Acrescente as raspinhas de limão a gosto. 

Assim que tirar os bolinhos do forno, cubra-os com a calda, espalhando bem com uma colher ou espátula por toda a superfície. Imediatamente arrume por cima frutas cristalizadas e passas deixadas de molho (e escorridas) em alguma bebida que você goste, como rum, cointreau ou whisky. Deixe esfriar, coloque em sacos de papel celofane e prepare-se para o abraço. Presentear de coração é sempre um ato de amor e as pessoas adoram.

Bom apetite!   

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Para saber mais:

Biscoitinhos de castanha: http://mesanafloresta.blogspot.com/2011/11/biscoitinhos-para-um-filho-distante.html

Cookies: http://mesanafloresta.blogspot.com.br/2014/04/tarde-boa.html

domingo, 20 de dezembro de 2015

MAIS LEMBRANÇAS DE INFÂNCIA

A galinha caipira com o jambu e pirão de castanha, deliciosa...


Se você for como eu, o Natal está na porta e o cardápio da ceia ainda muda um pouco todos os dias. Os convidados, neste ano, serão em menor número. Ou não. Alguns dos irmãos e cunhados neste ano ficarão parte em uma casa, parte em outra. Pelo menos, irão engordar um pouquinho mais se resolverem provar de tudo. Aqui em casa, não tem jeito: desde que me entendo por gente, é o único dia do ano em que como peru (à exceção dos R.O.s obrigatórios em famílias grandes como a minha, onde se cozinha sempre como se não houvesse amanhã).

E quero frutas secas e em conserva para acompanhar. E farofa também. Minha mãe, que não come nada dessas coisas, terá o seu filezinho para saborear. Não decidimos ainda o molho do acompanhamento. Ele dorme laranja e acorda bege, quase todo dia (e nisso a geladeira vai enchendo de geleia de laranja baía pedaçuda e meio amarguinha, queijo gorgonzola gordinho e à prova de dieta e castanhas do Brasil, para dar uma textura).

Meu sonho de consumo na cruzada em que me encontro (#partiu dieta!) é um pirarucu de casaca, a receita mais flex que você já viu na vida: tem quem faça com o peixe dessalgado e frito, outros apenas o aferventam. Há quem prefira a farofa seca, muitos a molham com leite de coco. Alguns incluem cubinhos de batata cozidas e um molhinho com ervilhas e azeitonas. Outros ainda colocam passas, ameixas e ovos cozidos. O céu é o limite. Em comum, o pirarucu, a banana comprida (ou da terra) frita e a farofa. O resto é lenda e livre interpretação. E no meu caso, ainda vou estudar um jeito de fazer com a banana assada, senão nem na lenda vou ficar.

Como minha alma é gorda, certamente vou incluir um pernil. Já o imagino no dia seguinte, desfiado e com muita cebola caramelizada, um pote de mostarda e um bom pão caseiro para rebater, mas aí já é delírio de quem está com fome. E escrever com fome, assim como ir no supermercado com a dita cuja, não é nunca um bom negócio. A cada ingrediente, a mente vagueia e já passeia com garbo por todas as possibilidades, sejam elas assadas ou fritas, cozidas ou não.

Para as sobremesas, já há um estoque de chocolates meio amargos de fazer inveja a qualquer bom chocólatra: pode ser um bolo, uma mousse com zabaione...a geleia de morango já está pronta na geladeira, vai que resolvemos fazer uma piada pronta, digo um pavê. Com um bom pão de ló feito em casa, castanhas torradinhas, um creme a base de gemas e frutas frescas, é um pecado. Mas, se quiser, troque por geleia de cupuaçu, biscoitos de castanha, um creminho doce e uma calda de açúcar gramixó feito aqui mesmo na região e fica delicioso do mesmo jeito.

Já encomendei para o café lindos bem-casados (biscoitinhos recheados de goiabada), biscoitos Monteiro Lopes (parcialmente cobertos com chocolate) e uma gulodice perdida nas minhas mais antigas memórias: uma balinha de açúcar com recheio de doce de cupuaçu, que descobri se chamar casinha de abelha. Por acaso, descobri uma amiga de infância, a Isabel, doceira das mais competentes, que como eu, é apaixonada pelas tais balinhas e hoje as faz por encomenda, junto com madalenas, bem-casados e biscoitos, para delírio de todos e resgate das nossas tradições.


A balinha de cupuaçu da minha infância, ou no nome de festa, casinha de abelha...doce de cupuaçu com fondant

Lembro nitidamente de esticar os braços e ficar nas pontas dos pés para alcançar essas balinhas, dispostas na mesa, em algum aniversário de família perdido no tempo, na casa de minha avó Maria ou de alguma das tias. Só as comi novamente uns quarenta anos depois, no casamento de um primo e imediatamente, tal qual no filme Ratatouille, fiz como o crítico ao degustar o prato e fechei os olhos para me ver novamente no esforço de roubar as tais balinhas . 

Mas, enquanto o Natal não chega, atualizo o blog com essa receita, para o dia a dia, feita aqui em casa para o almoço. É uma delícia, servida bem quentinha. Aproveite!   


Galinha caipira com pirão de castanha

Ingredientes

Para a galinha

01 galinha (ou frango) caipira, cortada em pedaços
Sal e pimenta do reino a gosto
Pitadas de colorau ou páprica a gosto
02 colheres de sopa de vinagre
02 maços de jambu frescos, já limpos (pode usar um pouco dos talos, se forem novos)

Para o pirão de castanha

1/2 xícara de castanha do Brasil crua (usei a parcialmente desidratada, já embalada)
1 1/2 xícara de água
1/2 xícara ou um pouco mais do caldo da galinha cozida
1/2 xícara de farinha de mandioca
sal a gosto

Modo de fazer

Para a galinha ou frango

Corte a galinha ou frango pelas juntas (eu nunca acerto, assassino a coitada duas vezes) e coloque os pedaços numa tigela, retirando o excesso de gordura. Tempere a gosto com sal e pimenta, o vinagre e o colorau ou páprica. Deixe pegar gosto por pelos menos 30 minutos. Numa panela de fundo grosso coloque os pedaços da galinha com o líquido da marinada e deixe por alguns minutos, virando de vez em quando. Vá colocando água quente aos poucos, sempre que necessário, para que ela cozinhe e tenha caldo suficiente. Prove e ajuste o sal. Se desejar, coloque na panela de pressão por uns dez a quinze minutos. Não deixe a carne ficar mole demais. Retire 1/2 xícara do caldo para o pirão e acrescente as folhas e talos de jambu. Deixe alguns minutos e desligue o fogo. Reserve.

Para o pirão 

Bata a castanha com a água no liquidificador até ficar bem homogênea.  Acrescente o caldo reservado e misture. Leve ao fogo e com cuidado despeje aos poucos a farinha, mexendo bem para não empelotar. Se desejar um pirão mais líquido, diminua um pouquinho a farinha. Deixe cozinhar.

Para servir, coloque uma porção de pirão no prato ou numa tigelinha, acrescente um pedaço da galinha conforme sua preferência e um pouco de caldo e folhas de jambu. Se desejar, complemente com arroz branco.
Bom apetite!!

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Para saber mais:

Ratatouille:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Ratatouille_(filme)

Isabel - Encomendas de docinhos, tel (068) 99637954, Rio Branco, Acre.

domingo, 13 de dezembro de 2015

PARA LEMBRAR DA INFÂNCIA

A tortinha de banana da minha mãe, uma verdadeira delícia para comer pura ou como acompanhamento...




Sou fascinada pelo Natal. Não tanto pela carga religiosa e cristã que o acompanha, embora tenha o máximo respeito por quem se enche de boas intenções para o próximo ano e repensa profundamente sua vida e suas ações no ano que está acabando. Também não tenho o apego comercial obrigatoriamente vinculado à data, com aquela corrida insana às lojas para comprar as famigeradas lembrancinhas que quase sempre, nada tem a ver com o presenteado. Apesar das pressões, não me obrigo mais a isso há longos anos.Ou pelo menos, resisto de forma heroica e fico nas pessoas bem próximas, alguns queridos e familiares a quem é um prazer oferecer um mimo, quase sempre culinário.

Na minha família, desde criança, o Natal sempre foi um período de encantamento absoluto. Minha mãe, apesar dos quatro filhos e de trabalhar dois períodos (minha super-heroína) dava um jeitinho de produzir, com a nossa ajuda, quando cabia, alguns enfeites que já não se vêem por aí, nesse mundo de belezas industrializadas. Tudo muito, muito simples, mas carregado de uma forte emoção. Eram folhas e folhas de isopor e papéis brilhosos e coloridos, além de muitas bolas de Natal de todos os tamanhos adquiridos nas papelarias, que iriam compor diversos adornos.

Lembro bem que todos os anos ela fazia sinos e chaves para pendurar nas paredes. Eu, como mais velha, tinha o direito de usar uma faca, passada na chama do fogão, e ir recortando aqueles moldes, que seriam cobertos com papel brilhante em diversas cores e depois enfeitados com bolinhas, recortes e o que mais fosse preciso para encantar os olhos. Perdi as contas de quantas facas deixei enegrecidas e imprestáveis, com pedaços de isopor colado e já preto, muitas vezes devido à pouca habilidade para recortar a peça. Esquentava-se demais a faca, demorava-se um minuto a mais no corte e era uma vez! 

Tinha que recomeçar do zero. Mas havia dois enfeites mais trabalhosos que eu particularmente adorava: uma carruagem feita de isopor, cujas partes se encaixavam e eram depois enfeitadas para meu deleite particular e também uma vela, que mamãe fazia com um longo cano de PVC cortado e uma fieira de pequenas bolinhas coloridas penduradas em toda a sua altura. Em cima, havia uma bola maior fazendo a chama, o que a deixava perfeita aos meus olhos.Era um divertimento ajudar a prender aquele sem-número de bolinhas, alternando cores e tamanhos...

Nós, eu e os irmãos, ajudávamos (ou atrapalhávamos) em todas as etapas. Era um período muito esperado. No dia da ceia, véspera de Natal, tínhamos o direito de dormir muito tarde, pois na minha família, até hoje, só se come depois da meia-noite. E o pior é que ninguém lembrava de dar qualquer entala-gato para um bando de meninos e meninas famintos, até a bendita hora da comida. Mesa sempre cheia, cada um trazia sua especialidade. Os adultos tomavam espumantes e até nós, crianças, nos permitíamos tomar um golinho. Depois, era correr para casa e esperar a passagem do Papai Noel. Uns anos melhor, outros nem tanto, lembro da sensação de acolhimento ao despertar e ver perto da cama alguns presentes. Talvez por isso, até hoje, adore receber presente bem embrulhado, com laço e tudo!

Durante muitos anos, não arrumei árvore de Natal na minha própria casa. Estava longe da família, não conseguia comemorar muito bem. Às vezes,  passava a data no interior do Ceará, entre amigos. Aí arrumava umas árvores rústicas e fazia pacotes de balas e pequenos brinquedos para as crianças mais carentes e fazíamos lá mesmo uma ceia puxada a peru caipira, engordado para a data. Meus filhos recebiam presentinhos de manhã, ao pé da cama, mas eu já havia crescido. A comida continuou ali, mas o encantamento havia se perdido com a idade. Até que voltei a morar perto de mãe, pai e minha família, que de pequena não tem nada. Resolvi voltar a montar árvores de natal, com tudo que tinha direito.

E um dia desses, olhando as luzinhas brilhantes que piscavam aqui na sala, comecei a lembrar dos Natais de infância e em como eles me deixavam feliz. Minha mãe sempre dava um jeito de comprar presentinhos para todos e nos envolvia sempre na festa. E pensei na importância de valorizar os momentos que temos com quem amamos. Minha mãe, graças a Deus em plena atividade aos oitenta anos, continua ornamentando sua árvore, embora não faça mais os sinos e chaves da minha infância. Na semana passada, me ligou na hora do almoço, para que eu fosse comer uma torta de banana comprida frita, que é como ela sempre chamou uma espécie de malassada (que eu comia na casa de uma amiga no interior do Ceará, só que sem recheio). Lembrei que quando era pequena não gostava muito da torta, pois na correria do dia, ela era feita quase sempre em substituição ao bife frito que eu adorava e nunca gostei de misturá-la com o arroz. Minha mãe comia essa torta na sua própria casa desde mocinha e elas eram feitas em dupla, sempre. Uma delas cabia à minha mãe, que as adora até hoje. A outra, ia para o resto da família. Ela não sabe mais de onde vem a receita, mas minha avó, exímia cozinheira, orientava as auxiliares para o preparo.

Minha mãe continuou fazendo a torta para os filhos e até hoje, é uma das comidas de infância mais queridas de todos. Até mesmo eu já me rendi há tempos e de bom grado, comeria fatias e mais fatias dela. Não é necessário servir com mais nada, na hora do lanche. E ela acompanha muito bem os pratos do almoço. Mas se quiser pode juntar uma colher de geleia na hora da sobremesa e polvilhar açúcar e canela. Na nossa casa, comemos na hora do almoço junto com os outros pratos, recheada com fatias de banana comprida frita. E só. 

Hoje é para mim um dia especial: meu filho mais novo completa vinte anos, ou como diz meu marido, vinte voltas ao redor do sol. É um rapaz determinado, generoso, que resolveu que seria médico. E está no caminho do sonho, para orgulho de todos nós. Nossa árvore de Natal aqui na sala foi escolhida por ele. E apesar da distância que hoje nos separa, ele está comemorando com irmãos, pai, madrasta e avós, além de alguns amigos, com um almoço especial e merecido. E desejamos a ele toda a felicidade do mundo!

Portanto, mãos à obra: é uma fritura, mas você não vai fazer todos os dias, embora dê vontade, então, delicie-se e aos seus com essa receitinha simples e carregada de lembranças e afetos.



Torta de banana da minha mãe 

Ingredientes

Banana comprida (da terra ou pacovã) madura, frita em fatias, em óleo de boa qualidade, quanto baste (para essa quantidade, uma a duas bananas bastam)
03 ovos em temperatura ambiente
03 colheres de sopa de farinha de trigo
01 pitada de sal
Óleo para fritura, de boa qualidade

Modo de fazer

Descasque e corte as bananas ao meio. De cada metade corte fatias não muito grossas, pelo lado do comprimento. Polvilhe uma pitada de sal e frite-as em óleo abundante, poucas por vez, até acabar. Escorra o excesso de óleo, de preferência arrumando-as em peneira de metal ou folhas de papel absorvente. Reserve. Bata as claras até ficarem firmes, acrescente as gemas e bata mais um pouco, até ficarem bem firmes. Com muito cuidado, peneire uma colher de sopa de farinha de cada vez, misturando delicadamente de baixo para cima. Acrescente a pitada de sal com cuidado e misture. Numa frigideira não muito larga, de fundo grosso, coloque óleo suficiente para cobrir todo o fundo. Quando esquentar bem, coloque rapidamente metade da massa e espalhe. Arrume as fatias de banana a gosto, até cobrirem a massa. Não precisa colocar demais. Cubra imediatamente com o restante da massa, alisando para que não fiquem partes descobertas. Quando dourar embaixo, deslize a torta delicadamente para um prato grande.Retire o excesso de óleo da frigideira, para não se queimar e com a ajuda do prato, vire a torta na frigideira de modo a que a parte crua fique para baixo. Pelas beiradas, coloque um pouco de óleo e volte a frigideira ao fogo. Essa operação precisa ser bem rápida para que a torta não grude. Quando ficar dourada, deslize-a para o prato de servir, enxugue o excesso de óleo com papel absorvente e sirva. É uma delícia!!


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

SOBRE O AMOR E OS ENCONTROS

Eu, Elício  (fazendo a dedicatória de seu livro) e Olívia, cafezinho com literatura boa...



Ainda bem que só tem um jornalista aqui em casa. E daqueles à moda antiga, que consegue sentar e produzir um texto belo e tocante de olho no prazo para a conclusão. E que trabalha com o fato de que após a escrita ainda há um mundo de pequenas e grandes providências até que esse texto seja enfim apreciado pelos nobres leitores.

A edição, a diagramação correta, a escolha da foto se for o caso...escrever de forma profissional, penso eu, preserva a paixão mas exige disciplina, concisão, método...tudo que eu infelizmente não tenho. Sento para escrever as matérias aqui do blog quando uma vozinha interior praticamente me empurra. E se não for para fazer o texto de uma vez e de supetão, feito lava despencando vulcão abaixo, sinto muito: não sou eu.

Não sei fazer essa coisa bonita de burilar as palavras, mergulhar nelas e ir meio que desvendando os mistérios ali sutilmente escondidos, apara aqui, corta acolá, acrescenta ali um recheio de bolo com mais creme, ops, uma palavra mais doce. Minha emoção sai de uma vez, minhas saudades são as da hora, meu tempo é o hoje.

E depois que tive meus pequenos grandes meninos e que os danadinhos resolveram se lançar em vôo solo, como aliás fiz muito antes deles, no meu tempo, aí nem sempre as emoções me obedecem. Tem dias que a saudade aperta e a dor é quase física. Tem dias que tenho saudade até do que não vivi e começo a lembrar dos antigamentes e começo a pensar na época dos meus pais e dos bailes que eles frequentavam e o que eles comiam e os doces que meu avô português trazia para as filhas numa latinha, feitos por um senhor árabe que morava por perto...

E tenho saudade dos bolos que minha avó Mundiquinha confeitava e que não pude provar pois quando eu tinha idade de aprender ela já não os fazia mais. E penso na minha avó Maria e suas lindas galinhas assadas para os bingos, envoltas em farofa e embrulhadas em papel celofane, com umas azeitonas enfeitando o prato...não sou saudosista, antes que alguém mais desavisado e gentil me leve lencinhos bordados com renda, brancos e engomados, para que eu enxugue discretamente uma lágrima perdida.

Mas gosto de pensar no que passou e em como passou. Para mim, isso me dá a medida do presente e lança a orientação para o futuro. E tive dias atrás o prazer de conhecer de verdade dois queridos que já conhecia virtualmente. E neste caso, conseguimos deixar a tecnologia das redes sociais onde a meu ver, ela deve estar. Ajudando a estabelecer conexões, proporcionando encontros, não os substituindo.

Não poderia ser diferente, quando se trata de Elício e Olívia. Dois escritores, cada um a seu modo e estilo, unidos pelo amor e outros prazeres, entre os quais a literatura. Eu e Olívia já nos conhecíamos pela internet, onde seus comentários sobre as matérias do blog sempre me encheram de orgulho. Li seus livros, deliciosas crônicas sem outra pretensão que não a de ser verdadeira com seu tempo, com seu mundo, seus ideais. Uma mulher de carne e osso, sensível e apaixonada pela vida.

Elício, seu companheiro de alguns anos, o amor do tempo maduro, é de uma delicadeza ímpar. Não pudemos conversar muito, os poucos dias aqui passados foram bem disputados por parentes e amigos. Ganhamos um de seus livros de poemas, leitura leve e amorosa. Que prazer encontrar quem como eu, morre de ciúme dos seus livros (ainda que a vergonha de ter ciúme seja ainda maior), garimpados ao longo da vida.

Nos prometemos um café mais longo, no próximo encontro. Regado a mais gente, velha guarda prazerosa e que ainda gosta de ler um bom livro. E que ainda consegue conversar sem o olho grudado na próxima atualização do whatsapp. Simples assim. Momentos de acolhimento em que parecia até que nos conhecíamos há muito tempo. Daqueles que nem dá vontade que acabe. E que venham os próximos!

Para eles, dou aqui uma receita muito simples, mas que me acompanha desde que eu era garota e orgulhosamente alguém da família pedia meu chocolate quente. Não o faço mais com aquela marca famosa de achocolatado, que no meu tempo de menina e de lembranças, não era tão açucarado. É comida de alma, como diz a escritora e cronista Nina Horta. Serve para aqueles momentos de aconchego numa tarde chuvosa. Ou quando se quer dizer a alguém que a vida vale muito, muito a pena de ser vivida. Faça e me diga!



Delicioso, com um pauzinho de canela servindo de colher...


Meu chocolate quente fácil  

500 ml de leite integral
01 pauzinho de canela
02 gemas passadas na peneira e dissolvidas com um pouquinho de leite
01 colher de sopa de amido de milho dissolvido em um pouquinho de leite (opcional)
04 a 06 colheres de sopa de chocolate em pó (a gosto, aqui pode ser colocado um pouco mais ou menos. Se usar cacau em pó, diminua a quantidade)

Para a cobertura

02 claras em temperatura ambiente
04 a 05 colheres de sopa de açúcar e gotas de limão a gosto (eu gosto hoje em dia de usar o siciliano, mas qualquer limão serve)
raspas de limão a gosto (não colocar a parte branca)
canela ou chocolate em pó para polvilhar (opcional)

Modo de fazer

Numa panela de fundo grosso, coloque o leite e a canela em pau. Leve ao fogo, acrescentando as gemas dissolvidas no leite e mexendo bem após a adição, para que não talhem na mistura. É importante colocá-las com o leite ainda frio, se não tiver experiência. Mexa sempre, até ferver e cozinhar. Acrescente o chocolate em pó e mexa bem. Se preferir, coloque o amido dissolvido no leite, mexendo bem para que não empelote (mas as gemas já garantem cremosidade). Após ferver bem, retire do fogo e coloque nas xícaras em que vai servir, retirando antes a canela em pau. Coloque rapidamente as claras em uma tigela e bata até espumar bastante. Vá acrescentando aos poucos as colheres de açúcar, até que fique um merengue bem firme. Pingue as gotas de limão e acrescente as raspas. Despeje uma grossa camada desse merengue em cada xícara com o chocolate quente e polvilhe canela ou chocolate em pó. Sirva.

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Os livros da Olívia...




E o do Elício...




Todos os livros são edições dos autores, que bancam a própria impressão. O projeto gráfico é de Tancredo Maia Filho. Você pode encontrar as edições na Livraria Paim, em Rio Branco. Imperdíveis!!

Livraria Paim - www.livrariapaim.com.br