domingo, 26 de abril de 2015

DE ESQUINA PARA ESQUINA




A primeira vez que ouvi a música Sampa, cantada pelo Caetano Veloso,  tomei um baita susto. Estava descendo do ônibus, quase na esquina da escola para a qual tinha acabado de me transferir, em Fortaleza, após insistir muito com a minha mãe e acompanhar os primos que também estavam de mudança para lá. Tudo era novo, diferente. Aquela música entrou nos meus ouvidos feito uma explosão e marcou para a eternidade aquele meu momento especial de início de independência.

Não a escutei toda, é claro. Não dava tempo. Mas fiquei com o som na cabeça a caminho da escola e jamais esqueci aquele dia. Levei um tapa. Carinhoso, é verdade. Na minha memória, me vejo caminhando pelo corredor do ônibus rumo à porta, bem devagar para aproveitar melhor a canção. Era eu, adolescente, rodeada de coisas novas, amigos novos e sem a rede de proteção mais próxima de pai, mãe e irmãos . Tinha que fazer render a mesada, pegava ônibus sozinha e era quase, quase, minha própria dona. Claro, tinha todas as restrições normais da idade e de morar com a avó e perto dos tios, mas agora, com um poder de decisão bem maior. Ou assim eu me sentia.

Apesar dos quatorze anos recém-completados, nunca fui roqueira. Sempre gostei de música popular brasileira e embora meus maiores ídolos bebessem nessa fonte, não me aproximei do rock em nenhum momento da vida. Só muito mais tarde pude atenuar essa ausência, ainda que não de forma total. E desde muito nova já morria de amores pelo Milton, Chico Buarque e Caetano, meus preferidos à época. Em Fortaleza, aprendi a amar Adoniran Barbosa. No último ano da escola, aos sábados havia uma roda de música. Um dos colegas, que se chamava Ednardo, vinha de uma família musical. E levava para o colégio seu cavaquinho, tocado de ouvido. Cantávamos todos juntos até o tocador cansar e termos que ir para casa.

Eram os melhores momentos do dia para mim. Até hoje os versos do Adoniran ecoam na minha cabeça junto com as risadas dos vários colegas que faziam dos sábados momentos muito especiais.

"...De tanto levar "frechada" do teu olhar
Meu peito até parece sabe o quê
"Tálbua" de tiro ao "'álvaro"
Não tem mais onde furar..
.
E vejo de novo o Ednardo, magrinho, com seu cabelo muito fino e escorrido, a nos deleitar com músicas que passaram a fazer parte da minha história de vida. Lembrei-me de tudo isso ao ligar o rádio um dia desses e me deparar com a mesma Sampa da minha adolescência, na voz de uma outra cantora, a quem não reconheci, numa interpretação que não lhe fez justiça, a meu ver. Mesmo assim, provocou-me uma enxurrada de boas lembranças. Me aventurei cedo no mundo, sempre com total apoio dos meus pais, que me deram liberdade para voar.

Minha mãe morria de saudades e chorava todo dia quando resolvi ir para o Ceará. E eu fui toda sorridente. Tive que lembrar bem disso quando foi a vez dos meus próprios filhos quererem zarpar. Quase me acabei quando o mais mais novo decidiu ir embora para uma cidade onde nunca tinha pisado os pés, morar sozinho e se virar com uma faculdade que exige dedicação absoluta e muita disciplina. Mas eis que o rapazinho tem sobrevivido muito bem e, à exceção dos Miojos da vida, eterna fonte de discordância da mãe cozinheira, ele tem dado um show.

Tive que exercitar muito o desapego, não sem dor. Mas finalmente compreendi que o amor é maior que a distância e que eles estão longe dos olhos, mas sempre perto do coração.  Lembrei dos meus pais e sequei as lágrimas com as lembranças das saudades que eles sentiram na minha época e com a oportunidade que meus filhos estão tendo de aprender coisas novas e amadurecer mais rápido.

E para celebrar esses ritos de passagem, nada melhor do que um som na caixa, amigos queridos e uma comidinha especial. Então, aproveite e faça esse filé com molho de castanha do Brasil. É fácil, rápido e tem um sabor leve e muito saboroso. Sirva com um arroz sete grãos acrescido de passas e um bom azeite. Se quiser exagerar no carboidrato, se jogue nessa batata também (veja em http://mesanafloresta.blogspot.com.br/2013/02/para-confortar-alma.html). Um bom vinho e a conversa vai longe. Bom apetite!





Filé ao molho de castanha do Brasil

Ingredientes

para o filé

06 a 08 bifes grossos de filé (aproximadamente três dedos de espessura)
sal e pimenta do reino moída na hora, a gosto
Óleo ou azeite, para a fritura

Para o molho de castanha do Brasil

02 xícaras de castanha crua, mas não fresca (a que se compra em supermercado, levemente desidratada)
02 xícaras de água
sal e pimenta do reino a gosto
Pimenta rosa (sementes de aroeira) para enfeitar e aromatizar 

Modo de fazer  

Para o filé

Aqueça bem uma chapa de ferro ou frigideira grossa. Acrescente um pouquinho de azeite ou óleo de boa qualidade, gire a frigideira para que ela fique toda untada e coloque os bifes, no máximo dois por vez. Deixe selar de cada lado por alguns minutos. Caso vá servi-los em seguida, observe o ponto para que a carne não perca a maciez e nem fique dura. Retire os bifes e reserve-os em uma travessa. Frite os demais e arrume-os todos na travessa. Desligue o fogo. Após alguns minutos, recolha o suco que se desprendeu da carne e coloque na frigideira. Acrescente o leite da castanha coado e deixe ferver por alguns minutos, até que engrosse um pouco. Ajuste o sal e a pimenta, caso deseje. Arrume os bifes com cuidado na frigideira e deixe ferver por uns dois minutos, sem mexer. Retire-os e arrume-os no prato de servir. Caso demore a servir, deixe o molho na frigideira e esquente-o na hora de levar o prato à mesa, derramando-o por cima dos filés. Enfeite com a pimenta rosa e sirva. 

Para o molho

Bata muito bem a castanha com a água no liquidificador, até virar um creme. Coe com cuidado em pano limpo, bem fino. O bagaço pode ser congelado e usado para bolos e biscoitos. O leite restante deverá ser acrescentado à frigideira em que os bifes foram fritos, com o suco da carne após a fritura, até engrossar um pouco. De preferência, fazer o leite o mais perto possível de fazer o molho ou dar uma ligeira fervura, se demorar a usar. Também pode ser congelado.

Para a montagem

Na travessa de servir, arrume os filés, derrame o molho a gosto e enfeite com a pimenta rosa. Sirva com arroz sete grãos ou arroz branco, ou batata assada.

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Para saber mais:

Sampa - veja e ouça em http://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/sampa.html

Tiro ao Álvaro - veja e ouça http://www.vagalume.com.br/adoniran-barbosa/tiro-ao-alvaro.html

Dedicado ao meu amigo Ednardo, a quem não vejo há mais de trinta anos e a todos os colegas e professores do colégio Christus - 1979 a 1981



domingo, 12 de abril de 2015

DIA DE PEIXE

Arroz com azeite de jambu, surubim frito empanado na farinha de mandioca, farofa de jambu, gominhos de limão e um pouco do azeite temperado para enfeitar...




Peço desculpas, mas estou com várias postagens atrasadas aqui no blog. Estou em um longo tratamento para amenizar sequelas de uma Ler/Dort tão antiga quanto desaforada, um tempo bem corrido, cheio de afazeres prazerosos, e tenho cozinhado pouco, pois não posso me exceder de jeito nenhum. Se tem uma coisa boa que o tempo nos faz, é adquirir sabedoria para saber quando parar, ou melhor, quando diminuir.

Estou nesse exercício, o que nem sempre é fácil para mim, acostumada a fazer tudo ao mesmo tempo e agora, mas é preciso. Mas não me entrego. Então, é trabalho, fisioterapia, exercício para os pés, para o joelho, ombros e cotovelos. Pensaram que era só nos braços? Que nada, para quem gosta de muito, sofrimento pouco é bobagem, então também tenho esporão de calcâneo e mais alguns penduricalhos. Ou seja, de novo: não posso exagerar.



Assim, acompanhada da minha fiel escudeira Ivone, fui no sábado ao mercado e enchi-a de sacolas de compras, uma vez que não posso pegar peso: compramos açaí batido na hora e farinha de tapioca, surubim fresco, filé de pirarucu bem cheiroso, jambu, farinha de mandioca e gordas costelinhas de porco para o maridão. Uma farra só.

Logo cedo, no domingo, com muito cuidado, cortei verdurinhas  e preparei uma farofa com peixe que ficou uma delícia. Como não posso me esticar na prosa, passo a receita para que vocês façam em casa, aproveitando a semana santa que está na porta. Bom apetite!

(Esse post foi feito antes da Semana Santa mas não concluído. Resolvi manter o texto original)







Surubim empanado na farinha de mandioca, com farofa de jambu e arroz com azeite de jambu 

Ingredientes

Para o peixe

01 kg de surubim fresco, cortado em postas, já sem pele e espinhas
Sal e limão
Farinha de mandioca crua, batida no liquidificador, para empanar
Óleo para a fritura

Para o azeite de jambu

1/2 xícara de azeite extravirgem de boa qualidade
07 a 08 ramos de jambu fresco com talos, folhas e flores (desprezar os talos mais duros)

Para a farofa de jambu

01 colher de sobremesa de manteiga
02 colheres de sobremesa de óleo
01 colher de sobremesa de alho picadinho 
02 colheres de sobremesa de cebola bem picada
01 colher de sobremesa de pimenta vermelha doce bem picada (na falta, use pimentão vermelho picadinho)
01 colher de sobremesa de pimentão verde bem picado
03 colheres de sobremesa do bagaço de jambu batido com o azeite (depois de passado na peneira para retirar o azeite, sobra este bagaço)
01 maço pequeno de jambu (talos, flores e folhas), já lavado e seco
Sal e pimenta do Reino a gosto
Farinha de mandioca quanto baste (entre 1,5 a 2 xícaras aproximadamente. Não deve ficar seca demais, por isso coloque a farinha aos poucos. Talvez não precise colocar tudo).

Para o arroz

01 colher de sobremesa do azeite de jambu
02 colheres de sobremesa do bagaço de jambu
02 xícaras de arroz branco cozido

Para acompanhar

Gominhos de limão sem a casca nem a parte branca, a gosto
Azeite de jambu, a gosto

Modo de fazer

Para o peixe

Lave as postas e escorra. Numa vasilha, coloque as postas, um pouco de água e suco de limão e deixe por uns cinco minutos. Lave novamente e escorra. Coloque mais sal do que o necessário para temperar cada posta e deixe por dez minutos. Lave de novo, retirando o excesso de sal. Enxugue cada posta com papel toalha ou um pano de prato bem limpo e reserve. Passe cada posta na farinha de mandioca batida no liquidificador até empanar bem. Frite em óleo quente, poucos pedaços por vez. Escorra um pouco, de preferência em uma grade de metal e sirva com os acompanhamentos.

Para o azeite de jambu

Amorne muito levemente o azeite numa frigideira. Coloque o jambu e aguarde uns cinco minutos. Bata o azeite com o jambu no liquidificador, até ficar muito bem misturado. Coe o azeite e reserve em um vidro ou tigelinha. Aproveite o bagaço que sobrou na farofa e arroz. Obs: esse azeite fica com um tom de verde bonito, mas tem um sabor bem suave de jambu.

Para a farofa de jambu

Numa frigideira larga, coloque a manteiga e o óleo, em fogo médio. Acrescente o alho e a cebola e deixe dourar um pouco. Coloque a pimenta doce vermelha (ou pimentão), o pimentão verde e o bagaço de jambu. Deixe fritar um pouquinho. Acrescente o ma,o de jambu, sal e pimenta a gosto e deixe que ele murche um pouco, mexendo de vez em quando. Diminua o fogo, acrescente a farinha e vá mexendo até que fique os ingredientes fiquem bem incorporados. Desligue o fogo e reserve numa tigela até o momento de servir.

Para o arroz de jambu

Numa frigideira em fogo baixo, coloque o azeite e o bagaço de jambu. Acrescente o arroz cozido e mexa até incorporar bem. Reserve numa tigela até a hora de servir.

Para servir

Monte os pratos como a foto de cima ou coloque em travessas para os convidados se servirem. Acompanhe com gominhos de limão, o azeite reservado e, se desejar, uma boa pimenta.