domingo, 25 de março de 2012

PREPARAÇÃO PARA A DIETA



Tortinhas prontas para degustar...


Com um bom requeijão...


Segunda-feira, todos sabem, é o dia internacional da dieta. Na terça, os excessos do fim de semana começam a diminuir gradualmente aquela sensação de culpa que se instala, invariavelmente, no domingo à noite, pelo menos para mim. Faço promessas insanas de me matricular cedo na academia no dia seguinte, pendurar bilhetes ameaçadores na porta da geladeira, levar marmitinhas com frutas picadas e legumes crus para o trabalho e mais algumas ideias menos cotadas. Tudo em vão. Na quarta, já estou pensando se vai dar pra testar alguma receita nova no sábado de pouco tempo e minhas revistas culinárias já estão sendo folheadas sem cerimônia, numa falta de vergonha total.

Pensando nisso e no estresse que me causa, resolvi partir para a redução de danos: palavra bonita, na moda, com uma fundamentação mais que explicada, fiz um acordo comigo. Nada de cancelar assinaturas de revista, deixar de comprar meus livrinhos de culinária ou mesmo parar de cozinhar. Farei o que eu quiser, desde que (essa é a ideia chave) eu divida com a família e os amigos as aventuras, ou melhor, o resultado das aventuras com as panelas e mais importante, comerei apenas uma pequena porção, destinada, é claro, ao controle de qualidade necessário.

Também me dei ao luxo de não exigir muito de mim. Crianças, não me copiem, mas faltei neste sábado à aula de Inglês que eu adoro, apesar de ter resistido durante anos à essa imposição linguística: sabe como é, para morar no Brasil parece que precisamos falar inglês. Afinal, os delivery, o shopping, cheeseburguers e milkshakes já estão bem incorporados à nossa rotina, para lembrar de três ou quatro palavrinhas mais imediatas. (Pensem, hoje ainda é domingo, nada de dieta). Para não falar de um verbo recentemente criado, que eu realmente não tolero, usado e abusado por todo executivo de plantão. Afinal, quem já não escutou em alguma reunião a palavra startar?  Sei, sei que muitas das palavras que hoje utilizamos vem de corruptelas do inglês, mas essa como está em processo de criação, me incomoda, fazer o quê?

Nesse processo de mudança de trabalho, tenho procurado aproveitar cada atividade cultural, participando delas com um outro olhar e uma responsabilidade adicional e isso tem sido muito prazeroso. Nesta sexta, fui à Escola Acreana de Música - EsAM, ligada à Fundação de Cultura Elias Mansour, onde a convite do Dircinei, diretor do espaço, bem como toda a sua equipe, assisti à cantora Dina Blade, americana de Seattle, EUA. Num show (olha aí a língua de novo) imperdível, dentro do projeto Sexta Tem, criado pelo pessoal da Escola, totalmente gratuito, ela cantou bossa nova e encantou a todos. Mas, eu chorei mesmo foi quando ela explicou à platéia que havia aprendido uma música acreana, por gostar muito daqui e com seu vozeirão, começou a cantar "Adeus, Acre querido, Rio Branco do meu coração, no meu peito fica uma saudade...",  música do Da Costa, cantor e compositor acreano, ainda não tão valorizado por aqui, desconhecido de muitos dos nossos jovens curtidores do estilo sertanejo.

Fiquei completamente embasbacada, com um nó na garganta. Minha vida passou pela minha cabeça, meus vinte anos fora do Acre, minha terra, minha gente, os sabores, estava tudo ali, na voz levemente rouca da Dina. Thank you, Dina! Se quiser, ouça no You Tube a canção Acre Querido na voz original do infelizmente já falecido compositor:

http://www.youtube.com/watch?v=YAIjIJv2UQE&feature=colike

Na quinta, no dia anterior, havia assistido na Biblioteca da Floresta, outro espaço ligado à FEM, a convite do Marcos Afonso, diretor do espaço, uma palestra muito interessante, na verdade um diálogo capitaneado pelo Fernando França, artista plástico e amigo de longuíssima data, com Toinho Alves, Sílvio Margarido, Dalmir Ferreira e quem mais quis interagir. Com voz suave, Fernando falou da sua trajetória, desde o amor pelos quadrinhos e a influência deles em sua obra, até suas mais recentes criações, não por acaso um livro belíssimo intitulado Diálogos. Nele, Fernando retratou os mais expressivos artistas plásticos com ênfase na pintura atuantes no Ceará. Nos quadros do Fernando, exibidos na palestra em power point (olha a língua), cada artista retratado também pintou dentro do quadro uma obra de sua autoria, criando um efeito bem interessante que também remete à linguagem dos quadrinhos, com os balões. Você pode acessar essas notícias no www.ac.gov.br, vale a pena.

Para rebater tanta belezura, esbarrei numa receita antiga, publicada na revista Prazeres da mesa n.18, de nov/2004 de autoria de Magda Ortiz, do restaurante Fogo Caipira, de Campo Grande, MS, a tortinha de goiabada cascão com requeijão. Como não tinha doce caseiro, improvisei com uma boa goiabada e usei uma geléia de cupuaçu, para criar outras possibilidades. Acompanhe com um requeijão de sua preferência e bom apetite!

Ah, ia esquecendo: a experimentação de quitutes também contemplará os leitores do blog, muitos dos quais já até me tornei amiga, portanto de vez em quando sortearei por aqui uma guloseima, para aqueles que comentarem o post do dia no próprio blog. O resultado será apresentado no blog e no facebook (olha a língua) e a forma de entrega negociada com o ganhador. Esclareço que o prêmio não necessariamente será o quitute do dia, por questões de logística.

Tortinhas de Goiabada Cascão com Requeijão (Adaptada)

Ingredientes

Para a massa

200g de manteiga, aproximadamente
2 ovos inteiros, em temperatura ambiente
1 pitada de sal
180g de açúcar
1 colher de sobremesa de fermento em pó
1/4 de colher de sopa de canela em pó
1/4 de colher de sopa de cravo em pó
3 xícaras de chá de farinha de trigo
 
Para o recheio

400g de goiabada cascão ou comum ou geléia de cupuaçu
60 ml de água
60 ml de pinga ou grappa
 
Acompanhamento

250g de requeijão firme

Modo de Fazer

Recheio

Leve ao fogo, com a água, a goiabada picada. Mexa até obter ponto de geléia. Misture a bebida utilizada e mexa, de maneira que evapore um pouco com o cozimento. Reserve.

Massa

Misture bem a manteiga, ovos, sal, açúcar e fermento. Adicione a farinha aos poucos, a canela e o cravo até obter uma massa que não desgrude das mãos. Não misture muito. A receita original mandava acrescentar uma quantidade menor de manteiga, mas não daria liga, portanto atenção ao ponto. A massa deve ficar unida e macia. Deixe descansar por meia hora. Abra-a com as mãos, em pequenas porções, em forminhas para torta ou quiche. Se não tiver, utilize as de empada. Fure-as com um garfo, coloque o recheio de goiabada ou geléia de cupuaçu. Faça cordões fininhos e decore as tortinhas. Leve-as para assar em forno moderado, por aproximadamente 20 minutos. Sirva-as mornas, polvilhadas com canela, com uma porção de requeijão do lado. É uma perdição!


As tortinhas, saídas do forno...

domingo, 11 de março de 2012

PARA NÃO CORRER

Pão com chocolate meio amargo derretido...
  
     

Estou nesse momento de frente para a janela da minha cozinha, onde um pé de cupuaçu ainda bebê convive pacificamente com um pequeno cajueiro, os dois à sombra de uma caramboleira. Daqui a alguns anos, não sei quais frutos estarão sendo colhidos, mas as árvores muitas vezes nos dão uma lição de tolerância. Dividem os passarinhos, sombreiam umas às outras e, se não tiver jeito, que vença a melhor. Sementes ruins não vingam, excessos são desnecessários. Simples assim.

Nós é que complicamos muito. Vivemos correndo como se o mundo fosse acabar agora. Sentamos no restaurante com os aparelhos ligados e nossas conversas são frases  rápidas entre ligações telefônicas intermináveis.  Se o passado previsse onde o futuro nos deixou, veria alguns zumbis desatenciosos com o momento presente, observando a vida acontecer pela internet.

Não sou absolutamente contra a tecnologia, é claro. Afinal, publico estas linhas no universo on line e tenho muito prazer com isto. O que me incomoda é a sensação de urgência em que me sinto mergulhada e a falta de força para resistir,  por isso escrevo.  Não dizem que as palavras tem poder? Pois então! Quero minha xícara de chá rodeada de biscoitos caseiros, quero bolo esfriando na janela. Quero pão caseiro inundando a casa de cheiros. Quero... desacelerar!

Temos um grupo chamado Sociedade Philosophia, criado pelo meu maridinho, onde ele gentilmente nos brinda com aulas lúdicas, músicas, poesia, enfim, filosofia para ser feliz. De quebra, nos ajuda a pensar o mundo, por que não? Bom, dentro desse trabalho, foram realizadas algumas imersões dentro do Seringal Cachoeira¹, em Xapuri, onde fomos para a floresta, sentimos o modo de vida dos seringueiros, voltamos às nossas origens. Na pousada rústica tocada pela comunidade local não tem celular, a televisão raramente é ligada e o que se ouve bastante é o som da mata, com a ajuda dos pássaros, macacos e outros bichinhos maiores.

Na primeira imersão, o grupo, formado por mais ou menos cinquenta pessoas, tinha estudantes, funcionários públicos, advogados, enfermeiro, fotógrafo, todos carregando a cidade na alma e com a cidade, a correria. Na primeira palestra, realizada por Francisco Pianko, à época Assessor para Assuntos Indígenas do Governo estadual, ele mesmo da tribo  Ashaninka, começamos a perceber onde estávamos: com a fala mansa, ele ia discorrendo sobre a cultura de seu povo numa velocidade de conta-gotas e as pessoas iam se remexendo nas cadeiras. Estavam  desacostumadas de ouvir alguém falar lentamente, com tranquilidade.  Aos poucos, aquela conversa foi nos conectando com o mundo, com a floresta ali do lado. Começamos a entrar em outro ritmo, devagar, devagar, devagar. Foi uma das melhores experiências da minha vida.

É pena que não dure muito, mas precisamos fazer um esforço. Conversar de verdade, sem pressa. Olhar nos olhos, ouvir as pessoas, não atropelar. Ter calma. Ter paciência. Deixar fluir. Celular desligado, de vez em quando. Visitar a mãe e o pai. Ouvir piadas, esticar as pernas. Andar, sem necessariamente precisar chegar a algum lugar. Respirar. Quero ver “O Artista” ², o cinema em preto e branco. Mas também quero rever “Meia-noite em Paris”², com aquelas luzes maravilhosas. De quebra, fazer uma roda de conversa. Amigos, risadas, petiscos para confortar.  Nossos “... ombros suportam o mundo”³, mas é possível fazer uma trégua para ser feliz.
          
Pãozinho para comer sem pressa...
Mona de Pascua  ( Rosca de Páscoa - extraída e adaptada da Revista Gula n. 185 – mar/2008)
Ingredientes:
Para a esponja:
3 colheres de sopa de fermento para pão fresco ou seco
100 g de açúcar (mais ou menos ½ xícara de chá)
½ xícara de chá de água morna
3 colheres de sopa de farinha de trigo

Para a rosca:

6 xícaras de chá de farinha de trigo
1 colher de sopa de sal
6 ovos crus em temperatura ambiente
½ xícara de chá de óleo de boa qualidade
Água morna
1 colher de chá de água de flor de laranjeira (opcional)
1 gema passada na peneira e misturada com 01 colher de sopa de óleo para pincelar a massa antes de assar
Geléia, chocolate meio amargo em tablete, castanhas ou amêndoas para rechear a massa
Açúcar de confeiteiro, se desejar

Modo de fazer:

Para a esponja:

Dissolva o fermento com o açúcar em uma tigela, acrescente a água morna e a farinha de trigo. Misture e deixe descansar por 15 minutos ou até formar bolhas. Reserve.

Para a rosca:

Peneire a farinha de trigo, acrescente o sal, os ovos, o óleo e a água de flor de laranjeira, se usar. Junte a esta massa a mistura fermentada (esponja) e acrescente um pouquinho de água morna, caso seja necessário (se a massa parecer muito firme). Sove bastante a massa numa superfície enfarinhada e após, faça uma bola e a coloque para crescer num lugar sem correntes de ar (um forno desligado, por exemplo).
Após a fermentação (Pelo menos 1h depois ou quando a massa estiver bem crescida e leve), despeje-a numa superfície enfarinhada e abra-a com o rolo, de preferência. Recheie a gosto, com geléia, pedaços de chocolate, nozes, castanhas ou até mesmo queijo, creme de frango ou palmito, enfim, o que desejar. Enrole como rocambole, pincele com a gema dissolvida no óleo e coloque para fermentar novamente em assadeira untada e enfarinhada.  Quando estiver bem crescida, coloque para assar em forno previamente aquecido,  até dourar.
Como cada forno tem tempos diferentes, fique atenta (o): caso tenha dúvidas, abra o forno e dê uma pequena batida no centro do pão, com o punho fechado. Deve produzir um som oco.
Caso não coloque recheio, sirva com manteiga ou requeijão, enfim, o céu é o limite. Aproveite, é uma delícia!


 

Citações:    
¹Pousada Ecológica do Seringal Cachoeira – Xapuri, Acre.
²  http://cinemacomrapadura.com.br  - site de críticas e informações sobre cinema
³ Os Ombros Suportam o Mundo, de Carlos Drummond de Andrade.



domingo, 4 de março de 2012

REMEDINHO PARA A ALMA

Placa afixada em loja onde funcionou a farmácia do meu avô, na rua 17 de Novembro

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Estamos aqui no Acre passando por uma das piores enchentes das últimas décadas. A capital, Rio Branco, viu seus bairros serem tomados pela força das águas e algumas cidades do interior,  como Brasiléia, serem praticamente destruídas. Nesse cenário de guerra, o pronto atendimento do Governo Estadual e da Prefeitura Municipal, com a ajuda de uma força tarefa nacional (além de um contingente gigantesco de voluntários e funcionários públicos no cuidado aos desabrigados), tem minimizado o sofrimento de milhares de famílias.

Verdadeiras cidades foram montadas em alguns espaços públicos, que contam com infraestrutura para atender desde a alimentação, saúde, segurança, até o lazer, através do cinema, do teatro, da contação de histórias. Grandes e pequenos cuidados que devolvem ao cidadão a certeza da solidariedade e a esperança de retorno às suas casas, que já começaram a ser limpas e higienizadas,  juntamente com as ruas.

É difícil falar de comida em meio a tanto sofrimento e confesso que não consegui produzir nem mesmo uma linha. No lindo prédio do meu atual trabalho, histórico, a água levantou assoalho, manchou paredes e nos obrigou a desmontar móveis e equipamentos, retirar aparelhagens de som e vídeo, suspender quadros e mesas, guardar caixas e mais caixas de documentos em local seguro, numa ação que começou no carnaval e ainda não terminou, com as providências de limpeza para o retorno. Por sorte, a legião de servidores deu um show e fora o que não se podia remover, como pisos de madeira completamente destruídos, nada foi perdido.

Na 17 de Novembro, onde se situa a Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour, meu atual trabalho, deparei-me com esta placa da foto aí de cima. Nesta rua, de frente para o rio, funcionaram algumas das mais antigas casas comerciais da cidade . Meus dois avôs tinham lojas aí: o paterno, Raimundo "Madri", era dono de uma mercearia, além do pequeno hotel Libanês, na rua de trás. Do materno, dono da farmácia Central, tenho do seu trabalho uma única forte lembrança, que me é muito preciosa. Lembro de vovô, o português Aníbal Lopes,  manuseando vidrinhos de mercúrio cromo e violeta genciana, muito usados antigamente. Eu devia ser bem pequena.

Da mercearia do vô Raimundo, como já disse em outro post, tenho mais lembranças, pois sempre passava com olhos pedintes e recordo-me também do hotel, onde minha avó preparava umas galinhas de respeito.

Soube recentemente que minha avó paterna, Maria, preparava sua própria massa de macarrão e pastel.  Tenho dela uma lembrança deliciosa. Acho que eu devia ter aí uns três ou quatro anos e lembro bem que não alcançava a mesa da cozinha onde estavam sendo feitas balas de cupuaçu para um aniversário. Lembro que ficava na ponta dos pés para alcançá-las. Passei mais de quarenta anos para comer novamente as tais balas, no casamento de um primo. Elas tem uma cobertura branca durinha de açúcar e por dentro, vai doce de cupuaçu, um deleite. Mas, não consegui encontrar a autora das balinhas para pedir a receita.

Portanto, na falta das balas de cupuaçu à moda antiga, resolvi fazer um mingau de castanha do Brasil (ou do Pará, como ela é mais conhecida)  para recuperar as forças e ter energia para esses dias ainda chuvosos. Numa boa caneca de ágata, quentinho e com bastante canela, não há problema que não se resolva, igual se aninhar em colo de mãe. As quantidades são indicativas e podem ser alteradas de acordo com o gosto pessoal.



A caneca de mingau, quentinha: mais comfort food, impossível

Mingau de castanha

Ingredientes

2 a 2,5 xícaras de leite integral
10 a 15 castanhas do Brasil (ou Pará), cruas
2 a 3 colheres de sopa de açúcar
1 pitada de sal
1,5 colheres de sopa de amido de milho diluídas em um pouquinho de água ou leite
canela a gosto
1 colher de sopa de infusão de vodka com fava de baunilha (opcional) - aprendi aqui: http://pratofundo.com/307/extrato-de-baunilha/

Modo de fazer

Coloque no copo do liquidificador o leite, as castanhas, o açúcar e  o sal, batendo muito bem. Leve ao fogo e perto de ferver, acrescente o amido de milho diluído, devagar e mexendo com uma colher, para não empelotar. Por último, coloque a infusão de vodka, se usar. Deixe ferver até engrossar, distribua em canecas e polvilhe canela a gosto.
Bom apetite!


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Esse post é dedicado ao meu tio Airton Rosas, o Velho do Baú, recentemente falecido em Fortaleza - Ceará - com muito carinho de toda a sua família
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Para quaisquer informações sobre ajuda aos desabrigados, bem como números de contas bancárias para contribuição, notícias, fotos, acesse www.ac.gov.br/, no link da agência de notícias.