Tem muita gente que aproveita a viagem de férias para ir aos cinemas e teatros, conhecer bons restaurantes, ir naquela praia badalada ou simplesmente descansar à sombra de um coqueiro, numa rede preguiçosa. Alguns outros, entre os quais me incluo, acrescentam à essas atividades prazerosas uma outra, tão especial quanto: ir aos mercados de frutas e verduras da cidade, encher a mala de ingredientes especiais e não tão corriqueiros, livros de culinária e aquela faca que corta até no vento, como se diz por aqui.
Para essa categoria de pessoas, cozinhar é muito mais do que um prazer, um estilo de vida ou vontade de agradar. Expressa antes, uma cultura, um pertencimento ao lugar de onde se vem, aos produtos da região ou é claro, aos produtos e modos de fazer de outras terras, que vem há séculos se misturando entre os povos e provocando uma globalização não tão reconhecida como tal, mas muito clara.
Por isso aqui no Acre adoramos a culinária árabe, fruto de uma leva de imigrantes que aqui se estabeleceram e foram misturando sua cultura, adaptando suas receitas e criando outras que hoje fazem parte do nosso inventário gastronômico local. Assim também foi com os pratos indígenas, com a manipueira, com os pratos portugueses, que por sua vez já sofreram a influência árabe, entre tantas outras e se formos puxar o fio dessa história, talvez ela não tenha fim.
Por sua vez, a curiosidade por novos produtos faz com que sabores e cheiros fiquem na minha memória por anos, escondidos em pequenas caixinhas, aguardando pela identificação futura e pelo uso ou usos possíveis para determinados ingredientes. Foi assim que já adulta, ao comer um prosaico cachorro-quente em um dia comum, na lanchonete das Lojas Americanas em Fortaleza deparei-me com um sabor perdido no tempo das minhas primeiras lembranças gastronômicas.
Tal qual o crítico de Ratatouille, que mergulha no seu próprio passado ao alimentar-se do prato que dá título ao filme, ao provar aquele pão com salsicha, à época adornado com um molho de cebolas, tomates e pimentão verde, vi-me com cinco anos de idade, na frente do prédio dos Correios de minha cidade natal. Na mão, um cachorro-quente com o mesmo, inconfundível cheiro de cominho, especiaria até então desconhecida para mim. Lembro que na hora pensei: "Achei o sabor daquele prato, que tanto me fascinou o paladar"
A partir daí, jamais deixei de utilizar o cominho no molho do cachorro-quente a ainda ampliei para outras preparações o seu uso. Por isso, quando também em Fortaleza, frequentei um restaurante alemão chamado Hofbrauhaus durante um bom tempo, não descansei até descobrir que sementinha era aquela que quando mordida, dava um gosto tão especial aos seus picles. Tanto fiz que consegui reproduzir em casa o seu sabor, depois de alguns testes. Açúcar junto com o sal, a água e o vinagre, pimenta de cheiro inteira e a estrela maior, o zimbro.
É por isso que essa conserva de carne, feita com lagarto, cebola e pimentão verde usa e abusa desse toque diferente e delicioso. Aqui em casa, meu filho mais novo despeja um pote no prato e em minutos só ficam as lembranças. O zimbro não é vendido ainda em Rio Branco, mas nada que um amigo frequentador do mercadão de São Paulo ou de algum empório bacana em outras paragens não possa providenciar. Se não conseguir, não se aperte. Faça apenas com a pimenta do reino inteira e inclua-o na sua próxima lista de compras, vale a pena!
Conserva de lagarto com zimbro
Ingredientes
01 pedaço de lagarto com aproximadamente 1,2 kg, sem limpar
1/2 xícara de água
1/2 xícara de vinagre
sal a gosto
Pimentão verde sem sementes e cebola branca em rodelas, quanto baste
alho fatiado a gosto
grãos de zimbro e pimenta do reino, inteiros, a gosto
Azeite de oliva quanto baste (por favor, use o melhor azeite possível)
Vinagre de maçã quanto baste
Sal, se necessário
Potes esterilizados
Modo de fazer
Numa panela de pressão, coloque o lagarto, a água, o vinagre e o sal. Leve ao fogo e deixe na pressão até que o líquido seque. Tenha cuidado para que a carne não queime, ela não precisa ficar totalmente macia, pois será cortada em lâminas finas. Retire da pressão, embale em papel alumínio após esfriar e leve à geladeira de preferência até o dia seguinte. No dia seguinte, retire a carne da geladeira, descarte o papel alumínio e numa tábua, retire pele e gorduras, se for o caso, deixando apenas a carne limpa. Com uma faca afiada, corte em fatias finíssimas. Reserve. Em um pote esterilizado, disponha três ou quatro fatias da carne, uma pitada de sal, rodelas de pimentão e cebola e alho fatiado a gosto. Acrescente grãos de zimbro e pimenta do reino inteiros e se desejar, esmigalhe alguns grãos de zimbro para dar mais sabor, pois é um tempero bem suave. Coloque azeite e vinagre aproximadamente na proporção de três partes para um e vá intercalando as camadas, apertando-as de vez em quando até chegar à boca do vidro. Complete com mais azeite e vinagre e uma pitada de sal, prove o tempero, vede com filme plástico ou papel alumínio, tampe e coloque na geladeira, sacudindo de vez em quando. Maravilhoso para comer com pão ou puro, acompanhando uma boa cerveja!
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Para saber mais sobre o zimbro:
http://natural.enternauta.com.br/plantas-medicinais/zimbro-propriedades-medicinais/
Patinhaaaaa, agua na boca com esse mimo de receita é pouco. Bjus
ResponderExcluirOi, querida prima Déia,
ResponderExcluirque prazer ver seu comentário! Realmente, esta conserva é tão boa que mal fica pronta nem dá tempo de curtir uns dias, é logo devorada! Faça que você vai adorar!
Um beijão,
Patrycia