domingo, 30 de junho de 2013

NOVO MERCADO VELHO

Fachada do Mercado Velho depois de revitalizada


Quando eu era bem pequena, lá pelos cinco ou seis anos, adorava ir com minha mãe ao Centro. Na minha cabeça de criança, aquele mundo de lojinhas grudadas umas nas outras, onde se comprava roupas e sapatos, aviamentos diversos, discos e é claro, comida, era um verdadeiro paraíso. Lembro dos plásticos coloridos para proteção do sol forte ou da chuva torrencial que às vezes caía em frações de segundos, quase sem dar tempo aos feirantes de
recolher a mercadoria. Esses toldos improvisados emendavam-se uns aos outros e tenho muito nítida a lembrança de caminhos tortuosos que ficavam ali, colados ao Mercado.

Nessa época, mamãe me levava para comer umas bolinhas encharcadas de mel, que eram servidas geladas, com uma calda em volta. A sensação de espetar uma bolinha perfumada, bem encharcada e doce, era muito prazerosa. Descobri muito depois que as tais bolinhas eram um doce árabe chamado auemê, mas nunca mais as comi. (Leia meu primeiro artigo no blog Varal de Ideias, do meu querido companheiro Marcos Afonso e os comentários, entre eles a receita do auemê, escrita pela querida Leila Jalul, entre outros talentos, escritora de primeira hora: http://www.varaldeideias.com/1/?m=200805&paged=3)

Não lembro ou não vivi a época em que ali também se vendia carne, mas estão na memória as pensões com seus panelões de mingau e o pão de milho (cuscuz) regado com uma dose generosa de leite de castanha. O tempo passou e em 2005, nas gestões do Governador Jorge Viana e do prefeito Raimundo Angelim, a rua inteira foi revitalizada, como parte da recuperação da memória de nossa cidade e do nosso Estado. Essa revitalização, fruto de uma decisão política para a melhoria do nosso espaço público, também revitalizou um ano depois o Mercado Velho, que passou a se chamar Novo Mercado Velho, inaugurado na década de 20 e um patrimônio da nossa cultura local. (Para saber mais, veja em http://pagina20.uol.com.br/08082006/especial1.htm

Os feirantes e comerciantes, alguns há cerca de 40 anos no local, foram realocados para as lojinhas dentro do Mercado, onde as pensões também tem lugar de destaque, sendo frequentadas pelos funcionários que trabalham na região, servidores públicos e população em geral. O atendimento é caótico, mas faz parte do encanto do Mercado. A comida, farta, caseira, boa e barata, atrai tantos quantos queiram se alimentar bem a um preço justo.

Sempre vou na pensão da Sonia e como o mesmo filezinho frito com cebolas, saladinha do dia, arroz, feijão, macarrão e farofa. Não sobra nada e costumo sair de lá prometendo a mim mesma que da próxima só vou comer metade, mas não adianta. O arroz soltinho, o tempero do feijão, a farofinha crocante...os pedidos no balcão não param de chegar e é um divertimento escutar o grito das comandas: "Sonia, ainda tem tambaqui frito? E aquele fígado que eu pedi faz meia hora? Aquele senhor está pedindo o frango dele..."

Os pratos são montados na hora e ao gosto do freguês, que pode customizar o seu com um pouquinho mais de salada ou cebola frita, deixar de comer o macarrão ou pedir um feijão a mais. Se o cliente chegar atrasado e algum complemento já tiver acabado, sempre é possível pedir emprestado um pouco de farofa ou feijão às pensões vizinhas e vice-versa, para completar o prato dos famintos retardatários.

A Sonia e a família, ajudados por auxiliares tão simpáticas quanto eles, se desdobram para atender bem aos fregueses, assim como fazem as demais pensões do local. Não se engane: lá pela uma e meia da tarde, fica difícil comer alguma coisa, pois os panelões já estão quase vazios. Mas, eles sempre dão um jeitinho e é quase impossível sair de barriga vazia. Portanto, se estiver no centro durante a semana e aos sábados pela manhã, corra! Você se sentirá em casa, com uma comidinha que alimenta a alma.


Ladrilhos hidráulicos embelezando parte do piso...

Placa de inauguração, no ano de 1929...

Lateral do Mercado, de frente para o Rio Acre e na foto acima, estátuas  de pessoas anônimas,  passeando pelo espaço...







Os preços dos pratos, a Sonia e as auxiliares, se desdobrando para atender à numerosa clientela do local...


Tem peixe frito...



O filé que eu sempre como, acompanhado de saladinha do dia, arroz, feijão, farofa e macarrão, uma delícia!


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NOVO MERCADO VELHO: Av. Epaminondas Jácome, Rio Branco - Ac
                                                   69.900-115








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