domingo, 21 de maio de 2017

CUPUAÇU, AMOR TOTAL

O rolinho depois de pronto e cortado, para dar uma graça

O rolinho inteiro, antes de ser cortado e servido


Durante os anos em que morei no Ceará, era bem difícil consumir uma das frutas que mais adoro, o cupuaçu. Aquela polpa cortadinha com tesoura, fresca, para encher jarras e mais jarras de suco cremoso e forte, só mesmo quando alguém da família ou algum amigo levava de contrabando, bem congelada. Aí era uma festa! O doce eu fazia pouco, porque a saudade do suco era tão grande que não sobrava fruta para outros preparos, nem mesmo para o creme, outra estrela. Na casa de meus pais existe até hoje um pé de cupuaçu maravilhoso, que não fica no nosso quintal e sim no da vizinha, dona Julieta.

Mas, desde que éramos crianças, ficou acertado que as frutas que caíssem para nosso lado nos pertencia de direito, sem arengas. E por este motivo tivemos a vida inteira os mais lindos cupuaçus, que além do sabor intenso, é tinhoso como poucos: precisa cair quando maduro, não adianta derrubar de vez, pois ele não amadurece. Pelo menos até hoje nunca ouvi falar em tirar cupuaçu antes da hora. Uma vez no chão, não se pode passar muito tempo para tratar a polpa, pois ela estraga. Com esses cuidados e tratado logo que cai, o perfume do cupuaçu é embriagador e na minha opinião, muito pouca coisa se compara ao seu sabor maravilhoso, que se presta para inúmeras preparações.

Para o suco de antigamente, na era pré-liquidificador, os caroços e polpa eram amassados com bastante açúcar e depois, juntava-se água gelada. O divertimento era chupar os caroços na boca, com bastante cuidado para não passar direto pela garganta, principalmente  quem já não tinha mais amígdalas para segurá-los. Pedacinhos de polpa meio azeda se misturavam na boca e o sabor era incrível. No doce, a mesma coisa. Até hoje, embora em muito menor proporção, há quem prefira o suco e o doce com caroço, puro saudosismo.

Do caroço do cupuaçu também se pode fazer chocolate, o cupulate. Desenvolvido por pesquisadores da Embrapa na década de 80, o chocolate obtido a partir das sementes do cupuaçu é mais saudável e foi alvo de uma grande polêmica, quando uma empresa do Japão chamada Asahi Foods patenteou o nome da fruta, bem como o chocolate obtido a partir de suas sementes, num caso gravíssimo de biopirataria, fato este descoberto pela Ong acreana Amazonlink. Felizmente neste caso e com as intervenções devidas e a polêmica gerada, o Escritório de Patentes do Japão derrubou o registro da empresa japonesa (veja mais em alguns links logo abaixo).

Polêmicas à parte, uma das coisas que mais gosto de fazer é passear por feiras, mercados e supermercados. O que para alguns é uma perca de tempo completa, para mim é motivo de puro divertimento, principalmente quando vou às feiras e mercados. Encontrar amigos e feirantes já conhecidos, trocar receitas, saber sobre um novo uso para algum produto, tudo isso me deixa fascinada. No supermercado, encontrar alguma coisa diferente me deixa de ótimo humor. E, em uma dessas visitas, me deparei com massa filo congelada. 

Para quem não conhece, é uma massa finíssima, com quase nada de gordura e seu manuseio deve ser feito com o maior cuidado, pois quebra com muita facilidade. Para utilizar, deve-se pincelar manteiga derretida (ou azeite, se desejar) entre as folhas, depois rechear, enrolar ou não (a depender da receita) e assar.  É muito utilizada em doces árabes, mas também pode ser usada nos salgados. 

É trabalhosa para fazer em casa por ser muito delicada. Por isso nem titubeei e comprei dois pacotes, imaginando o que fazer com eles. E resolvi experimentar com um doce de cupuaçu caseiro ao qual juntei lascas de castanha e no recheio, acrescentei pedaços de queijo Minas. Enfeitei com sementinhas de papoula (opcionais) os rolinhos, assei e depois polvilhei com açúcar de confeiteiro. Se ficou bom? Experimenta pra ver!

Rolinhos de massa filo (Phyllo) com doce de cupuaçu, castanha e queijo Minas

Ingredientes      

Para o doce (que deve ser preparado antes, pois precisa esfriar antes de ser utilizado)

1/2 xícara bem cheia de polpa de cupuaçu fresca (cortada na tesoura)
Aproximadamente 1 xícara de açúcar refinado (iniciei com 1/2 xícara, mas foi necessário ir acrescentando mais)
1/4 de xícara de água, colocada aos poucos, de acordo com a necessidade, para não deixar queimar o doce
5 a 6 castanhas cruas (mas não frescas), cortadas em pedacinhos
01 pitada de sal

Para o recheio

Doce de cupuaçu e castanha, já frio
lâminas de queijo Minas (opcional e a gosto)

Para a massa filo

01 pacote de massa filo congelada, manuseada de acordo com as instruções do fabricante
1/2 xícara de manteiga derretida ou um pouco mais, se precisar
Sementes de papoula (opcional), para enfeitar. Na falta use chia, se quiser
Açúcar de confeiteiro, para polvilhar (não use impalpável) 

Modo de fazer

Para o doce

Bata a polpa de cupuaçu e metade do açúcar no liquidificador, para que fique bem homogêneo. Numa panela, coloque a polpa batida, a pitada de sal, a castanha e vá acrescentando aos poucos o restante do açúcar e a água, até que o doce vá pegando cor. Ajuste, se necessário, ao seu paladar. Tenha cuidado para não queimar, é preciso estar atento e mexer sempre. Quando ficar dourado, desligue o fogo e coloque em um prato para esfriar. O ponto deve ser pastoso, não deve ficar muito consistente.

Para montar os rolinhos

Descongele a massa na geladeira, de acordo com as instruções do fabricante. Com muito cuidado, desenrole em uma superfície plana e tenha ao lado a manteiga derretida e um pincel. Corte uma folha de massa, passe bastante manteiga derretida e cubra com outra folha de massa. Passe manteiga novamente e arrume o recheio (o doce com alguns pedaços de queijo), como se estivesse fazendo um charutinho. Enrole formando um rolinho e dobre as duas extremidades para cima, para fechar. Passe um pouco de manteiga derretida em cima e salpique sementes de papoula ou chia, se desejar. Leve ao forno pré-aquecido (moderado) e deixe até dourar. Não é necessário untar a forma. tenha cuidado no manuseio, para que o recheio fique bem vedado e não vaze. Solte com cuidado os rolinhos da forma ao retirar do forno, espere esfriar um pouco e arrume no prato de servir. Quando esfriar, polvilhe açúcar de confeiteiro e sirva. Maravilhoso!


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Saiba mais:

http://caraterfeminino.blogspot.com.br/2011/11/cupulate-chocolate-de-cupuacu.html

http://imirante.com/mobile/mundo/noticias/2004/03/02/japao-derruba-registro-de-patente-da-marca-cupuacu.shtml

http://www.almanaqueculinario.com.br/noticia/cupuacu-sera-que-e-nosso-96

http://www.amazonlink.org/

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