Eu, Elício (fazendo a dedicatória de seu livro) e Olívia, cafezinho com literatura boa... |
Ainda bem que só tem um jornalista aqui em casa. E daqueles à moda antiga, que consegue sentar e produzir um texto belo e tocante de olho no prazo para a conclusão. E que trabalha com o fato de que após a escrita ainda há um mundo de pequenas e grandes providências até que esse texto seja enfim apreciado pelos nobres leitores.
A edição, a diagramação correta, a escolha da foto se for o caso...escrever de forma profissional, penso eu, preserva a paixão mas exige disciplina, concisão, método...tudo que eu infelizmente não tenho. Sento para escrever as matérias aqui do blog quando uma vozinha interior praticamente me empurra. E se não for para fazer o texto de uma vez e de supetão, feito lava despencando vulcão abaixo, sinto muito: não sou eu.
Não sei fazer essa coisa bonita de burilar as palavras, mergulhar nelas e ir meio que desvendando os mistérios ali sutilmente escondidos, apara aqui, corta acolá, acrescenta ali um recheio de bolo com mais creme, ops, uma palavra mais doce. Minha emoção sai de uma vez, minhas saudades são as da hora, meu tempo é o hoje.
E depois que tive meus pequenos grandes meninos e que os danadinhos resolveram se lançar em vôo solo, como aliás fiz muito antes deles, no meu tempo, aí nem sempre as emoções me obedecem. Tem dias que a saudade aperta e a dor é quase física. Tem dias que tenho saudade até do que não vivi e começo a lembrar dos antigamentes e começo a pensar na época dos meus pais e dos bailes que eles frequentavam e o que eles comiam e os doces que meu avô português trazia para as filhas numa latinha, feitos por um senhor árabe que morava por perto...
E tenho saudade dos bolos que minha avó Mundiquinha confeitava e que não pude provar pois quando eu tinha idade de aprender ela já não os fazia mais. E penso na minha avó Maria e suas lindas galinhas assadas para os bingos, envoltas em farofa e embrulhadas em papel celofane, com umas azeitonas enfeitando o prato...não sou saudosista, antes que alguém mais desavisado e gentil me leve lencinhos bordados com renda, brancos e engomados, para que eu enxugue discretamente uma lágrima perdida.
Mas gosto de pensar no que passou e em como passou. Para mim, isso me dá a medida do presente e lança a orientação para o futuro. E tive dias atrás o prazer de conhecer de verdade dois queridos que já conhecia virtualmente. E neste caso, conseguimos deixar a tecnologia das redes sociais onde a meu ver, ela deve estar. Ajudando a estabelecer conexões, proporcionando encontros, não os substituindo.
Não poderia ser diferente, quando se trata de Elício e Olívia. Dois escritores, cada um a seu modo e estilo, unidos pelo amor e outros prazeres, entre os quais a literatura. Eu e Olívia já nos conhecíamos pela internet, onde seus comentários sobre as matérias do blog sempre me encheram de orgulho. Li seus livros, deliciosas crônicas sem outra pretensão que não a de ser verdadeira com seu tempo, com seu mundo, seus ideais. Uma mulher de carne e osso, sensível e apaixonada pela vida.
Elício, seu companheiro de alguns anos, o amor do tempo maduro, é de uma delicadeza ímpar. Não pudemos conversar muito, os poucos dias aqui passados foram bem disputados por parentes e amigos. Ganhamos um de seus livros de poemas, leitura leve e amorosa. Que prazer encontrar quem como eu, morre de ciúme dos seus livros (ainda que a vergonha de ter ciúme seja ainda maior), garimpados ao longo da vida.
Nos prometemos um café mais longo, no próximo encontro. Regado a mais gente, velha guarda prazerosa e que ainda gosta de ler um bom livro. E que ainda consegue conversar sem o olho grudado na próxima atualização do whatsapp. Simples assim. Momentos de acolhimento em que parecia até que nos conhecíamos há muito tempo. Daqueles que nem dá vontade que acabe. E que venham os próximos!
Para eles, dou aqui uma receita muito simples, mas que me acompanha desde que eu era garota e orgulhosamente alguém da família pedia meu chocolate quente. Não o faço mais com aquela marca famosa de achocolatado, que no meu tempo de menina e de lembranças, não era tão açucarado. É comida de alma, como diz a escritora e cronista Nina Horta. Serve para aqueles momentos de aconchego numa tarde chuvosa. Ou quando se quer dizer a alguém que a vida vale muito, muito a pena de ser vivida. Faça e me diga!
Delicioso, com um pauzinho de canela servindo de colher... |
Meu chocolate quente fácil
500 ml de leite integral
01 pauzinho de canela
02 gemas passadas na peneira e dissolvidas com um pouquinho de leite
01 colher de sopa de amido de milho dissolvido em um pouquinho de leite (opcional)
04 a 06 colheres de sopa de chocolate em pó (a gosto, aqui pode ser colocado um pouco mais ou menos. Se usar cacau em pó, diminua a quantidade)
Para a cobertura
02 claras em temperatura ambiente
04 a 05 colheres de sopa de açúcar e gotas de limão a gosto (eu gosto hoje em dia de usar o siciliano, mas qualquer limão serve)
raspas de limão a gosto (não colocar a parte branca)
canela ou chocolate em pó para polvilhar (opcional)
Modo de fazer
Numa panela de fundo grosso, coloque o leite e a canela em pau. Leve ao fogo, acrescentando as gemas dissolvidas no leite e mexendo bem após a adição, para que não talhem na mistura. É importante colocá-las com o leite ainda frio, se não tiver experiência. Mexa sempre, até ferver e cozinhar. Acrescente o chocolate em pó e mexa bem. Se preferir, coloque o amido dissolvido no leite, mexendo bem para que não empelote (mas as gemas já garantem cremosidade). Após ferver bem, retire do fogo e coloque nas xícaras em que vai servir, retirando antes a canela em pau. Coloque rapidamente as claras em uma tigela e bata até espumar bastante. Vá acrescentando aos poucos as colheres de açúcar, até que fique um merengue bem firme. Pingue as gotas de limão e acrescente as raspas. Despeje uma grossa camada desse merengue em cada xícara com o chocolate quente e polvilhe canela ou chocolate em pó. Sirva.
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Os livros da Olívia...
E o do Elício...
Todos os livros são edições dos autores, que bancam a própria impressão. O projeto gráfico é de Tancredo Maia Filho. Você pode encontrar as edições na Livraria Paim, em Rio Branco. Imperdíveis!!
Livraria Paim - www.livrariapaim.com.br
Que coisa linda, moça Patrycia Lopes Coelho. Ao ler o texto fui providenciar o chocolate quente para degustar, mais uma vez o texto, e a demonstração de carinho.
ResponderExcluirMinha gratidão é enorme pela delicadeza das palavras. Você coloca o coração na ponta dos dedos e as palavras dançam embaladas pelo pulsar do coração e o som do “bem dizer” com graça e singeleza.
Recorro ao que disse Tiago de Melo em uma entrevista ao Clodovil: “escrever difícil é fácil, o difícil é ser simples”. E você é simples com competência. Não atoa que o seu filho/livro que certamente já está em gestação nos trará grandes alegrias e será um sucesso.
Você nem imagina como essa deferência a mim e ao Elicio me deixou feliz. Ter conhecido você e o Marcos (pessoalmente ou virtualmente) foi um merecimento. E mais uma vez recorro a um literato, agora Mario de Andrade para falar da minha alegria. Em uma de sua crônica “O valioso tempo dos Maduros” onde fala de sua percepção de que tem mais passado que futuro decorre sobre uma serie de coisas que não deseja mais fazer naquela situação (ter menos tempo pra viver do que o já vivido), e finaliza dizendo que “ quer viver ao lado de gente humana, muito humana... Sou há que caminhar perto de coisa e PESSOAS de verdade”.
Assim estou eu. Assim sou eu. Tê-la como amiga de caminhada é uma dádiva.
Beijos, com cheirinho de chocolate
Minha querida Olívia,
ResponderExcluirMe arrepiei toda com suas palavras, que sei, são tiradas de uma alma sensível e bela. O prazer tem sido nosso, ao ver que as pessoas de verdade como você e Elício estão bem aqui. Como digo aos meus filhos, vocês estão longe dos olhos, mas perto do coração. Muito, muito obrigada por tão belo comentário. Você e Elício estarão sempre ao nosso lado, é uma honra tê-los como companheiros de jornada. Aproveitem o chocolate, ele é o nosso abraço e cuidado para vocês. Um beijão,
Patrycia