domingo, 20 de dezembro de 2015

MAIS LEMBRANÇAS DE INFÂNCIA

A galinha caipira com o jambu e pirão de castanha, deliciosa...


Se você for como eu, o Natal está na porta e o cardápio da ceia ainda muda um pouco todos os dias. Os convidados, neste ano, serão em menor número. Ou não. Alguns dos irmãos e cunhados neste ano ficarão parte em uma casa, parte em outra. Pelo menos, irão engordar um pouquinho mais se resolverem provar de tudo. Aqui em casa, não tem jeito: desde que me entendo por gente, é o único dia do ano em que como peru (à exceção dos R.O.s obrigatórios em famílias grandes como a minha, onde se cozinha sempre como se não houvesse amanhã).

E quero frutas secas e em conserva para acompanhar. E farofa também. Minha mãe, que não come nada dessas coisas, terá o seu filezinho para saborear. Não decidimos ainda o molho do acompanhamento. Ele dorme laranja e acorda bege, quase todo dia (e nisso a geladeira vai enchendo de geleia de laranja baía pedaçuda e meio amarguinha, queijo gorgonzola gordinho e à prova de dieta e castanhas do Brasil, para dar uma textura).

Meu sonho de consumo na cruzada em que me encontro (#partiu dieta!) é um pirarucu de casaca, a receita mais flex que você já viu na vida: tem quem faça com o peixe dessalgado e frito, outros apenas o aferventam. Há quem prefira a farofa seca, muitos a molham com leite de coco. Alguns incluem cubinhos de batata cozidas e um molhinho com ervilhas e azeitonas. Outros ainda colocam passas, ameixas e ovos cozidos. O céu é o limite. Em comum, o pirarucu, a banana comprida (ou da terra) frita e a farofa. O resto é lenda e livre interpretação. E no meu caso, ainda vou estudar um jeito de fazer com a banana assada, senão nem na lenda vou ficar.

Como minha alma é gorda, certamente vou incluir um pernil. Já o imagino no dia seguinte, desfiado e com muita cebola caramelizada, um pote de mostarda e um bom pão caseiro para rebater, mas aí já é delírio de quem está com fome. E escrever com fome, assim como ir no supermercado com a dita cuja, não é nunca um bom negócio. A cada ingrediente, a mente vagueia e já passeia com garbo por todas as possibilidades, sejam elas assadas ou fritas, cozidas ou não.

Para as sobremesas, já há um estoque de chocolates meio amargos de fazer inveja a qualquer bom chocólatra: pode ser um bolo, uma mousse com zabaione...a geleia de morango já está pronta na geladeira, vai que resolvemos fazer uma piada pronta, digo um pavê. Com um bom pão de ló feito em casa, castanhas torradinhas, um creme a base de gemas e frutas frescas, é um pecado. Mas, se quiser, troque por geleia de cupuaçu, biscoitos de castanha, um creminho doce e uma calda de açúcar gramixó feito aqui mesmo na região e fica delicioso do mesmo jeito.

Já encomendei para o café lindos bem-casados (biscoitinhos recheados de goiabada), biscoitos Monteiro Lopes (parcialmente cobertos com chocolate) e uma gulodice perdida nas minhas mais antigas memórias: uma balinha de açúcar com recheio de doce de cupuaçu, que descobri se chamar casinha de abelha. Por acaso, descobri uma amiga de infância, a Isabel, doceira das mais competentes, que como eu, é apaixonada pelas tais balinhas e hoje as faz por encomenda, junto com madalenas, bem-casados e biscoitos, para delírio de todos e resgate das nossas tradições.


A balinha de cupuaçu da minha infância, ou no nome de festa, casinha de abelha...doce de cupuaçu com fondant

Lembro nitidamente de esticar os braços e ficar nas pontas dos pés para alcançar essas balinhas, dispostas na mesa, em algum aniversário de família perdido no tempo, na casa de minha avó Maria ou de alguma das tias. Só as comi novamente uns quarenta anos depois, no casamento de um primo e imediatamente, tal qual no filme Ratatouille, fiz como o crítico ao degustar o prato e fechei os olhos para me ver novamente no esforço de roubar as tais balinhas . 

Mas, enquanto o Natal não chega, atualizo o blog com essa receita, para o dia a dia, feita aqui em casa para o almoço. É uma delícia, servida bem quentinha. Aproveite!   


Galinha caipira com pirão de castanha

Ingredientes

Para a galinha

01 galinha (ou frango) caipira, cortada em pedaços
Sal e pimenta do reino a gosto
Pitadas de colorau ou páprica a gosto
02 colheres de sopa de vinagre
02 maços de jambu frescos, já limpos (pode usar um pouco dos talos, se forem novos)

Para o pirão de castanha

1/2 xícara de castanha do Brasil crua (usei a parcialmente desidratada, já embalada)
1 1/2 xícara de água
1/2 xícara ou um pouco mais do caldo da galinha cozida
1/2 xícara de farinha de mandioca
sal a gosto

Modo de fazer

Para a galinha ou frango

Corte a galinha ou frango pelas juntas (eu nunca acerto, assassino a coitada duas vezes) e coloque os pedaços numa tigela, retirando o excesso de gordura. Tempere a gosto com sal e pimenta, o vinagre e o colorau ou páprica. Deixe pegar gosto por pelos menos 30 minutos. Numa panela de fundo grosso coloque os pedaços da galinha com o líquido da marinada e deixe por alguns minutos, virando de vez em quando. Vá colocando água quente aos poucos, sempre que necessário, para que ela cozinhe e tenha caldo suficiente. Prove e ajuste o sal. Se desejar, coloque na panela de pressão por uns dez a quinze minutos. Não deixe a carne ficar mole demais. Retire 1/2 xícara do caldo para o pirão e acrescente as folhas e talos de jambu. Deixe alguns minutos e desligue o fogo. Reserve.

Para o pirão 

Bata a castanha com a água no liquidificador até ficar bem homogênea.  Acrescente o caldo reservado e misture. Leve ao fogo e com cuidado despeje aos poucos a farinha, mexendo bem para não empelotar. Se desejar um pirão mais líquido, diminua um pouquinho a farinha. Deixe cozinhar.

Para servir, coloque uma porção de pirão no prato ou numa tigelinha, acrescente um pedaço da galinha conforme sua preferência e um pouco de caldo e folhas de jambu. Se desejar, complemente com arroz branco.
Bom apetite!!

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Para saber mais:

Ratatouille:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Ratatouille_(filme)

Isabel - Encomendas de docinhos, tel (068) 99637954, Rio Branco, Acre.

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