domingo, 13 de dezembro de 2015

PARA LEMBRAR DA INFÂNCIA

A tortinha de banana da minha mãe, uma verdadeira delícia para comer pura ou como acompanhamento...




Sou fascinada pelo Natal. Não tanto pela carga religiosa e cristã que o acompanha, embora tenha o máximo respeito por quem se enche de boas intenções para o próximo ano e repensa profundamente sua vida e suas ações no ano que está acabando. Também não tenho o apego comercial obrigatoriamente vinculado à data, com aquela corrida insana às lojas para comprar as famigeradas lembrancinhas que quase sempre, nada tem a ver com o presenteado. Apesar das pressões, não me obrigo mais a isso há longos anos.Ou pelo menos, resisto de forma heroica e fico nas pessoas bem próximas, alguns queridos e familiares a quem é um prazer oferecer um mimo, quase sempre culinário.

Na minha família, desde criança, o Natal sempre foi um período de encantamento absoluto. Minha mãe, apesar dos quatro filhos e de trabalhar dois períodos (minha super-heroína) dava um jeitinho de produzir, com a nossa ajuda, quando cabia, alguns enfeites que já não se vêem por aí, nesse mundo de belezas industrializadas. Tudo muito, muito simples, mas carregado de uma forte emoção. Eram folhas e folhas de isopor e papéis brilhosos e coloridos, além de muitas bolas de Natal de todos os tamanhos adquiridos nas papelarias, que iriam compor diversos adornos.

Lembro bem que todos os anos ela fazia sinos e chaves para pendurar nas paredes. Eu, como mais velha, tinha o direito de usar uma faca, passada na chama do fogão, e ir recortando aqueles moldes, que seriam cobertos com papel brilhante em diversas cores e depois enfeitados com bolinhas, recortes e o que mais fosse preciso para encantar os olhos. Perdi as contas de quantas facas deixei enegrecidas e imprestáveis, com pedaços de isopor colado e já preto, muitas vezes devido à pouca habilidade para recortar a peça. Esquentava-se demais a faca, demorava-se um minuto a mais no corte e era uma vez! 

Tinha que recomeçar do zero. Mas havia dois enfeites mais trabalhosos que eu particularmente adorava: uma carruagem feita de isopor, cujas partes se encaixavam e eram depois enfeitadas para meu deleite particular e também uma vela, que mamãe fazia com um longo cano de PVC cortado e uma fieira de pequenas bolinhas coloridas penduradas em toda a sua altura. Em cima, havia uma bola maior fazendo a chama, o que a deixava perfeita aos meus olhos.Era um divertimento ajudar a prender aquele sem-número de bolinhas, alternando cores e tamanhos...

Nós, eu e os irmãos, ajudávamos (ou atrapalhávamos) em todas as etapas. Era um período muito esperado. No dia da ceia, véspera de Natal, tínhamos o direito de dormir muito tarde, pois na minha família, até hoje, só se come depois da meia-noite. E o pior é que ninguém lembrava de dar qualquer entala-gato para um bando de meninos e meninas famintos, até a bendita hora da comida. Mesa sempre cheia, cada um trazia sua especialidade. Os adultos tomavam espumantes e até nós, crianças, nos permitíamos tomar um golinho. Depois, era correr para casa e esperar a passagem do Papai Noel. Uns anos melhor, outros nem tanto, lembro da sensação de acolhimento ao despertar e ver perto da cama alguns presentes. Talvez por isso, até hoje, adore receber presente bem embrulhado, com laço e tudo!

Durante muitos anos, não arrumei árvore de Natal na minha própria casa. Estava longe da família, não conseguia comemorar muito bem. Às vezes,  passava a data no interior do Ceará, entre amigos. Aí arrumava umas árvores rústicas e fazia pacotes de balas e pequenos brinquedos para as crianças mais carentes e fazíamos lá mesmo uma ceia puxada a peru caipira, engordado para a data. Meus filhos recebiam presentinhos de manhã, ao pé da cama, mas eu já havia crescido. A comida continuou ali, mas o encantamento havia se perdido com a idade. Até que voltei a morar perto de mãe, pai e minha família, que de pequena não tem nada. Resolvi voltar a montar árvores de natal, com tudo que tinha direito.

E um dia desses, olhando as luzinhas brilhantes que piscavam aqui na sala, comecei a lembrar dos Natais de infância e em como eles me deixavam feliz. Minha mãe sempre dava um jeito de comprar presentinhos para todos e nos envolvia sempre na festa. E pensei na importância de valorizar os momentos que temos com quem amamos. Minha mãe, graças a Deus em plena atividade aos oitenta anos, continua ornamentando sua árvore, embora não faça mais os sinos e chaves da minha infância. Na semana passada, me ligou na hora do almoço, para que eu fosse comer uma torta de banana comprida frita, que é como ela sempre chamou uma espécie de malassada (que eu comia na casa de uma amiga no interior do Ceará, só que sem recheio). Lembrei que quando era pequena não gostava muito da torta, pois na correria do dia, ela era feita quase sempre em substituição ao bife frito que eu adorava e nunca gostei de misturá-la com o arroz. Minha mãe comia essa torta na sua própria casa desde mocinha e elas eram feitas em dupla, sempre. Uma delas cabia à minha mãe, que as adora até hoje. A outra, ia para o resto da família. Ela não sabe mais de onde vem a receita, mas minha avó, exímia cozinheira, orientava as auxiliares para o preparo.

Minha mãe continuou fazendo a torta para os filhos e até hoje, é uma das comidas de infância mais queridas de todos. Até mesmo eu já me rendi há tempos e de bom grado, comeria fatias e mais fatias dela. Não é necessário servir com mais nada, na hora do lanche. E ela acompanha muito bem os pratos do almoço. Mas se quiser pode juntar uma colher de geleia na hora da sobremesa e polvilhar açúcar e canela. Na nossa casa, comemos na hora do almoço junto com os outros pratos, recheada com fatias de banana comprida frita. E só. 

Hoje é para mim um dia especial: meu filho mais novo completa vinte anos, ou como diz meu marido, vinte voltas ao redor do sol. É um rapaz determinado, generoso, que resolveu que seria médico. E está no caminho do sonho, para orgulho de todos nós. Nossa árvore de Natal aqui na sala foi escolhida por ele. E apesar da distância que hoje nos separa, ele está comemorando com irmãos, pai, madrasta e avós, além de alguns amigos, com um almoço especial e merecido. E desejamos a ele toda a felicidade do mundo!

Portanto, mãos à obra: é uma fritura, mas você não vai fazer todos os dias, embora dê vontade, então, delicie-se e aos seus com essa receitinha simples e carregada de lembranças e afetos.



Torta de banana da minha mãe 

Ingredientes

Banana comprida (da terra ou pacovã) madura, frita em fatias, em óleo de boa qualidade, quanto baste (para essa quantidade, uma a duas bananas bastam)
03 ovos em temperatura ambiente
03 colheres de sopa de farinha de trigo
01 pitada de sal
Óleo para fritura, de boa qualidade

Modo de fazer

Descasque e corte as bananas ao meio. De cada metade corte fatias não muito grossas, pelo lado do comprimento. Polvilhe uma pitada de sal e frite-as em óleo abundante, poucas por vez, até acabar. Escorra o excesso de óleo, de preferência arrumando-as em peneira de metal ou folhas de papel absorvente. Reserve. Bata as claras até ficarem firmes, acrescente as gemas e bata mais um pouco, até ficarem bem firmes. Com muito cuidado, peneire uma colher de sopa de farinha de cada vez, misturando delicadamente de baixo para cima. Acrescente a pitada de sal com cuidado e misture. Numa frigideira não muito larga, de fundo grosso, coloque óleo suficiente para cobrir todo o fundo. Quando esquentar bem, coloque rapidamente metade da massa e espalhe. Arrume as fatias de banana a gosto, até cobrirem a massa. Não precisa colocar demais. Cubra imediatamente com o restante da massa, alisando para que não fiquem partes descobertas. Quando dourar embaixo, deslize a torta delicadamente para um prato grande.Retire o excesso de óleo da frigideira, para não se queimar e com a ajuda do prato, vire a torta na frigideira de modo a que a parte crua fique para baixo. Pelas beiradas, coloque um pouco de óleo e volte a frigideira ao fogo. Essa operação precisa ser bem rápida para que a torta não grude. Quando ficar dourada, deslize-a para o prato de servir, enxugue o excesso de óleo com papel absorvente e sirva. É uma delícia!!


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