domingo, 6 de maio de 2012

NO PARQUE DE DIVERSÕES...

O Mercado Novo, em Rio Branco...

Cozinheira que se preza fica mais do que feliz quando vai ao Mercado. As frutas da estação, os vendedores já conhecidos, pimentas vermelhas, verdes e amarelas, a macaxeira descascada em baldes com água fria para não escurecer, a castanha fresquinha... são conforto para a alma.

Para quem chega cedo, tomar um mingau de banana com mungunzá ou tapioca é uma perdição. O caldo quentinho, levemente engrossado, polvilhado com canela, faz qualquer sofrimento perder a razão de ser.  Compradores chegam aos montes na barraca da dona Francisca, que há mais de vinte anos produz essas e outras delícias. Agora ela trabalha apenas nos finais de semana: aos sábados leva quatro e aos domingos, oito panelões de mingau , com os quais criou três filhas. Além de tomar ali mesmo, os compradores trazem vasilhas ou latas de leite em pó secas para levar aos que ficaram esperando a iguaria em casa.


A dona Francisca e os panelões de mingau...


O pão de milho (cuscuz no Nordeste) vem dividido nos saquinhos, em talhadas, onde ao gosto do freguês recebem um banho de leite de coco ou castanha ali na hora e são então fechados e entregues. Junto com ele, vão pés-de-moleque (uma espécie de bolo) assados na folha de bananeira, feitos com macaxeira, cravo, diferentemente dos que se comem no resto do país, mas tão gostosos quanto.
Dependendo da época, você vai encontrar abacaxis muito doces, açaí ou banana comprida aos montes. Pupunhas de casca amarela e vermelha, cajaranas e ingás.
Pato e galinha caipiras, tem na dona Dorinha. O surubim e o filhote, cortados no capricho, estão na banca da Socorro e do Rui. O porco e o carneiro são especiais na banca do seu João, que um dia me ligou às seis da manhã e disparou: “É a mulher do Carneiro?’’ Ao que eu, tonta de sono, respondi que o nome do marido era outro, ouvi a pergunta, desta vez mais explicada: “Mas não foi a senhora que me encomendou um carneiro?” “Foi, seu João, só não achava que o bicho ia estar pronto tão cedo...”
Ficamos amigos desde uma vez em que eu, entendendo muito pouco de carneiros e bodes, fui por lá com  a incumbência de comprar alguns quilos de carneiro. Já era tarde e depois de perguntar aqui e ali, me chega aquele senhor de cara séria e se dispõe a me levar no que segundo ele, àquela hora, seria minha única salvação: um vendedor da confiança dele, carne fresca, de primeira.

O seu João atendendo à freguesia...
Comprei quase dez quilos do tal carneiro. Foi comido assado, cozido, elogiado e repetido. O cozinheiro chefe foi o Meirelles, nosso querido indigenista e eu arrisquei um cozido em panela de ferro. Passados alguns dias voltei ao Mercado e escuto aquela voz forte a perguntar: “E então, dona, o bode “tava” bom?”  Comecei a rir sozinha do logro e desde então quando quero porco ou carneiro, é para lá que eu  vou, não sem antes recomendar ao seu João que não me enrole.


A Socorro, pesando o peixe, com o Rui ao fundo...





No mercado, se tiver quem carregue as sacolas, não me controlo. Meus filhos dizem assim: “A mãe vai aplicar o velho golpe...” ou seja, dizer que vou comprar apenas umas coisinhas e sair de lá carregada...
Fico tão encantada com aquela explosão de cores e cheiros que meu marido muitas vezes vai comigo só pelo divertimento de me ver passar de banca em banca escolhendo frutas e pimentas e verduras e a goma para tapioca, o jerimum para o doce e o pão, o queijo para comer fritinho, as couves do charuto e por aí vai...
No próximo sábado ou domingo, estique as canelas, vá ao Mercado! 
 

8 comentários:

  1. Prima querida, lembrei dos cafés da manhã em casa de Dona Lilica, o pão de milho feito em um prato fundo, com um pano de prato amarrado, cozido sobre o vapor fervendo na panela de ferro sobre as brasas de carvão. Vinha inundado de leite de castanha, grosso, ralado na hora, não sei como não desarranjava os intestinos daquelas crianças gulosas, que levavam banana e pão com goiabada de merenda para o Colégio Acreano.
    Sobre o bode, é o prato nacional da Paraíba, onde fazem linguiça, carne de sol e até recheio de pizza. Faz parte da cesta básica da população local. A carne de carneiro é mais rosada, se não me traem antigas memórias ante-vegetarianas. Beijo saudoso.

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  2. Olá,
    Nossa, agora me veio a imagem da Lilica com seus olhinhos azuis, sua voz levemente rouca e aquela bondade absoluta...que saudade! Também peguei a época do pão de milho feito com um pano de prato amarrado, só que a panela já não era de ferro, mas como era bom!
    Adorei o bode feito carneiro (rsrsrsrs...) já tinha comido no Ceará. O seu João continua no Mercado e descobri que é velho amigo do João meu pai, uma graça. Muito obrigada pelo comentário, você fez, como diz o meu marido, a alegria do meu dia, beijos saudosos,

    Patrycia

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  3. Um texto com sabor, cor e tempero assim é um prato saboroso pra alma da gente...fora que dei muitas gargalhadas...demais...

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  4. Prima Rose querida,

    Fico toda feliz por você ter gostado, adorei seu comentário, valeu! O seu João é uma figura, vale a pena conhecer, beijo!

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  5. Adorei o blog, muito lindo mesmo, parabéns. Vou sempre estar por aqui (:

    ontendency.blogspot.com

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  6. Delícia o seu blog, Patrycia. Adorei. Não me arrisco muito na cozinha porque estou em grande desvantagem, neste quesito, na competição familiar. Mas aprecio as idéias e toda a aura de sabores/sentimentos que o tema envolve.

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  7. Oi, Bruna,

    Que bom que você gostou, adorei seu comentário, passe sempre por aqui. Estive fora uns dias a trabalho e daí a demora em responder, valeu!

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  8. Oi, Elineide,

    Que bom que você curtiu. Olha, eu comecei fazendo apenas arroz branco, maionese e balinha de café, quando era criança...portanto, mãos a obra (rsrsrsrs...) muito obrigada, um abração pra você, valeu!

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