O feijão inspirado no que meu pai fazia, na linda sopeira da minha mãe... |
Trago do meu pai o gosto e a paixão pela cozinha. Desde pequenos, fomos criados com uma mesa simples, porém farta. Não havia espaço para doces sempre e nem mesmo comidas muito diferentes. Minha mãe nunca foi apaixonada por peixes e até mesmo frango ela torcia um pouco o nariz. Então, não havia muita variação. Algumas coisas entretanto, não mudavam: o repolho cortado finíssimo por ele e temperado com azeite e vinagre, o arroz sempre fumaçando e bem soltinho, cheio de alho, o feijão com jabá e banana comprida, os bifes enfeitados com bastante cebola...
Fui chata para comer quando criança. Até hoje, no meu prato fica tudo separadinho. Quando menina, o feijão e a salada tinham que ser colocados em pratos ou cumbucas separadas. Adoro baião de dois mas não misturo porções de arroz e feijão na mesma tigela. Feijoada em casa de amigos como com a cumbuquinha de arroz ao lado, para não misturar os caldos com as partes secas...e durante alguns anos parei de comer manteiga, pois gostava tanto que um belo dia coloquei no pão tal quantidade que o ensaboei por fora...foi o bastante para passar muito, muito tempo sem conseguir nem sentir o cheiro.
Então em nossa casa, em dias de festa, comíamos frango desfiado, uma farofinha, o vatapá feito com as latinhas de camarão salgado e seco e um arroz feito na água grande, como se diz por aqui e depois escorrido em uma peneira. Ainda quente, jogava-se por cima uma boa colherada de manteiga e estava feito.
Em casa havia ainda as comidas do meu pai, sempre deliciosas: charutos e o pirarucu ao leite com batatas, a macarronada, as saladas que ele nos obrigava a comer sob pena de apanhar e de sobremesa, aos finais de semana, às vezes tinha rabo de galo, uma massinha de pastel recheada com goiabada e enrolada como bombom, com uma calda de açúcar para acompanhar...dos deuses!
Nos dias de feijão com jabá e banana eu praticamente dispensava o resto. O sabor da fruta contrastava muito bem com o salgado do jabá eu não precisava de mais nada. Os grãos enormes do tipo de feijão que ele usava davam um caldo grosso, perfeito. Como não está na safra, usei outro tipo, mas você pode experimentar com qualquer um de sua preferência.
Fica uma delícia e uma saladinha e o arroz branco complementam muito bem este prato. Eu o como puro com pimenta, mas fica a seu gosto.
Ingredientes
(para 04 a 06 porções)
01 xícara de feijão cru (pode ser gorgotuba, carioca ou outro de sua
preferência)
04 xícaras de água fervente
230 g de charque (ou jabá, como chamamos por aqui), dessalgada
01 banana comprida (da terra) descascada, mas com as sementes, madura
mas firme, cortada em 05 pedaços
Cebolinha para enfeitar
Modo de fazer
Coloque a xícara de feijão cru, já lavado, em um recipiente. Adicione a
água fervente e reserve.
Corte em pequenos pedaços o charque (ou jabá), lave-os e coloque-os em
um recipiente. Adicione água fervente até cobrir. Deixe por alguns minutos,
jogue a água fora e repita a operação. Numa panela de pressão, coloque o feijão
e a água do molho, o charque (jabá) escorrido e leve ao fogo. Após iniciar a
fervura, deixe por uns quinze minutos. Retire do fogo, verifique o ponto da
carne e do feijão, veja o ponto do sal e tampe novamente a panela. Deixe em
repouso com a panela tampada por umas duas horas. Após esse tempo, adicione os
pedaços de banana crua. Leve novamente ao fogo e deixe por uns cinco minutos na
pressão. Desligue o fogo, veja se a carne está macia e a banana e o feijão
perfeitamente cozidos. Sirva com um pouquinho de cebolinha cortada e os acompanhamentos de sua preferência.