domingo, 4 de março de 2012

REMEDINHO PARA A ALMA

Placa afixada em loja onde funcionou a farmácia do meu avô, na rua 17 de Novembro

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Estamos aqui no Acre passando por uma das piores enchentes das últimas décadas. A capital, Rio Branco, viu seus bairros serem tomados pela força das águas e algumas cidades do interior,  como Brasiléia, serem praticamente destruídas. Nesse cenário de guerra, o pronto atendimento do Governo Estadual e da Prefeitura Municipal, com a ajuda de uma força tarefa nacional (além de um contingente gigantesco de voluntários e funcionários públicos no cuidado aos desabrigados), tem minimizado o sofrimento de milhares de famílias.

Verdadeiras cidades foram montadas em alguns espaços públicos, que contam com infraestrutura para atender desde a alimentação, saúde, segurança, até o lazer, através do cinema, do teatro, da contação de histórias. Grandes e pequenos cuidados que devolvem ao cidadão a certeza da solidariedade e a esperança de retorno às suas casas, que já começaram a ser limpas e higienizadas,  juntamente com as ruas.

É difícil falar de comida em meio a tanto sofrimento e confesso que não consegui produzir nem mesmo uma linha. No lindo prédio do meu atual trabalho, histórico, a água levantou assoalho, manchou paredes e nos obrigou a desmontar móveis e equipamentos, retirar aparelhagens de som e vídeo, suspender quadros e mesas, guardar caixas e mais caixas de documentos em local seguro, numa ação que começou no carnaval e ainda não terminou, com as providências de limpeza para o retorno. Por sorte, a legião de servidores deu um show e fora o que não se podia remover, como pisos de madeira completamente destruídos, nada foi perdido.

Na 17 de Novembro, onde se situa a Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour, meu atual trabalho, deparei-me com esta placa da foto aí de cima. Nesta rua, de frente para o rio, funcionaram algumas das mais antigas casas comerciais da cidade . Meus dois avôs tinham lojas aí: o paterno, Raimundo "Madri", era dono de uma mercearia, além do pequeno hotel Libanês, na rua de trás. Do materno, dono da farmácia Central, tenho do seu trabalho uma única forte lembrança, que me é muito preciosa. Lembro de vovô, o português Aníbal Lopes,  manuseando vidrinhos de mercúrio cromo e violeta genciana, muito usados antigamente. Eu devia ser bem pequena.

Da mercearia do vô Raimundo, como já disse em outro post, tenho mais lembranças, pois sempre passava com olhos pedintes e recordo-me também do hotel, onde minha avó preparava umas galinhas de respeito.

Soube recentemente que minha avó paterna, Maria, preparava sua própria massa de macarrão e pastel.  Tenho dela uma lembrança deliciosa. Acho que eu devia ter aí uns três ou quatro anos e lembro bem que não alcançava a mesa da cozinha onde estavam sendo feitas balas de cupuaçu para um aniversário. Lembro que ficava na ponta dos pés para alcançá-las. Passei mais de quarenta anos para comer novamente as tais balas, no casamento de um primo. Elas tem uma cobertura branca durinha de açúcar e por dentro, vai doce de cupuaçu, um deleite. Mas, não consegui encontrar a autora das balinhas para pedir a receita.

Portanto, na falta das balas de cupuaçu à moda antiga, resolvi fazer um mingau de castanha do Brasil (ou do Pará, como ela é mais conhecida)  para recuperar as forças e ter energia para esses dias ainda chuvosos. Numa boa caneca de ágata, quentinho e com bastante canela, não há problema que não se resolva, igual se aninhar em colo de mãe. As quantidades são indicativas e podem ser alteradas de acordo com o gosto pessoal.



A caneca de mingau, quentinha: mais comfort food, impossível

Mingau de castanha

Ingredientes

2 a 2,5 xícaras de leite integral
10 a 15 castanhas do Brasil (ou Pará), cruas
2 a 3 colheres de sopa de açúcar
1 pitada de sal
1,5 colheres de sopa de amido de milho diluídas em um pouquinho de água ou leite
canela a gosto
1 colher de sopa de infusão de vodka com fava de baunilha (opcional) - aprendi aqui: http://pratofundo.com/307/extrato-de-baunilha/

Modo de fazer

Coloque no copo do liquidificador o leite, as castanhas, o açúcar e  o sal, batendo muito bem. Leve ao fogo e perto de ferver, acrescente o amido de milho diluído, devagar e mexendo com uma colher, para não empelotar. Por último, coloque a infusão de vodka, se usar. Deixe ferver até engrossar, distribua em canecas e polvilhe canela a gosto.
Bom apetite!


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Esse post é dedicado ao meu tio Airton Rosas, o Velho do Baú, recentemente falecido em Fortaleza - Ceará - com muito carinho de toda a sua família
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Para quaisquer informações sobre ajuda aos desabrigados, bem como números de contas bancárias para contribuição, notícias, fotos, acesse www.ac.gov.br/, no link da agência de notícias.








   


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