domingo, 27 de abril de 2014

O QUE NÃO SE VÊ DO ICEBERG

Amigos queridos para atualizar as conversas, regadas a muita risada: no sentido horário eu, Bosquinho, Kennedy, Vaumick, Glauria, Prudente, Roza Rodrigues, Ilvana, Aléx, Patrício e Rosinha


Tenho a impressão de que pessoas como eu, que respiram comidinhas e utensílios e receitas e livros e revistas e tudo o mais que estiver relacionado.com (para ficar nos limites da modernidade internáutica) o tempo inteiro, sentem-se como se estivessem frente a frente com um imenso iceberg. A pontinha de fora é aquilo que se publica, seja nos blogs, nos livros ou mesmo nos jornais. É o pedaço visível, que consegue aparecer aos olhos de todos.

Mas a parte submersa na água, infinitamente maior, é como um caleidoscópio de sensações, cheiros, sabores, percepções. Como um almoxarifado permanente, onde a memória vai buscar amparo. Muito dali não tem como nem para onde sair e permanecerá para sempre armazenado. Parece mesmo que essa massa de gelo é um enorme depósito onde vão se juntando fragmentos de memórias, gostos experimentados, cores e brilhos das frutas de cada estação, os cheiros das panelas borbulhantes dos cozidos, o burburinho do mercado...

No meu caso, ali estão as tapioquinhas chamadas por minha mãe de beijus,  que a vó Mundiquinha fazia finíssimas, deleite para os netos, encharcadas de manteiga. Ali estão os biscoitos casadinhos que eu assava ainda menina para presentear os amigos, hábito que mantenho até hoje, se não com os ditos, por ter perdido tão desejada receita, mas com outros mimos que, tenho certeza, cumprem bem o propósito de acolher, dar carinho, cuidar.

Os gritos do Damião lá na Seis de Agosto da minha infância, oferecendo o pão de milho com leite de castanha e as saltenhas fumaçando de tão quentes lá da Manuca, que comíamos depois das baladas juvenis, também estão ali armazenados. As revistas de culinária compradas na banca do Ariosto, o papel encardido com a primeira receita de pão, tudo faz parte dessa enorme massa de gelo preservada pela água fria, que na hora certa, se desprende aos pouquinhos e vai navegando para águas mais quentes, de modo a nutrir a memória afetiva que me rodeia.

Tudo, como hoje tão bem demonstram as redes sociais modernas, está junto e misturado. Embora navegue nessas águas internáuticas, ainda consigo sentar numa mesa com os amigos sem consultar o whatsapp de dez em dez segundos. Ainda consigo conversar e abraçá-los e rir das piadas mais tolas, que só tem sentido quando estão no contexto específico. Ainda conseguimos fazer piada com a vida, o que mostra o tamanho e a certeza das nossas imperfeições. Ainda bem. 

Tudo isso para dizer que recentemente, ao visitar meus filhos e como já disse antes, fazer turismo nos supermercados, deu para provar um baião de dois cremoso, acompanhado de uma carne de sol muito macia, em um restaurante tão simples quanto gostoso, lá para os lados de Messejana, o Pilão. Toalha xadrez, sem afetação, mas uma carne de sol de produção própria deliciosa. Para lembrar das comidas típicas do Ceará e dos seus sabores especiais e arquivá-los no meu iceberg particular.



O prato com vinagrete, a carne de sol e o baião, delícia pura

O baião cremoso, com feijão de corda. Aqui, poderíamos usar o feijão de praia ou o verde, por exemplo

A carne de sol macia, com um pouco de queijo de coalho por cima...


Também não podia deixar de comprar o queijo manteiga da minha mãe e tomar uma cajuína lá no seu Raimundo dos Queijos. Desta vez, não o vi por lá, figura simpática. Os clientes do domingo são em sua maioria políticos, artistas e intelectuais da cidade, degustando a cerveja gelada, entre porções de paçoca e queijo, além do tira-gosto feito por eles mesmos. Imperdível! Carne de sol, queijos diversos, doces, rapaduras, cachaças, o que você quiser, lá tem. 

Para quem me conhece, já sabe: livrarias, mercado, andar no centro, conversar, encontrar os amigos, descobrir cantinhos especiais...isso faz uma diferença enorme para descansar o espírito e renovar as forças. Um desses cantinhos é a ótima padaria artesanal da Neiva Terceiro. Saí de lá com um panetone lindo de chocolate e morango e uma dúzia de pãezinhos de bacalhau deliciosos, recém-preparados, que fizeram a alegria dos meus pequenos, que não deixaram pedra sobre pedra, ou melhor, pão sobre pão!

E para não deixar os sorvetes de fora, desta vez fui à San Paolo, uma gelateria especial, onde me acabei no sorvete de morango, pura fruta, azedinho e delicioso! Não tem muitos sabores, mas vale a pena conhecer e se quiser, acrescer ao sorvete todas as guloseimas que são oferecidas por lá, misturadas na frente do freguês, como biscoitos, jujubas, suspiros e caldas. Não é fundamental, mas para quem gosta, vale. Eu preferi sem misturas, o sabor do sorvete é muito bom!



Nào deixe de fazer uma visitinha básica, bom demais!
    

E para fechar a sessão comida fora de casa, um bacalhau com purê de banana da terra, a nossa banana comprida e palmito pupunha, muito, muito bom, comido no La Pasta Gialla, restaurante abrigado no shopping Pátio Dom Luiz. A sobremesa não empolgou, mas o purê servido com o bacalhau quase me obriga a ir à cozinha batalhar a receita. Não tive coragem para tanto, mas vou tentar reproduzi-lo em casa, delicioso!

Não comi um camarão nessa viagem, mas deu para encontrar alguns dos queridíssimos amigos, olhar para a catedral ainda sendo reformada na sua beleza esmagadora, tirar fotos das velhas bancas de frutas espalhadas pelo centro, viajantes do e pelo espaço urbano, concorrendo em pé de igualdade com os não tão saudáveis, porém deliciosos e imperdíveis pastéis do Leão do Sul, que desta vez, não provei. As frutas vão mudando de acordo com a estação. Desta vez, sapotis, atas e romãs enormes, que segundo o vendedor, chegam de Pernambuco.


A Catedral, linda e imponente, no centro de Fortaleza

Romã de Pernambuco, linda...

Os cachos de pitomba, caprichosamente amarrados. Meu filho mais novo, de tanto que gostava, era chamado pelo avô de Zé Pitom...


Os sapotis, tão doces que enjoam...

As atas doces e carnudas em começo de estação...


Viver é conviver com esse iceberg, alimentando-o e sendo alimentada continuamente por tantas estórias costuradas como numa colcha de retalhos, por uma linha mágica capaz de nos lembrar nossas origens. E para não dizer que não publico uma receitinha, não resisti ao último programa do Rodrigo Hilbert, no canal GNT, mostrando uma linda costela com agrião. Adaptações à parte, é de se comer rezando, aproveita!



A costela temperada e depois de cozida, antes de ser transferida para a panela grande, com cebola, extrato de tomate e o agrião...o sabor ficou fantástico e temperou a casa inteira


Costela de boi com polenta e agrião (receita totalmente adaptada do programa Tempero de Família, do Rodrigo Hilbert, do GNT) 

Ingredientes

2,6 kg de costela bovina
05 dentes de alho amassados
02 colheres de chá de sementes de coentro
02 colheres de chá de pimenta do reino em grãos
1/2 pacotinho de cominho moído ou a gosto
03 colheres de chá de colorau
02 folhas de louro
05 folhas de chicória picadinhas
sal a gosto
1/2 maço de cheiro verde picadinho (cebolinha e folhas de coentro)
Vinagre de maçã a gosto para a marinada mais ou menos 1/2 xícara
01 cebola cortada em 04, descascada
100 g de extrato de tomate
02 maços de agrião, já limpos
1/2 xícara de fubá para polenta ou um pouco mais, se quiser mais firme
(a receita original não leva chicória nem cheiro verde, nem vinagre. Leva azeitonas e batatas no final e a marinada é feita com vinho)

Modo de fazer

Limpe a costela, cortando-a em pedaços menores e retirando o máximo de gordura possível. Lave os pedaços muito rapidamente, apenas para retirar eventuais pedacinhos de osso soltos. Coloque os pedaços numa bacia grande ou direto na panela de pressão e tempere com o alho amassado, o sal, o colorau, o cominho, a pimenta do reino e o coentro moídos, a chicória, o cheiro verde, o vinagre e acrescente as duas folhas de louro. Misture bem e deixe descansar por 30 minutos. Após esse tempo, acrescente um pouco de água à panela (de maneira que as carnes ainda fiquem descobertas) e leve ao fogo por aproximadamente trinta minutos após a fervura (na panela de pressão). Retire a panela do fogo, abra e verifique o ponto da carne e o tempero. Se necessário, acrescente um pouco mais de sal ou água. Após a carne estar cozida, retire os pedaços da panela de pressão e coloque-os em uma panela maior com um pouco do caldo. Acrescente a cebola cortada e o extrato de tomate e mais um pouco de água. Prove e ajuste o tempero, se necessário. Deixe cozinhar um pouco, coloque por cima as folhas de agrião e tampe, desligando o fogo. Reserve. Leve ao fogo a panela com o caldo restante e acrescente o fubá dissolvido em água, para que não empelote. Mexa até que fique cozido. Sirva a costela com a polenta, arroz branco e molho de pimenta, se desejar. Delicioso!
  

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Para saber mais:

Restaurante Pilão: Av. Frei Cirilo, n. 3649, Messejana, Fortaleza, Ce.

La Pasta Gialla: Av. Dom Luiz, 1200 - shopping Pátio Dom Luiz, Fortaleza, Ce.
https://www.facebook.com/pages/La-Pasta-Gialla/195390523834883

Raimundo dos Queijos: http://coisadecearense.blogspot.com.br/2014/03/raimundo-do-queijo.html

Neiva Terceiro Pães Artesanais: https://www.facebook.com/paesartesanaisneivaterceiro

San Paolo Gelato Gourmet: https://www.facebook.com/SanPaoloGelateria?fref=ts

    

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