domingo, 19 de agosto de 2012

JERIMUM COM MOLHO BRANCO DE CASTANHA




Ando meio na preguiça e embora não pare de alimentar os filhotes e maridinho meio que compulsivamente, testando pães, bolos e outros petiscos, o domingo amanhece às vezes com cara de cama, jornal e café, nada mais.

Mas, sabe como é, o filho mais velho já dirige e apesar de não morrer de amores por mercado logo de manhã, é educado e solidário e aí lá vamos nós, só umas frutas e uma goma fresca...só que o jerimum estava olhando luminoso para mim e o seu Manoel fez uma propaganda irrepreensível. Não resisti e trouxe o jerimum caboclo já limpo e cortado, sem saber ainda o que fazer com ele.

Não tinha filhote na banca de peixes da Socorro e do Rui, mas o surubim estava bonito e aí um pouquinho para moqueca não fazia mal,  quem sabe para amanhã? O plano hoje, afinal, era almoçar fora, ainda que fosse na casa da mãe, com toda a família reunida. A preguiça não deixou. Completei o café com uma tigela de mingau de tapioca com milho (mungunzá) e rumei para casa.

Meu filho, já acostumado com a propaganda enganosa da mãe, não se abalou com as várias sacolas em cada braço, mãe, você não tem jeito...

Já havia guardado o peixe e tirado uma carne de sol para dessalgar quando mudei de ideia. O surubim foi fatiado mais fino, lavado com água e limão, depois só água para tirar o limão e salgado. Depois, tirei o excesso de sal com mais água, enxuguei de um por um os filezinhos, passei na farinha de trigo e fritei na chapa. Ficaram meio tostados de um lado, mas uma delícia com o arroz e o jerimum cozido em água e sal, depois refogado com alho e um pouquinho de manteiga, antes de receber o molho branco de castanha do Pará (ou do Brasil). Muito bom, bem suave! E de quebra, vai a receita da torta de banana do Dom Pastel, uma pizzaria lá de Fortaleza.

A torta não foi feita hoje, mas estou devendo esta receita para a Silvana Camargo faz um bom tempo e portanto, não custa colocar a mão na massa. Ela foi fornecida pela dona da pizzaria, em um programa da Ana Maria Braga (sim, eu já assisti algumas receitas lá), alguns anos atrás e é uma perdição. Misturei banana prata frita com banana comprida. Na receita original, leva banana prata apenas. De qualquer forma, imperdível!
 

Jerimum caboclo (ou outro de sua preferência) com molho branco de castanha do Pará (ou do Brasil)

Ingredientes

Jerimum caboclo ou outro de sua preferência, cozido em água e sal e escorrido, levemente refogado com alho frito na manteiga, a gosto.

Molho branco de castanha do Pará (ou do Brasil)

12 a 13 castanhas cruas
1 1/2 xícara de água quente (se usar castanhas frescas, a água pode ser fria)
1 pitada de sal
1/2 colher de sopa de óleo de castanha (opcional)
1 pitada de açúcar
1 colher de sopa de azeite de oliva
1 colher de sopa de amido de milho dissolvido em 1,5 colher de sopa de água
Um pedacinho minúsculo de alho amassado (bem pequeno mesmo, pois a castanha é muito suave e o alho pode roubar a cena)

Modo de Fazer

Coloque as castanhas no liquidificador sem bater e acrescente a água quente. Deixe uns 10 minutos, para hidratar. Acrescente a pitada de sal e de açúcar, o óleo de castanha, se usar e bata bem. Peneire em um panho de prato limpo, reserve o bagaço (se quiser) para outro uso e despeje o líquido em uma panela pequena. Leve ao fogo e quando levantar fervura, adicione a colher de azeite e o pedacinho de alho amassado. Ajuste o sal e acrescente o amido dissolvido, mexendo bem, para não empelotar. Veja a consistência e se for o caso, não use todo o amido. Aguarde ferver e despeje por cima do jerimum, acompanhando o peixe com arroz. Pode ser usado em várias outras preparações, substituindo o molho branco convencional.





Torta de banana do Dom Pastel (adaptada)

Ingredientes

3 ovos inteiros, em temperatura ambiente
1 xícara de farinha de trigo peneirada
1 xícara de açúcar refinado
2 colheres de sobremesa de manteiga, rasas
2 colheres de chá de fermento químico para bolo
1 1/2 lata de leite condensado
12 bananas prata médias,  fatiadas ao comprido em três pedaços,  fritas em gordura vegetal ou óleo
4 bananas compridas maduras, pequenas, divididas ao meio, fatiadas ao comprido e fritas em óleo ou gordura vegetal
Açúcar e canela para polvilhar ligeiramente as bananas

Modo de Fazer

Bater os ovos inteiros com o açúcar como para pão de ló e acrescentar a manteiga. Misturar delicadamente a farinha e o fermento. Use uma forma média untada e enfarinhada, redonda, ou uma de aro desmontável (se quiser desenformar), mas neste caso, apoiada em uma outra assadeira, pois os líquidos podem vazar. Para a montagem, coloque uma camada de massa, banana frita, acrescente uma lata de leite condensado, mais massa, banana e a meia lata de leite condensado restante. Por cima, coloque algumas bananas para enfeitar. Leve ao forno pré-aquecido, bem quente. Quando colocar a forma, baixe a temperatura do forno para moderado, até dourar.
Maravilhosa!






segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O PRIMEIRO PÃO A GENTE NÃO ESQUECE

Pão integral com gergelim preto


Nunca tive aula de cozinha, mas cresci com os cheiros do pirarucu no leite de coco feito pelo meu pai e com o sabor do lombo cheio da minha mãe, recheado com uma farofa úmida e suculenta. Ainda pequena, duas coisas me deixavam absolutamente encantada: procurar livros para ler, fosse na vizinhança, nas casas dos amigos ou da família, nas livrarias ainda incipientes por aqui e também me aventurar nas panelas.

Receitas, eu não sabia. Mas minha mãe tinha um caderno onde eu às vezes lia algumas delas, passadas de mãe para filha e como eu lia tudo que me caía nas mãos, ficava viajando naquelas delícias. Lembro de uma coleção de livros de culinária da Tia Nair ou outra tia parecida, bem anos setenta, com os coquetéis de camarão, biscoitos e bolos e mais uma infinidade de petiscos.

Para mais da metade deles, faltavam os ingredientes. Era um tempero diferente, um legume desconhecido, frutas mais do que exóticas para quem naquela época, só conhecia de diferente as maçãs e uvas que aqui começavam a chegar, disponíveis em dias de doença, para fazer um agrado. 

Naquela época, como hoje ainda, gostava de presentear com biscoitos ou doces. Aos doze anos, aprendi a fazer um biscoito chamado casadinho, recheado com goiabada e desde então, vez por outra eu ia para a cozinha, produzir os famosos biscoitinhos. Nunca dava para quem queria e a receita perdeu-se com o tempo, embora fossem muito disputados na família. Era o casadinho que eu orgulhosamente levava para presentear os enfermos ou as mães de primeira viagem.

Uns anos depois, caí no movimento estudantil e aí não sobrava tempo para ser gourmet. Nos contentávamos com o macarrão com salsicha feito por uma amiga, para um bando de saudáveis esfomeados e muito leite com pão. Quando dava, íamos ao Casarão, livraria/restaurante/bar e nos deliciávamos com as comidas da Graça, até hoje bem vivas na memória: o contrafilé à parmegiana, feito com molho de tomate de verdade e a feijoada aos sábados, com uma farofinha crocante e banana frita de acompanhamento, além da couve sequinha, dos deuses. Se eu fechar os olhos, sou capaz até de encher a barriga com as lembranças.

E aí veio o primeiro filhote e comecei de verdade a cozinhar. Comida simples, só sabia fazer bem o arroz, aprendido com meu pai, com muito alho e soltinho, bife e maionese, batida numa tigela com gemas cruas e cozidas passadas em peneira e azeite misturado devagar. Umas gotas de limão, sal a gosto e legumes e verduras fresquinhos, cubinhos de maçã e umas passas, era comida de festa.

Mas, não perdi o gosto por ler receitas em revistas e livros de culinária, quando tinha chance. Havia tentado sem sucesso fazer uns pãezinhos de leite que foram muito bem até a primeira fermentação. Como eu não sabia que precisava fermentar de novo depois de modelado, arrumei as bolinhas na assadeira e forno nelas! É claro, viraram palanquetas especiais para qualquer baladeira e só faltei morrer de frustração.

Até que um dia, lá pelos idos de 1993, na banca de revistas em frente ao prédio da Caixa onde eu trabalhava, já no Ceará, botei o olho numa publicação sobre pães. Resolvi arriscar. Comprei a revista e em conversa com uma colega, descobri que ela, mineira, tinha uma empregada mãos de fada, que fazia um pão integral delicioso. Lembrem-se, o ano era 1993, nada desses empórios gourmet, farinhas especiais, orgânicos em todo  canto.

Até hoje guardo o papel com a receita, dividida por quatro: eu não queria perder todo o material em caso de erro, caro e difícil de achar. Comprei os ingredientes e assim que cheguei em casa comecei a fazer o pão, cruzando os dedos. Acho que lá pelas dez e meia da noite do mesmo dia, eu numa ansiedade louca pra ver se ia dar certo, coloquei o pão para assar. Lembro até hoje daquele cheiro maravilhoso tomando de conta da casa inteira. Não me contive e saí pulando pela sala, com umas fatias fumegantes na mão, cobertas de manteiga, derretendo e queimando a língua. Até hoje, faço a mesma receita de pão integral e já íntima, acrescento castanhas ou gergelim, açúcar mascavo ou mel, leite ou água. Só uma coisa não mudou: o sabor maravilhoso e o prazer de comer um pão feito em casa. Experimente você também!


A massa do pão, já fermentada... 

Pào integral com gergelim (opcional)

Ingredientes

1 1/4 de xícara de farinha de trigo branca (pode ir até 1 1/2 xícara, dependendo da umidade da farinha)
1 1/4 de xícara de farinha integral (pode ir até 1 1/2 xícara, dependendo da umidade da farinha)
1 colher de sopa rasa de fermento para pão
2 colheres de sopa de óleo vegetal (usei 1 colher de óleo de soja e 1 de gergelim, mas pode usar qualquer um)
2 colheres de sopa de mel (ou 02 colheres de sopa de açúcar mascavo, bem apertado na colher)
1 ovo
1 xícara de água morna (ou leite)
1/2 colher de sopa de sal marinho (se usar o refinado, um pouco menos)
Gergelim preto torrado, a gosto (opcional)
linhaça (opcional)
Nozes ou castanhas em pedaços pequenos, passas, pedacinhos de chocolate meio amargo (opcional)

Modo de Fazer

No liquidificador (ou se preferir, numa bacia média) coloque a xícara de água morna. Acrescente o fermento, o óleo, o mel e o ovo. Bata para misturar ou se for fazer na bacia, com um garfo. Deixe fermentar por uns quinze minutos, acrescente o sal e as farinhas, misturando devagar, até ficar uma massa maleável, que possa ser sovada. A depender do teor de umidade das farinhas, pode pegar um pouco menos ou um pouco mais. Se desejar, torre levemente o gergelim, espere esfriar um pouco e acrescente à massa. Podem ser utilizados os demais opcionais ou outros de sua preferência, juntos ou separados, em pequenas quantidades. Neste caso, usei apenas gergelim preto. deixe descansar até dobrar de volume na vasilha coberta com um pano de prato. Após, amasse ligeiramente e modele os pãe no formato que desejar. Arrume-os em assadeiras untadas e polvilhadas, espere crescer até dobrar de volume e coloque-os em forno já aquecido até que dourem ou até que ao dar uma batida no meio, o som saia oco. retire do forno e sempre coloque numa grade para esfriar, imediatamente, pois se ficarem na assadeira, vão juntar vapor e ficar moles na base. Deixe-os esfriar para guardá-los, mas só se você aguentar. Caso contrário, coma quentinho com manteiga, geléia ou requeijão.
Rende dois pães médios.  

domingo, 5 de agosto de 2012

DA COR DOS IPÊS


Tem coisa mais bonita do que esses ipês-amarelos espalhados pela cidade, na lente MARAVILHOSA da fotógrafa Val Fernandes?



A torta de limão siciliano, o limão e as raspas, ou zestes, feitas com aparelhinho próprio, como o da foto

                                         
Como vocês já perceberam, dieta é para mim um assunto recorrente. Até porque sinto que estou engrossando as estatísticas que demonstram o aumento do número de acreanos com excesso de peso. Segundo esta pesquisa, divulgada em abril pelo Ministério da Saúde, o percentual já chega a 48,1% da população, o que é preocupante. E, como já estou na reeducação alimentar, resolvi publicar esta torta de limão, que fiz tendo por base o ótimo blog www.acozinhacoletiva.blogspot.com.

Lá, bem explicada, ela está com o nome de Torta de Limão à Francesa. O dono da casa, ou do blog, é arquiteto. Nas horas vagas publica receitas deliciosas de tortas e bolos, com fotos bonitas e convidativas. Recentemente, entrou no facebook e lá você pode conferir algumas delas. Simpático, já conversamos pela rede social, que permite proximidade mesmo com as grandes distâncias. Fiz esta receita há algum tempo, logo que os limões sicilianos começaram a dar o ar da graça por aqui e aparecerem no supermercado.

O sabor mais suave do que os limões comuns e sua cor luminosa lembram os ipês-amarelos que nesta época do ano explodem pela cidade de Rio Branco, quando as chuvas já nos abandonam e o calor de 42 graus não permite grandes passeios. Sou apaixonada por ipês e os amarelos, particularmente, me fazem feliz com tanta beleza.

Como este post tem um pé nos dias de ontem, mas fala dos dias de hoje, resgato aqui uns pequenos versos, feitos sem pretensão, talvez para lembrar as manias de adolescente, de andar com caderno debaixo do braço, transformando os sonhos e os sentidos em linhas guardadas a sete chaves, depois esquecidas, deixadas pelo caminho e de vez em quando resgatadas.

Aos versos, pois:

"...Velhos versos escondidos
Olham por entre as frestas desse mundo novo
Escorregam fugidios
Embolorados olham
Querem luz
As frestas douradas prometem arco-irís e
os olhos se encantam com as novas cores."

Deixo o nome do blog e os agradecimentos ao Richie por receita tão saborosa, devorada pelos filhos e maridinho, para que vocês a pesquisem e conheçam o trabalho dele, que é ótimo!

Torta de Limão à Francesa


Bom apetite!

Agradecimento: à fotógrafa Val Fernandes, pela cessão de suas imagens, disponíveis no seu acervo no facebook