O manjar árabe, com pistaches e amêndoas... |
Passamos a entrada de ano na casa de meus pais, dois verdadeiros guerreiros, como diz meu marido e, cada um a seu modo, tão engraçados ao enfrentarem os problemas cotidianos do dia a dia que se eu fosse esperta, sentava do lado e saía anotando as pequenas e grandes lições de vida que eles nos apresentam. O que dizer, por exemplo, dos minutos que meu pai dedicou à limpeza de um garrafão de água que ele sabia não poder colocar no suporte?
Quando eu, incauta marinheira, o adverti disso, pedindo para que o jovem saudável do recinto pudesse acudi-lo (meu filho, pois os demais quarentões nem de longe estavam em condições) ele riu e apenas disse: “minha filha, era só a limpeza, eu já ia chamar meu neto...”. Eu nem precisava me antecipar, mas como os dois (pai e mãe) esquecem que são velhinhos, fazem coisas que até Deus duvida...
Minha mãe é uma formiguinha carpideira, daquelas que não sabem a hora de parar. Eu até esqueço que ela é mais velha do que eu pois, confesso, fico cansada antes. Os quase 77 anos não a impedem de dirigir o seu carrinho e junto com meu pai fazerem pequenos passeios e terem uma relativa independência. Meu pai, mesmo depois de um AVC que o deixou com algumas sequelas motoras, continua com a língua afiada e preside, ali na Seis de Agosto, o que ele chama de DIVA (na intimidade: Departamento de Informação da Vida Alheia...). Existe uma outra “entidade”: a FSD, Federação dos sem Dinheiro, integrada por lisos. Mas ele, radicalmente, faz questão de dizer que não a integra.
Esta é a maneira divertida que ele achou para prosear com os vizinhos, alguns tão antigos quanto eles na rua que me viu nascer (meus pais moram há aproximadamente 48 anos no mesmo lugar, mas minha mãe, filha do saudoso farmacêutico “Seu” Lopes, está na rua há mais ou menos 77 anos). Ele está sempre com um sorriso matreiro no rosto e uma piada pronta, disparando uma risada gostosa de quem olha para a vida sempre pelo lado do copo cheio.
É ele quem levanta cedo e faz o café, compra o pão e mesmo com certa dificuldade, caminha todos os dias pela rua, cumprimentando os passantes. Mamãe, fiel guardiã, está ali sempre a postos para levar o joguinho da Loto, da Sena... E puxar as orelhas dele, pois o danado é matreiro. Mesmo sem poder, descobrimos que escapava quase todos os dias para comer “quebes” e tomar tacacá pela vizinhança...
Os dois são ótimos cozinheiros, cada um na sua especialidade. Dele são o feijão com jabá e banana comprida, o rabo de galo (massa de pastel frita com goiabada dentro, mergulhada em calda de açúcar), os pastéis e o pirarucu no leite de coco, os maxixes peruanos recheados... (com a doença do meu pai, os charutinhos passaram a ser feitos pela minha mãe).
Da mamãe vem o lombo cheio (com farofa e ovo cozido) e as panquecas com molho de cenoura, o arroz de forno (camadas de arroz branco intercaladas com um refogado de banana e batata fritas, ervilhas, azeitonas, molho de tomate), o manjar branco com ameixas e a famosa torta de café, uma espécie de tiramisù mais docinho, amado até hoje na família.
Mas mamãe também escapole e é preciso vigilância para que não se embrenhe nos doces. Não resiste a um bolinho caseiro e ontem se acabou no pudim e no manjar árabe (m’hallabye), receita feita na base do experimento, mas que, humm, deu certo!
Manjar árabe (m’hallabye)
Ingredientes:
1 litro de leite
6 colheres de sopa de açúcar (ou a gosto)
4 a 5 colheres de sopa, rasas, de amido de milho
2 colheres de sopa de água de rosas (essência comprada em lojas de produtos árabes)
3 pedrinhas de misk (opcional, também comprada em loja de produtos árabes)
Pistaches levemente torrados, sem sal
Amêndoas cruas, sem pele
Geléia de damasco de boa qualidade, comprada pronta ou damascos cozidos com água e açúcar, processados até virar uma pasta
Modo de fazer:
Coloque o leite para ferver, junto com o açúcar e as pedrinhas de misk, se usar. Dissolva o amido de milho em água ou leite e acrescente cuidadosamente à panela, mexendo sempre. Ao engrossar, cozinhe por mais cinco minutos e acrescente a água de rosas. O ponto deve ser de um mingau grosso, que ao esfriar, ficará encorpado, mas não no ponto de corte.
Despeje em uma vasilha bonita e por cima, delicadamente, coloque a geléia de damasco. Enfeite com os pistaches e amêndoas. Espere esfriar e coloque em geladeira. Sirva bem gelado.
maixe peruano recheado,arroz de forno, manjar, pudim, banana frita, meu deu uma fome agora!
ResponderExcluirQuantas delícias, Patrycia!
A Patrycia cozinha maravilhas... Mas quando escreve sobre esse casal super-bacana, ela se supera nos temperos da emoção!
ResponderExcluirPaty, eu e mamae comecamos bem o primeiro dia do ano lendo, aqui na nossa varanda, eu em voz alta, esse teu texto lindo, carinhoso e delicioso! Feliz ano novo e muitas felicidades para voces. Mercedes e Flavia
ResponderExcluirPaty, comecamos bem o primeiro ano de 2012, lendo, juntas na varanda, eu e mamae, este teu artigo lindo, carinhoso e delicioso! bjs e feliz ano novo.Ceda e Flavia.
ResponderExcluirQuanto a Torta de Café, põe famosa nisso... ninguém faz igual a ela...
ResponderExcluirBjs
Tenham certeza a Torta de Café ninguém faz igual a ela.
ResponderExcluirDébora
Respostas da Patrycia:
ResponderExcluirMe perdoem, mas ainda estou apanhando para responder aos comentários no blog, então estou fazendo-os em blocos. Portanto, lá vai:
Querida Mercedes,
Seus comentários carinhosos são sempre um prazer e como diz o Marcos, você fez a alegria do meu dia. Penso que as coisas boas devem ser sempre festejadas e os meus pais são duas figuras muito especiais. Agradeço muito pela sua amizade e de sua família, todos muito queridos para nós. Que 2012 possa nos aproximar ainda mais e nos faça sempre festejar os pais que temos, tão presentes em nossas vidas, um grande abraço,
Patrycia
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Querida prima Débora,
Nossa família é toda cheia de exímias cozinheiras e demorei um tempo para ousar apresentar alguma coisa...(rsrsrsrsrs). Lembro que nas festas de Natal me era confiada a tarefa de fazer a maionese (caseira, claro) e a Mió (minha tia, mãe da Débora) tinha uma recomendação especial: todos os legumes e vegetais usados deveriam ser muito bem lavados e RIGOROSAMENTE enxugados para não atingir o ponto da maionese...e eu fazia no capricho! Um grande beijo no coração e obrigada,
Patrycia
Nossa, Patty, fiquei em ocionada ao ler todo o seu blog sobre culinária e de onde veio sua preferencia pelo assunto, principalmente n o que se refere ao "bolo de minha avó", de minha saudosa e querida mae.
ResponderExcluirOlá, anônimo (a),
ResponderExcluirMuito obrigada pelo comentário carinhoso, pois só pode ser de uma de minhas queridas tias, só não sei qual (rsrsrsrsrsrs...), por isso agradeço a todas, ótimas cozinheiras, cada qual mais prendada. Da Mió vem o pernil de porco, o frango com creme de milho verde e o carneiro recheado, da Branquinha o camarão ao Catupiry, da Néca o cozidão maravilhoso e da Vera baião de dois e um arrozinho cheio de verduras delicioso. Beijos, tias,
Patty
Amiga, fiquei emocionada em ler sobre seus pais. E com muita esperança na recuperação do meu pai. Abraços e saudades, lilian
ResponderExcluirQuerida amiga Lílian,
ResponderExcluirSaudades também, muito obrigada, o seu comentário me enche de alegria. Nossos pais serão sempre nossos melhores exemplos de luta e de superação. Cabe a nós aprender sempre com eles e nessa etapa da vida, adotá-los e cuidá-los sempre bem, com muito carinho.
Um beijão,
Patrycia
Você comentando sobre seus pais me fez lembrar muito dos meus avós que tem a mesma idade e que me criaram, é incrível como eles a cada dia nos ensinam uma lição diferente e como foi colocado no texto de forma primorosa a culinária sempre é algo encantado quando são produzido por eles.
ResponderExcluirAdorei o blog, o ruim é que fui ler em um horário que tava morrendo de fome aí fica difícil controlar o estômago hehehe.
Abraços Patrycia e continue nos deliciando como seus textos.
Querido Wesley,
ResponderExcluirFelizes de nós, que temos esses queridos por perto. Nossa cultura ocidental não tem por hábito respeitar a cultura dos mais velhos, esses saberes tão bonitos e que tanto nos encantam, mas é bom remar contra a maré, às vezes. Obrigada e um abração,
Patrycia
Querida Aldina,
ResponderExcluirMuito obrigada, ainda mais vindo de uma exímia cozinheira como você.
Um grande abraço,
Patrycia
Olá minha amiga! Parabens pelo seu aniversário. Que Deus lhe abençoe imensamente e cubra sua família de paz, amor e prosperidade neste ano de 2012.
ResponderExcluirObrigada por seu carinho e amizade.
Beijos
Raquel Lima
Queridos Tiago e Jackie
ResponderExcluirObrigada pelo carinho, vamos combinar um jantar especial e colocar todos os papos em dia! Um beijão para vocês,
Patrycia
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Querida Raquel,
Muito obrigada! Os bens mais preciosos, que são os amigos e a família, tem que estar sempre perto da gente, valeu!
Patrycia
Patrycia, francamente. Não sei o que é mais gostoso: o teu texto ou as receitas que descreve. Poooor favor, coloque esta receita da torta de café. Um abraço e bom trabalho na FEM.
ResponderExcluirQuerida Golby,
ResponderExcluirVindo de uma pessoa como você, esse comentário me deixa feliz e envaidecida. Muito obrigada. Publicarei a receita da torta brevemente, aguarde. Um abração para você,
Patrycia