Bolinho de arroz, para comer com pimenta... |
Cresci na Rua 06 de Agosto, andando de bicicleta e jogando futebol com os irmãos e na época da manga subindo cedinho no "meu" pé preferido, armada com uma faca de mesa na boca, para comer manga verde no galho mais alto da árvore. Soltei "papagaio" e fiz muito "cerol" com cola de sapateiro derretida onde se acrescentava caquinhos de lâmpada queimada quebradinha até virar pó. Depois era só esticar a linha e ir passando aquela mistura com cuidado para turbinar os papagaios. Mais politicamente incorreto, impossível, mas nós ainda não sabíamos disso.
Cresci pulando os quintais dos vizinhos para roubar goiaba madura ou marilana, fruta que nem mais se vê. De madrugada, meu pai fazia o café e trazia mingaus de tapioca e banana comprida do mercado, dentro de latas de leite em pó, bem polvilhadas de canela, um deleite. O Damião passava com seu tabuleiro, gritando alto e oferecendo o "pão de milho" feito de milho de verdade, ensopado de leite de castanha...
Na 06 de Agosto tinha o campo do "seu" Domingos, onde em algumas épocas do ano, todos iam para tirar galinha no bingo: nos pratos de papelão, lá estava a galinha assada, com farofa e azeitonas em volta, embrulhadas em papel celofane colorido, manjar dos deuses para os nossos olhos de criança. Nos finais de semana, vez por outra íamos para o Cine Recreio ou para os cinemas "do outro lado", assistir velhos filmes de faroeste, do Zorro ou do Tarzan.
Depois, foi o tempo do CNEC, já no Segundo Distrito, junto com as queridas irmãs Clemens, Juliana, Cláudia, Madalena e tantas outras, que acompanharam nossos passos com maestria. À hora do recreio, só faltávamos endoidar a irmã Juliana, miudinha, sem ter como acudir aquela quantidade de alunos famintos. Minha merenda era uma só: coca-cola e saltenha, soltando fumaça de tão quente, aquele creme grosso com frango e batata acalmando um pouco a fome adolescente.
Para quem não conhece a geografia local, para chegar ao CNEC, todos os dias passava eu margeando o rio, acompanhando várias lojas antigas, entre os quais a farmácia do meu avô Lopes e a mercearia do meu avô Raimundo, ali perto do Cine Recreio. Meu avô Raimundo nos enchia os bolsos de balas ao passarmos para tomar a benção, o que fazíamos sempre a caminho da escola, já de olho comprido nas guloseimas.
Meu avô Raimundo também tinha o Hotel Libanês, atrás da mercearia e de frente para o clube Tentamen, reduto histórico das famílias antigas de Rio Branco, onde aconteciam bailes de carnaval e onde minha mãe me levava para tardes de confete e serpentina, nos bailes infantis puxados à marchinhas e fantasias.
Olho para trás e vejo todas essas boas lembranças em um momento de grande felicidade, onde passo a trabalhar na Fundação de Cultura Elias Mansour, um prédio restaurado, ao lado do também restaurado Cine Teatro Recreio, de frente para o rio que me acompanhou por grande parte da minha vida. Revejo nesses espaços minha família, meus sonhos de criança e escuto o barulho do vento me falando de energia e renovação. Não poderia estar em lugar melhor. Não poderia estar em lugar mais aprazível. Não poderia estar mais feliz.
Bolinho caseiro de arroz
Ingredientes
Arroz cozido, de boa qualidade, com alho, macio
Uma pitada de sal, se necessário
Óleo para fritura
Molho de pimenta, para acompanhar
Modo de Fazer
Coloque o arroz cozido em uma tigela grande (o arroz deve estar macio. Caso utilize arroz feito no dia anterior, leve-o à panela, com um pouco de água e sal e cozinhe até ficar macio) e amasse-o com as mãos até que os grãos se desfaçam e se forme uma massa que pode ser moldada. Forme pequenos bolinhos e frite-os poucos por vez, em óleo quente e limpo. Retire-os e coloque-os em papel toalha. Sirva-os quentes, acompanhados de pimenta ou como complemento no almoço ou jantar. Se desejar, pode recheá-los antes de fritar com carne moída já pronta, pedaços de queijo ou outro recheio de sua preferência. Também pode acrescentar colorau ou cúrcuma à agua do cozimento, para dar cor. Bom apetite!