Dona Neuza e Marcos Afonso cantando "Marina"
Ando um bocadinho preguiçosa para postar aqui as receitinhas que vão se intrometendo devagar, ansiosas por um lugar ao sol. Esse não tem sido um ano muito fácil e embora haja muito a celebrar, aqui e ali tenho precisado de uma dose extra de ânimo e coragem, para enfrentar um ou outro problema e algumas perdas, entre as quais a de minha sogra, que se foi tão rápido que mal deu tempo de nos acostumarmos com a ideia.
Ela foi uma querida pessoa que me recebeu em sua família de uma maneira carinhosa e muito atenciosa. Me chamava às vezes de anjo mas era eu quem me sentia bem acolhida e protegida quando estava com ela. Em todos os almoços e comemorações de família, sempre havia para mim uma jarra de suco fresquinho, pois ela, apesar de adorar refrigerante, sabia que há muitos anos eu não mais o tomo.
Meu divertimento era ouvir a conversa dela e do filho mais velho, meu marido Marcos Afonso: ele puxava o mote, como se diz no Nordeste, sobre uma ou outra situação ou mesmo um parente distante...e aí ela atualizava o assunto ou a situação do parente, de maneira muito séria e ao mesmo tempo tão divertida, que eu ficava ali viajando naquela varanda cheia de plantas, na cadeira de balanço confortável, muitas vezes mergulhando naquelas memórias de tempos e pessoas que já se foram há muito e que aquelas conversas resgatavam...
Como é normal de acontecer, os outros irmãos faziam muita troça a cada vez que o mais velho ia visitá-la, o que nem era tão frequente. Diziam que a comida ficava especial e o melhor prato era sempre o dele. Que ela nem dormia, para ficar tudo a contento e que ultimamente, quando não mais cozinhava, só faltava deixar sua auxiliar sem juízo para que tudo saísse perfeito. E meu marido, é claro, fazia de conta que nem era com ele, mas por dentro explodia de orgulho com a atenção.
Com ela aprendi a fazer a casquinha de siri, deliciosa. E também uma vez me deu uma aula de charutos (prato muito popular entre nós), para serem feitos do jeito que o filho gostava. Sua sopa era maravilhosa, com feijão batido, carne cozida bem molinha, muita couve e temperos. Mas o seu prato de resistência era mesmo o famoso frango no tucupi. Nos dias de festa e de chegada da filha mais velha que há muitos anos mora fora do Estado, era o prato que nunca nos cansávamos de comer, sempre arrumado em grandes travessas. A sobremesa, quase sempre um belo pudim de leite ou um creme de cupuaçu, era bem disputada.
Numa noite, recebemos um convite para comer mungunzá (mingau de milho branco). Delicioso, chegamos com a mesa já arrumada e uma linda panela repleta do delicioso mingau. Mas o mais engraçado foi ouvir dos meus cunhados Neuma e Riva a verdadeira epopéia para a confecção do prato: prova daqui, prova dali, após inúmeros testes não havia dado certo irmos no dia combinado. E ela, é claro, mandou fazer tudo de novo, com a supervisão atenta, para que o filho mais velho pudesse degustar tudo fresquinho.
Eu dizia que tinha que aprender com ela, pois na nossa casa, muitas vezes os convidados chegam na hora da finalização dos pratos, quando não participam do preparo ou acompanham de perto os movimentos finais. Estou sempre afobada, correndo, talvez fruto de um planejamento distante anos-luz do dela. Mas, em sua casa, nunca chegamos sem que a comida estivesse distribuindo cheiros tentadores, fumegante nas panelas ou já arrumada na mesa e a sobremesa, quase sempre um doce gelado, apenas aguardasse o momento de ser servida.
Não postarei hoje nenhum prato da dona Neuza, mas prometo que resgatarei com as cunhadas o belo frango no tucupi, para futuramente apresentá-lo por aqui, depois de testar minha competência para fazê-lo. E desejo a ela, onde estiver, muita paz. Nós que ficamos, entregamos a ela todo o nosso afeto e saudade.
Essas berinjelinhas em conserva não tem uma receita fixa. Dependem um pouco da sensibilidade do paladar de quem vai prepará-las. As indicações são gerais e as quantidades podem ser adaptadas. O resultado final é muito saboroso e a conserva pode ser servida como acompanhamento, dentro do pão, na bruschetta, enfim, use a sua imaginação. Se sobrar, coloque em um belo vidro com mais azeite e dê para aquele amigo ou amiga queridos, eles vão adorar!
Conserva simples de berinjelinhas
Ingredientes
Berinjelinhas a gosto (na falta, use berinjelas de tamanho normal, cortadas em quartos ou metades)
Sal a gosto
Azeite a gosto
Vinagre de maçã, a gosto
Alho picadinho a gosto
Castanhas do Brasil picadas
Mel a gosto
Passas (opcional)
Pimenta rosa (opcional)
Modo de fazer
Lave todas as berinjelinhas, mantendo o cabinho. Faça um corte ao comprido, sem separar as metades. Polvilhe bastante sal entre as metades e deixe-as todas em peneira para escorrer, uns 15 a 20 minutos. Após esse tempo, lave-as para retirar o excesso de sal e enxugue-as. Numa assadeira grande, que as caiba sem empilhar (se necessário, use mais de uma), coloque um pouco de azeite. Arrume as berinjelinhas, abra ligeiramente as metades, coloque um pouquinho do alho em cada uma e quando acabar, regue-as com bastante azeite. Respingue-as com vinagre de maçã, de maneira que cada uma receba um pouco. Cubra as assadeiras com papel alumínio, tendo o cuidado de deixar uma abertura. Elas não devem cozinhar e sim assar bem lentamente. Leve a assadeira (ou mais de uma, se usar) ao forno baixo e de tempos em tempos, dê uma olhada e uma mexida nas berinjelas para que assem por igual. Se necessário, acrescente um pouco mais de azeite e um tico de água, só para não grudarem na assadeira. Também coloque um pouquinho mais de vinagre. Quando estiverem quase prontas, coloque por cima e entre as metades as castanhas bem picadas. Se desejar, acrescente passas a gosto e pimenta rosa. Cubra novamente e deixe até que fiquem bem macias, porém firmes. A assadeira deve estar com alguns pedacinhos meio caramelizados. Retire as berinjelinhas para a vasilha, tigela ou pote em que vai acondicionar. Prove e verifique a acidez, para colocar um pouco de mel, mais sal se precisar, um tico de vinagre e mais azeite. Aqui, o que vale é seu paladar.
Elas estão prontas para serem servidas ou podem descansar na geladeira até serem servidas. É desejável deixá-las com um molhinho, para que não ressequem (a mistura de mel, azeite e vinagre). Deliciosas!
Esse post é dedicado à memória de dona Neuza, minha querida sogra.
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Acremel - Cooperativa dos Criadores de Abelhas do Estado do Acre