segunda-feira, 28 de maio de 2012

É PRECISO SEMPRE SONHAR




A sobremesa...



Meu atual trabalho me permite grandes alegrias. Estou perto de pessoas sérias, que amam cultura e tenho convívio diário com artistas, produtores culturais, escritores, pintores e representantes da legítima cultura popular. Um alento para as milhares de obrigações diárias. E na semana passada, recebemos em visita na Fundação de Cultura Elias Mansour um príncipe das artes, o pintor e engenheiro Sansão Pereira.

Começamos a conversar, com a ajuda do amigo e fiel escudeiro Benevides, além da presença de seu ajudante particular e do diretor da Biblioteca da Floresta, Marcos Afonso. Sorriso nos lábios, munido da boneca do seu próximo livro (uma espécie de primeira versão), a viagem começou. Com fotos de muitos de seus trabalhos, espalhados pelo mundo, agrupados por assunto, mergulhamos um pouco nesse universo fascinante.

Aos quase 93 anos, Sansão Pereira continua encantador como deve ter sido na juventude. Memória perfeita, esse artista que saiu do Acre ainda criança para morar em Belém e de lá foi para os Estados Unidos estudar, revelou marotamente que sempre gostou de arte, museus, porém nunca havia desenhado ou pintado até casualmente deparar-se com uma escola de Artes nos Estados Unidos, onde estudava engenharia.

Curioso, resolveu entrar na escola e de lá só saiu após seis anos de estudos, ao mesmo tempo em que continuava com a Engenharia. Construiu usinas por esse Brasil todo, além do Acre. Mas na pintura ganhou prêmios e reconhecimento, além de participações em salões importantes. É de Sansão a linda obra na Catedral de Rio Branco, que encanta a todos que tem a oportunidade de visitá-la, bem como é de sua autoria o maravilhoso painel do Palácio Rio Branco. Esse painel foi pintado por partes e o artista só as viu reunidas quando de sua colocação no Palácio, o que demonstra o seu domínio da técnica. 

Ao passar as páginas do livro, iam surgindo histórias e momentos de sua vida, pessoas ou acontecimentos que o levaram a pintar este ou aquele quadro. Mas, além das cores belíssimas e das lembranças por trás de cada uma daquelas obras, dois momentos me emocionaram em particular: quando ele nos disse que no dia 11 de Junho próximo completará 93 anos e que "...se Deus quiser e ele há de querer, estou me preparando para chegar aos 100 anos".

Pensei na hora no tamanho dos meus problemas e vi a dimensão do que acabara de escutar. Um homem de quase 93 anos, que trabalha todos os dias no seu atelier a partir das seis horas da manhã, sonhando com os 100 anos como se fosse os 21! E que olha para a vida com olhos de criança sapeca que desconhece qualquer limitação...
Cheio de planos e ideias como um adolescente ao pensar na vida...Fiquei muda, escutando com todo o respeito. 

O outro aconteceu quando no meio da conversa, ao olhar no livro um quadro relacionado ao Flamengo, time de seu coração, eu como boa vascaína, fiz uma careta, mas amenizei: "Bom, meu filho mais novo é flamenguista, é o jeito conviver com isso, coisa e tal", e aí ele deu um largo sorriso.

Benevides, Sansão Pereira, eu e Marcos Afonso, tendo ao fundo um quadro do Danilo de S'Acre, outro artista maravilhoso, elogiado na hora pelo Sansão

Disse: "Escute, diga isto ao seu filho, pois você não vai esquecer: se você é Flamengo, Deus abençoa, mas se você não é Flamengo, Deus perdoa!". Começamos a rir de tanta paixão. Portanto, querido Sansão, lição de vida e de energia, muitas felicidades neste 11 de Junho que se aproxima. No dia seguinte, meu pai, outro bravo guerreiro, completará 71 primaveras. Temos que aprender com os fortes a sonhar sempre!

E, para não perder a viagem, peguei meu irmão e sobrinho e fomos hoje cedo ao Mercado.
Teve surubim frito e feijão com tudo dentro para o almoço. De sobremesa, açaí batido apenas com açúcar (eu sou antiga) e uma bela porção de farinha de tapioca para rebater. Sirva-se...


Feijão com tudo dentro

Ingredientes

500g de feijão verde
Quiabo, macaxeira, couve, jerimum, maxixe e mais algum legume de preferência, a gosto
Coentro, cebolinha, alho, chicória, sal, a gosto
Pimenta murupi, ou na falta dela, outra de sua preferência
Queijo de coalho ou da região, fresco, cortado em bastões, a gosto

Modo de Fazer

Limpe o feijão e coloque-o a ferver com um pouco de sal. Limpe os legumes e verduras que vai utilizar e deixe-os cortados, reservados. Acrescente ao cozimento do feijão alho amassado a gosto. (Se desejar, pode passá-lo em um pouco de azeite, antes de colocá-lo no feijão). Quanto estiver quase cozido, acrescente as folhas de couve, a macaxeira e o maxixe. Bem próximo de ficar pronto, acrescente o jerimum, o quiabo e o queijo. Ajuste o sal. Sirva com uma bela pimenta murupi cortadinha num pouquinho do caldo do feijão, arroz branco e surubim ou outro peixe de sua preferência fritinho na hora.
Ao terminar, tome um belo copo de açaí com tapioca e procure a rede mais próxima, acredite, você vai precisar.

domingo, 6 de maio de 2012

NO PARQUE DE DIVERSÕES...

O Mercado Novo, em Rio Branco...

Cozinheira que se preza fica mais do que feliz quando vai ao Mercado. As frutas da estação, os vendedores já conhecidos, pimentas vermelhas, verdes e amarelas, a macaxeira descascada em baldes com água fria para não escurecer, a castanha fresquinha... são conforto para a alma.

Para quem chega cedo, tomar um mingau de banana com mungunzá ou tapioca é uma perdição. O caldo quentinho, levemente engrossado, polvilhado com canela, faz qualquer sofrimento perder a razão de ser.  Compradores chegam aos montes na barraca da dona Francisca, que há mais de vinte anos produz essas e outras delícias. Agora ela trabalha apenas nos finais de semana: aos sábados leva quatro e aos domingos, oito panelões de mingau , com os quais criou três filhas. Além de tomar ali mesmo, os compradores trazem vasilhas ou latas de leite em pó secas para levar aos que ficaram esperando a iguaria em casa.


A dona Francisca e os panelões de mingau...


O pão de milho (cuscuz no Nordeste) vem dividido nos saquinhos, em talhadas, onde ao gosto do freguês recebem um banho de leite de coco ou castanha ali na hora e são então fechados e entregues. Junto com ele, vão pés-de-moleque (uma espécie de bolo) assados na folha de bananeira, feitos com macaxeira, cravo, diferentemente dos que se comem no resto do país, mas tão gostosos quanto.
Dependendo da época, você vai encontrar abacaxis muito doces, açaí ou banana comprida aos montes. Pupunhas de casca amarela e vermelha, cajaranas e ingás.
Pato e galinha caipiras, tem na dona Dorinha. O surubim e o filhote, cortados no capricho, estão na banca da Socorro e do Rui. O porco e o carneiro são especiais na banca do seu João, que um dia me ligou às seis da manhã e disparou: “É a mulher do Carneiro?’’ Ao que eu, tonta de sono, respondi que o nome do marido era outro, ouvi a pergunta, desta vez mais explicada: “Mas não foi a senhora que me encomendou um carneiro?” “Foi, seu João, só não achava que o bicho ia estar pronto tão cedo...”
Ficamos amigos desde uma vez em que eu, entendendo muito pouco de carneiros e bodes, fui por lá com  a incumbência de comprar alguns quilos de carneiro. Já era tarde e depois de perguntar aqui e ali, me chega aquele senhor de cara séria e se dispõe a me levar no que segundo ele, àquela hora, seria minha única salvação: um vendedor da confiança dele, carne fresca, de primeira.

O seu João atendendo à freguesia...
Comprei quase dez quilos do tal carneiro. Foi comido assado, cozido, elogiado e repetido. O cozinheiro chefe foi o Meirelles, nosso querido indigenista e eu arrisquei um cozido em panela de ferro. Passados alguns dias voltei ao Mercado e escuto aquela voz forte a perguntar: “E então, dona, o bode “tava” bom?”  Comecei a rir sozinha do logro e desde então quando quero porco ou carneiro, é para lá que eu  vou, não sem antes recomendar ao seu João que não me enrole.


A Socorro, pesando o peixe, com o Rui ao fundo...





No mercado, se tiver quem carregue as sacolas, não me controlo. Meus filhos dizem assim: “A mãe vai aplicar o velho golpe...” ou seja, dizer que vou comprar apenas umas coisinhas e sair de lá carregada...
Fico tão encantada com aquela explosão de cores e cheiros que meu marido muitas vezes vai comigo só pelo divertimento de me ver passar de banca em banca escolhendo frutas e pimentas e verduras e a goma para tapioca, o jerimum para o doce e o pão, o queijo para comer fritinho, as couves do charuto e por aí vai...
No próximo sábado ou domingo, estique as canelas, vá ao Mercado!