domingo, 2 de novembro de 2014

QUERIDOS QUE SE FORAM






Momentos diferentes do bolo: já cortado, pronto para cortar, uma fatia servida e com o recheio colocado, aguardando a cobertura...uma delícia com um café bem forte!


Passei uns bons dias sem escrever nada desde a última postagem neste blog. Caí de cabeça na recente campanha eleitoral e de noite, ao chegar em casa, mais atraente do que a cama não havia. Aqui e ali, para não perder o costume, saía um bolinho, mas foi só. Em contrapartida, conheci fantásticas pessoas, quintais maravilhosos, cheios de plantas e ervas e flores, chupei mangas muito doces e até mesmo colhi camu camu (frutinha vermelha, mais ácida do que a acerola) para uma geleia, depois de proveitosa conversa com a proprietária de pés carregadinhos de frutinhas tão vermelhas quanto azedas, riquíssimas em vitamina c.

Os ramais aqui do nosso Estado, tão próximos à cidade, alguns deles, que até parecem fazer parte da paisagem urbana, estão hoje com intervenções públicas que lhes garantem acessibilidade e dignidade para seus moradores. Ainda há muito a fazer, mas é visível a melhoria para quem mora nas áreas rurais bem próximas. Vê-se de chácaras para os finais de semana até, em sua maior parte, moradias mais humildes de trabalhadores da cidade, que apesar da distância, começam a ter sua qualidade de vida aumentada.

E tome mangueiras carregadas, cachos de banana se formando, cupuaçus e jacas enormes, laranjas, limões, ingás e pés de acerola e goiaba, pés de abacaxi. Pequenas hortinhas de coentro e cebolinha, hortelã para os chás, galinhas e ovos, couves para os charutos e mais uma infinidade de plantinhas, produção de queijos e polpas de frutas e uma vida que corre em paralelo com a rodovia, tão perto que de lá não se imagina direito esta outra vida que aqui se desenrola mais devagar, como uma grande teia que vai se estendendo a perder de vista.

Fui para a Vila Acre e não imaginava sua imensidão. Ramais do Castanheira, da Garapeira, do Brindeiro, do Moreira, Bom Jesus, Vila da Amizade e tantos outros, aumentaram o número de amigos. As boas conversas sobre política me fizeram ver o quanto já avançamos e o quanto precisamos avançar mais ainda. Mas me deram também muito orgulho, por ver que de fato, já existe um embrião de dignidade formada e o entendimento das pessoas de que as políticas públicas precisam ser destinadas para todos. E elas começam a se ver nessas políticas.

Passar pelos ramais e conversar com as pessoas, algumas delas já bem idosas, me fizeram ter muita saudade dos meus queridos que já se foram, como meus avós, paternos e maternos. Pessoas fortes e trabalhadoras, empreendedores, de cada um guardo exemplos de vida. Os avós paternos tinham um pequeno hotel e uma mercearia, mas meu avô também fazia sorvetes e pães, o que só fui descobrir depois que ele já tinha partido. Minha avó dava pensão lá no hotel e lembro sempre de suas galinhas para bingo, assadas e arrumadas em um prato de papelão com farofa e azeitonas, dentro de uma folha imensa de papel celofane colorido, que deixava tudo com cara de festa de Natal.

Meu avô materno teve uma das primeiras, se não a primeira farmácia da cidade e ainda lembro de sua produção de violeta genciana e mercúrio cromo, em pequenos vidrinhos, arrumados nas prateleiras. Segundo minha mãe, pois disso não me lembro, ele também produzia pomadas e unguentos, além de iodo. Minha avó era exímia cozinheira, cabeleireira, bordava, fazia tricô e crochê, era uma empreendedora nata, além de adorar política e fazer campanha para seus candidatos da época, sempre de forma intensa e participativa. 

Pensando bem, acho que já sei a quem puxei, com esse amor pela cozinha, pela política, pelos pães e massas...acho que guardo um pouco de cada avó e avô dentro de mim e isso me consola na saudade deles, apesar de não ter tido uma convivência tão grande quanto gostaria. Mesmo assim, ainda aproveitei um pouco da companhia deles e guardo boas lembranças. Nesse dia de hoje, em que se homenageia os que já se foram, gostaria de prestar minha homenagem e minha saudade aos familiares e amigos queridos que já se encontram em outro patamar e em nome da vó Mundiquinha e de sua cobertura de castanha, dizer que eles sempre continuarão bem vivos em nossos corações.

Lembro do dia particular em que aprendi, de olho, a fazer essa cobertura deliciosa para bolo. Era ainda bem pequena e nesse dia, aniversário de alguém, vovó nos visitava. Não havia batedeira e os bolos eram batidos à mão, coisa que eu sempre observava com o maior fascínio. Então, fui chamada para ajudar a fazer a cobertura. Lembro demais da emoção de segurar uma bacia de metal, onde se acrescentaram os ingredientes e depois a mágica combinação de castanha torrada e café...cujo cheiro sempre me remeterá a esse dia e a essa cozinha cheia de pessoas e cheiros e movimento. Portanto, mãos à obra!!




Minha mãe com minha avó Mundiquinha e abaixo, foto do meu avô Anibal Lopes. Não tenho, infelizmente, fotos dos avós Raimundo e Maria aqui em casa. Tratamento das fotos acima feito pelo fotógrafo Sérgio polignano


Cobertura de castanha e café da Vó Mundiquinha

Ingredientes

Para o bolo

Pode ser usada qualquer receita de bolo amanteigado, o que eu prefiro, ou mesmo um pão de ló, desde que umedecido com uma boa calda. (Você também pode usar essa receita: veja em http://mesanafloresta.blogspot.com.br/2011/12/o-bolo-da-minha-avo.html)

Para o recheio 

Pode ser usado o mesmo que na cobertura ou um doce de leite escuro e pastoso, como aqui, onde ele foi misturado com um pouco de creme de leite e essência caseira de baunilha.

Para a cobertura

1/2 xícara e 01 colher de sopa de manteiga em temperatura ambiente
01 xícara de açúcar refinado
01 xícara rasa de castanha do Brasil assada (medida após passar a castanha no liquidificador, sem deixar reduzir a pó, devem sobrar alguns pedacinhos)
04 colheres de sopa de café preparado, bem forte (talvez seja necessário mais uma colher, depende do gosto pessoal)
1/4 de xícara de castanha do Brasil assada e liquidificada, para polvilhar por cima do bolo (opcional)

Modo de fazer


Numa tigela, bata bem a manteiga e o açúcar, como se fosse para bolo. Acrescente a castanha aos poucos, alternando com o café. Prove e se necessário, acrescente mais um pouquinho de café. Aplique no bolo já frio e recheado e se desejar, salpique com a castanha assada e passada no liquidificador.

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Em memória dos avós paternos Raimundo e Maria e dos avós maternos Aníbal e Mundiquinha, como também tios e primos que não mais estão conosco

Um comentário:

  1. Oi, Antonio,

    Muito obrigada pelas carinhosas palavras. Visitei o seu blog, que achei bem delicado. Passe sempre por aqui, seus comentários me fizeram muito feliz, um grande abraço,
    Patrycia

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